China e Brasil abandonam dólar nas transações bilaterais e adotam yuan e real
Pequim e Brasília vão passar a realizar as suas trocas comerciais sem o intermédio da moeda norte-americana, usando as próprias divisas, anunciou Brasília. É uma vitória chinesa contra a hegemonia do dólar nas transações internacionais.
A China é já o maior parceiro comercial do Brasil, com trocas avaliadas em 150.5 mil milhões de dólares no ano transato. Os investimentos diretos da China no Brasil orçaram os 70 mil milhões de dólares. O acordo deverá abrir ainda os mercados chineses aos produtos brasileiros sobretudo no setor agroalimentar.
Para a China, a vantagem de comerciar na própria moeda com a maior economia da América do Sul é reduzir a dependência do dólar, ao mesmo tempo que aumenta a circulação do yuan (RMB), uma das suas orientações de política externa e financeira.
O acordo anunciado esta quarta-feira prevê a instalação no Brasil de uma "clearing house", uma instituição com liquidez suficiente em moeda chinesa de forma que um empresário receba em yuan (RMB) e faça de imediato a troca pela própria moeda. No caso do Brasil, o real.
Conforme o acordo firmado entre Pequim e Brasília em janeiro, o banco designado pelo banco central chinês para funcionar como "clearing house" no Brasil será o ICBC - Industrial and Commercial Bank of China and Bank of Communications BBM.
O acordo foi anunciado esta quarta-feira na conclusão do Fórum empresarial Brasil-China que teve lugar em Pequim e onde era inicialmente esperado o Presidente brasileiro no âmbito de uma visita de Estado. Lula da Silva adiou a visita à China indefinidamente depois de lhe ter sido diagnosticada uma pneumonia.
Rosito sublinhou que os impostos sobre transações de câmbio são muito questionados por parceiros chineses no Brasil. O comércio em moeda local poderia assim contribuir para o incremento das trocas. Também as taxas de câmbio para a divisa chinesa, controladas pelo banco central chinês, variam menos e concedem mais previsibilidade às empresas.
O estabelecimento da "clearing house" é somente "um primeiro passo" até pelas próprias limitações que estas instituições têm, acrescentou a secretária, enquanto mais uma opção para os negócios e sendo que a ideia não é tornar o sistema obrigatório.
No mesmo Fórum, a vice-ministra de Comércio da China, Guo Tingting, saudou o estabelecimento da "clearing house" para o uso do yuan (RBM), referindo que China e Brasil são parceiros estratégicos e têm um relacionamento "modelo".
Um empresário brasileiro afirmou à Exame brasileira que o acordo poderá vir a ser interessante se o não envolvimento do dólar permitir o acesso a linhas de financiamento para exportação em bancos chineses, com taxas de juro mais baixas.
Expansão do yuan (RMB)
Um relatório do Banco do Povo da China, o banco central chinês, indica que no fim de 2021 existiam 27 bancos de "clearing" do yuan (RMB) fora da China continental, em 25 países e regiões, incluindo Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Luxemburgo, Suíça, Catar, Taiwan, Coreia do Sul, Singapura e Austrália.
Na América do Sul, o Chile e a Argentina possuem acordos similares. Os próprios EUA possuem uma "clearing house" para a troca direta de moeda, indicada pela China.