China anuncia transferência tecnológica e "tarifas zero" em apoio ao "Sul Global"

por Graça Andrade Ramos - RTP
O presidente do Brasil, Lula da Silva, saúda o homólogo chinês, Xi Jinping, no acolhimento da Cimeira do G20 no Rio de Janeiro, Brasil a 18 de novembro de 2024 Presidência do Brasil - Reuters

Abertura "unilateral", transferência de tecnologia e de ciência chinesas e zero tarifas em importações, tudo a favor dos países em desenvolvimento do "Sul Global". São algumas das iniciativas que a China vai adotar, anunciadas por Xi Jinping esta segunda-feira, na Cimeira do G20, que arrancou no Rio de Janeiro, Brasil.

"Hoje, quero apresentar as oito ações da China para o desenvolvimento", anunciou o presidente chinês.

O objetivo oficial é apoiar o desenvolvimento global e a construção de um mundo mais "inclusivo", que abranja todo o planeta, sem deixar "os ricos mais ricos e os pobres mais pobres" e sem prejudicar o ambiente.

Para "construir este mundo", Xi Jinping defendeu uma "aposta contínua no multilateralismo" e esforços para uma "harmonia entre o homem e a natureza", o que será possível "canalizando mais recursos para campos como o comércio, o investimento e a cooperação no desenvolvimento e o reforço das instituições de desenvolvimento".

Uma das ações anunciadas é a transferência tecnológica e científica para os países subdesenvolvidos, ao abrigo da Iniciativa de Cooperação Internacional Ciência Aberta, estabelecida com o Brasil, a África do Sul e a União Africana.

Pequim vai por isso incrementar os seus mecanismos institucionais de abertura ao exterior ao mais alto nível, alargando-os de forma a abranger os países menos desenvolvidos do "Sul Global".

Defendendo as conquistas da sua liderança, nomeadamente ter "tirado 800 milhões de pessoas da pobreza", o presidente chinês prometeu fazer tudo para que o mesmo suceda no "Sul Global".

"Uma flor não faz a primavera", afirmou. "A China quer ver centenas de flores a florir em pleno e estará lado a lado na companhia de países em desenvolvimento rumo à modernização".
O que pretende Xi
Esta abertura ao mais alto nível da China, "escancarando unilateralmente as nossas portas aos países menos desenvolvidos", como referiu Xi Jinping, irá refletir-se ainda nas importações chinesas. "Anunciamos a decisão de prover todos estes países que tenham relações diplomáticas com a China, com tratamento de tarifa zero para linhas tarifárias de 100 por cento", referiu. "De agora até 2030, as importações chinesas de outros países em desenvolvimento deverão ultrapassar os oito quintiliões de dólares", antecipou o presidente chinês.

O anúncio contrasta com a estratégia económica do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu fazer regressar as tarifas sobre as importações, nomeadamente chinesas, de forma a desenvolver a economia e a indústria norte-americanas, descendo simultaneamente os impostos.

O líder chinês quer, em contraste com Trump, "uma cooperação de alta-qualidade" a nível internacional, baseada em investimentos orçados em milhares de milhões de yuan.

Essa foi a primeira das ações anunciadas. Estes investimentos serão focados não só na construção da nova Rota da Seda, mas no desenvolvimento de uma rede de conexão multidimensional, a que Xi chamou "Cintura e Rota", "liderada pela construção de uma Rota da Seda verde e que irá potenciar uma Rota da Seda digital".

A segunda ação referida passa pela "implementação da Iniciativa para o Desenvolvimento Global", a qual tem já em curso mais de 1.100 projetos de desenvolvimento. "Iremos garantir que o centro de pesquisa Sul Global, que está em construção, esteja preparado para o seu objetivo", prometeu Xi Jinping.

As terceira e quarta ações abrangem o apoio ao desenvolvimento de África e a cooperação internacional para a redução da pobreza e pela segurança alimentar, através da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.

A quinta será a iniciativa conjunta de transferência tecnológica para os países em desenvolvimento do Sul Global, a sexta o apoio ao Roteiro para o Investimento em Energia Limpa nos países em desenvolvimento, a sétima a implementação da luta contra a corrupção e, a oitava, a abertura às importações dos países em desenvolvimento.
Para a "história"
O plano chinês é anunciado quando os aliados ocidentais procuram parar as exportações de semicondutores sofisticados para a China, em simultâneo com a expulsão de firmas chinesas de tecnologia de mercados da América do Norte e europeus. O maior exportador do mundo de semicondutores é Taiwan, seguindo-se a Coreia do Sul, a China e os Estados Unidos. Japão, Alemanha e Israel têm igualmente algum peso na indústria. Os semicondutores sofisticados requerem materiais do mais elevado grau de pureza para serem manufacturados.

Xi Jinping surgiu no G20 como o homem forte da cimeira, face a um presidente norte-americano, Joe Biden, em fim de mandato. O chinês tem marcadas diversas reuniões bilaterais, e chegou ao Rio de Janeiro no meio de uma campanha de marketing agressiva, sobre os laços de cooperação entre o Brasil e a China.

Ao apresentar o seu plano de oito ações, o presidente da China considerou que, uma transformação a "uma escala não vista num século, está em aceleração em todo o mundo".

"Enquanto líderes de grandes países, não devemos deixar a nossa visão ser toldada por nuvens passageiras", acrescentou Xi Jinping. "Em vez disso, devemos ver o mundo como uma comunidade com um futuro comum e suportarmos a nossa responsabilidade para a história, assumir iniciativa histórica e levar a história em frente", defendeu.

O líder asiático frisou ainda que "a prosperidade e a estabilidade não serão possíveis num mundo em que os ricos se tornem mais ricos, enquanto os pobres são tornados cada vez mais pobres". "Os países deveriam tornar o desenvolvimento global mais inclusivo, benéfico para todos e mais resiliente", acrescentou.

O presidente chinês apresentou a necessidade de um cenário de "cooperação económica internacional" com base "num ambiente aberto, inclusivo e não discriminatório", uma "globalização económica inclusiva e universalmente benéfica", um "desenvolvimento sustentável com novas tecnologias, novas indústrias e novos modelos de negócio".

Metas que passam necessariamente por "apoiar os países em desenvolvimento, na melhoria da sua integração no desenvolvimento digital e ambiental", "para ultrapassar o fosso norte-sul".

"Necessitamos apoiar os países em desenvolvimento na adoção de estilos de vida e de produção sustentáveis, respondendo de forma apropridada a desafios como as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e a poluição ambiental", frisou ainda Xi Jinping.

"Para construir um tal mundo, necessitamos de continuar o nosso compromisso com o multilateralismo", defendeu.
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