CGD tem ideia das condições necessárias para "interesse mais decisivo" - Macedo
O presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) disse hoje que o banco tem presente as condições necessárias para ter um "interesse mais decisivo" pelo Novo Banco e considerou preocupante se bancos espanhóis dominarem 45% do setor bancário.
"A Caixa tem tido a mesma posição, está a analisar hipóteses que haja no mercado. Interessa-nos operações que tenham sinergias com a Caixa, que possam acrescentar valor, em que o total seja maior que o somatório das partes", disse Paulo Macedo na conferência de imprensa de apresentação das contas de 2024 (lucros de 1.735 milhões de euros).
Macedo disse que "tem ideia das condições que seriam necessárias" para a CGD poder ter "interesse mais decisivo" no Novo Banco, mas não as quis revelar. Também não falou das interações que tem tido com o Governo sobre o tema. A seu tempo, disse, a CGD falará sobre o tema se tal considerar oportuno.
Sobre o valor do Novo Banco, o gestor disse que faltam mais informações além daquelas que vêm nos relatórios e contas para chegar a conclusões sobre o preço a pagar.
Ainda assim, considerou que se os mesmos múltiplos do Novo Banco forem aplicados à CGD então o banco público vale "entre 9.000 e 16.000 milhões de euros".
Em final de janeiro, o Jornal de Negócios noticiou que a Lone Star está a avaliar o Novo Banco em 5.000 milhões de euros. Em junho de 2024, o Fundo de Resolução comprou ao Estado mais 4,14% do Novo Banco por 128 milhões de euros (passando a deter 13,54%), pelo que avaliou então o banco em mais de 3.000 milhões de euros.
Quanto ao Novo Banco poder ser comprado por um banco estrangeiro, Paulo Macedo afirmou que fica preocupado com o aumento da preponderância do capital espanhol no setor bancário português.
"O presidente do Santander está preocupado que o Novo Banco vá parar à Caixa. Eu fico mais preocupado se a banca espanhola em Portugal passar a ficar com 45% da quota de mercado", disse.
Segundo contas da Lusa, em junho de 2024 (últimos dados disponíveis da Associação Portuguesa de Bancos), os bancos controlados por investidores estrangeiros ou em que o capital destes é preponderante representavam mais de 60% do sistema bancário português.
Estes dados indicam o reforço do capital estrangeiro no sistema bancário português em quase 10 anos, pois em 2016 os bancos de capital estrangeiro representavam cerca de 50% do sistema bancário (abaixo dos cerca de 60% atuais).
Quanto ao peso do capital espanhol, este representava quase 30% do total.
Quanto ao Novo Banco poder começar por ser vendido em bolsa, Macedo considerou que a Lone Star deve avançar com a ida para bolsa já com a ideia de a quem venderá o banco na totalidade.
"Não me parece que vá entrar em bolsa sem a Lone Star ter comprador final", afirmou.
O Novo Banco foi criado em 2014 para ficar com parte da atividade bancária do Banco Espírito Santo (BES), na resolução deste.
Em 2017, 75% do banco foi vendido ao fundo de investimento norte-americano. O Estado detém direta e indiretamente 25% do capital do Novo Banco (o Fundo de Resolução detém 13,54% e o Estado detém 11,46% através da Direção-Geral do Tesouro e Finanças).
De acordo com as informações públicas, o objetivo da Lone Star é para já vender parte do capital do Novo Banco (25% a 30% do capital), estando a preparar uma dispersão em bolsa (através de uma OPV ou IPO - Initial Public Offering na expressão em inglês habitualmente usada). Posteriormente, poderá vender o restante capital em venda direta.