Cinco locomotivas voltam à CP, futuro em aberto depende das carruagens e da procura

Quando a Medway foi criada, a CP emprestou cinco locomotivas elétricas, mas regressarão à empresa pública ferroviária. A primeira regressou este mês e as restantes quatro chegam até abril do próximo ano, ainda sem destino, o que vai depender da procura e das carruagens disponíveis. Há dez "Arco" por recuperar.

Gonçalo Costa Martins - Antena 1 /
Locomotiva da série 5600 Foto de arquivo: Gonçalo Costa Martins - Antena 1

“A Medway iniciou recentemente a devolução de cinco locomotivas da série 5600 à CP, decorrente do término do contrato de aluguer estabelecido em 2016”, explica a operadora de mercadorias à Antena 1. Fonte oficial da transportadora (a antiga CP Carga, privatizada em 2016) afirma que este mês já foi devolvida a unidade 5628, faltando as restantes quatro que deverão ser entregues até abril de 2026 - altura em que termina o contrato que durará 10 anos.

Já a Comboios de Portugal (CP) indica que a locomotiva que chegou primeiro, a 5628, estará envolvida em ensaios do TrainSolutions Portugal. É um projeto que pretende construir “três tipos de carruagens de passageiros e produzir um inovador e altamente necessário e procurado ‘comboio português’”, é explicado na página da iniciativa.

Com um investimento de quase 56 milhões de euros, é financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e suportado por um consórcio nacional de 13 entidades, uma delas a CP.

Quanto às restantes quatro locomotivas, a CP diz à Antena 1 que “estão ainda a ser analisados possíveis cenários de afetação do material circulante”. Isto vai depender da “evolução da procura e de ajustes que se mostrem necessários”, tendo em conta os trabalhos de modernização da infraestrutura, pelo que conclui: “é prematuro divulgar-se qual a solução que será adotada pela CP”.

As locomotivas da série 5600 que a CP tem são usadas nos serviços Intercidades. Foram 30 as locomotivas que entraram ao serviço na década 90, sendo que, após acidentes que retiraram algumas de circulação - uma delas foi no acidente de Alpedrinha, em junho -, a maioria continua a funcionar.

Havia também, dentro do total de 30, quatro que foram vendidas à Medway e cinco emprestadas, este último lote que regressa então à CP.

O Ministério das Infraestruturas já tinha revelado que o Passe Ferroviário Verde ultrapassou em setembro os 500 mil utilizadores, sendo que nos primeiros seis meses do ano a procura pelo Intercidades subiu 48% em relação ao mesmo período do ano passado, alcançando cerca de 2,5 milhões de passageiros. Já nos comboios regionais cresceu 133% para 15,3 milhões de passageiros.

Do lado da Medway, as cinco locomotivas usadas em serviços de transporte de mercadorias estão a ser substituídas por outras. São locomotivas elétricas Stadler Euro6000, compradas num pacote de investimento de 93 milhões de euros.  Comboio da Medway CP ainda tem 10 carruagens Arco para recuperar
Perante a pressão nos Intercidades e nos Regionais, as locomotivas podem reforçar reservas ou horários? Eis a questão que terá de ser ponderada pela CP, considera a coordenadora da Comissão de Trabalhadores da empresa.

“Podem servir de reserva aos comboios que neste momento se realizam - aos horários que temos ao serviço - ou pode-se dar o caso de poder adicionar comboios novos, ou seja, novos horários”, explica Catarina Cardoso à rádio pública.

A dirigente, que trabalha na área da manutenção de comboios, realça que as locomotivas nunca entrariam ao serviço quando chegassem. “Não é uma disponibilidade imediata”, aponta, pelo que pode demorar “alguns meses” para adaptar as locomotivas do serviço de mercadorias que faziam para o de passageiros.

As locomotivas 5600 só podem circular em linhas eletrificadas, diz Catarina Cardoso, que realça também que poderiam fazer comboios regionais “se a CP decidir retomar a oferta que já teve de comboios regionais com máquina e carruagens”. Vista traseira de um comboio da CP no Entroncamento, em que é visível uma carruagem

Em todo o caso, para reforçar horários, é preciso olhar para o parque de carruagens que está disponível. Além de carruagens que estejam encostadas e que podem eventualmente ser recuperadas, a CP adquiriu 36 carruagens Arco à operadora espanhola Renfe em 2020.

Do total, a CP confirma à Antena 1 que três estão a ser recuperadas três carruagens na oficina de Guifões, em Matosinhos, havendo ainda mais sete a aguardar intervenção. 
449, o total de unidades ativas da CP
É à boleia da recuperação de carruagens que a CP tem conseguido aumentar o total de unidades do seu parque ativo, ou seja, que está disponível para circulação.

Nos últimos cinco anos, a CP já recuperou 50 carruagens na oficina de Guifões, anunciou a empresa em janeiro deste ano. Em 2024, havia 156 carruagens, quando em 2020 eram 118.

Na informação enviada à Antena 1 durante este mês de outubro, a CP afirma que tem um total de 449 unidades, distribuídas entre 236 automotoras, 162 carruagens e 51 locomotivas.

Há uma subida do total comparando com o final do ano passado (444), em que se tinha registado uma ligeira queda em relação há dois anos (446). Certo é que as 449 unidades atuais são números que podem mexer ainda este ano.

Além das carruagens Arco que são a ser recuperadas, a CP espera que ainda em 2025 chegue o primeiro de 22 comboios regionais da Stadler encomendados em 2020, embora este primeiro só seja homologado no próximo ano. As unidades destinam-se essencialmente à linha do Oeste e do Alentejo.

Mas o maior salto que a CP sentirá no material circulante só é esperado a partir de 2029
, quando começarem a chegar os 117 comboios adjudicados à Alstom/DST após o processo ter ficado dois anos paralisado nos tribunais. Foi ainda acionada uma compra extra de mais 36 automotoras elétricas. Locomotiva 5600 (na linha da esquerda) e automotora 2240 (direita) na estação do Entroncamento 

Do grupo de 117, haverá 62 comboios urbanos (34 para a Linha de Cascais, 16 para Sintra, Azambuja e Sado e 12 para o Porto), mais 55 para serviços regionais (vão permitir a reforma de automotoras 2240, usadas também em socorro de faltas de material).

Foi o caso, por exemplo, da viagem Lisboa - Coimbra B em alguns dias desde agosto, como a Antena 1 avançou, em que a necessidade de manutenção de locomotivas obrigava à troca pelas tais automotoras, mas isso acabou desde a reabertura integral da Linha da Beira Alta. As ligações entre Lisboa Santa Apolónia e Guarda (com passagem por Coimbra) voltaram a ser feitas com uma locomotiva 5600, duas carruagens modernizadas de segunda classe e uma carruagem bar.

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