A energia necessária para o processamento de dados da inteligência artificial nos centros dedicados à tecnologia vai disparar até 2030.
No mais recente “relatório especial” da Agência Internacional de Energia, com sede em Paris, é feita uma análise do impacto da IA no consumo energético global para os próximos anos.
“Com o surgimento da IA, o setor de energia está na vanguarda de uma das mais importantes revoluções tecnológicas do nosso tempo”, afirma o diretor executivo da AIE, Fatih Birol.
"Mas até agora os decisores de políticas e os mercados não tinham ferramentas para entender completamente os impactos abrangentes”, acrescenta.
"Não há IA sem energia"
O relatório baseia-se em “novos conjuntos de dados e numa extensa consulta com os formuladores de políticas, o sector de tecnologia, o setor de energia e especialistas internacionais”, explica o documento.
A AIE projeta que a exigência de eletricidade dos centros de processamento de dados em todo o mundo deve “duplicar até 2030 para cerca de 945 terawatts-hora (TWh), um pouco mais do que todo o consumo de eletricidade do Japão nos dias de hoje”.
E o crescimento do uso da tecnologia IA destaca-se como o responsável para este maior consumo.
“A IA será o fator mais significativo desse aumento, devido à necessidade de consumo de eletricidade dos centros de processamento de dados otimizados, precisamente para o funcionamento dessa tecnologia”.
"Estima-se que quadruplique até 2030”, indica o relatório.
Atualmente, um datacenter consome tanta eletricidade quanto 100 mil habitações, mas alguns dos que estão em construção exigirão 20 vezes mais, sublinha o estudo.
Nas economias avançadas, os centros de processamento de dados “devem impulsionar mais de 20 por cento do crescimento a necessidade de consumo elétrico até 2030, colocando o sector de energético nessas economias de regresso a uma base de crescimento após anos de estagnação ou até diminuição do consumo em muitos deles”.
Os países que quiserem beneficiar do potencial da IA “precisam de acelerar rapidamente os investimentos na nova geração de eletricidade e redes, melhorar a eficiência e a flexibilidade dos centros de dados e fortalecer o diálogo entre os decisores políticos, o setor de tecnologia e o setor de energia”, adverte a AIE.
Num outra comparação, o relatório explica que os dados de processamento, principalmente para IA, consumirão mais eletricidade do que fabricar aço, cimento, produtos químicos e todos os outros bens com uso intensivo de energia combinados, isto apenas nos EUA e até 2030.
Utilização de energia renovável
Porém, os receios de que a rápida adoção da IA possam abalar os planos contra a crise das alterações climáticas terão sido “exageradas”. Isto porque o aproveitamento da IA para tornar o uso de energia e outras atividades mais eficientes pode resultar em economias que reduzem as emissões de gases de efeito estufa em geral.
“A IA é uma ferramenta, potencialmente incrivelmente poderosa, mas depende da nossa mente, das nossas sociedades, dos governos e empresas como a usamos”, sustenta Birol.
Por isso, mesmo que aumente o consumo, pode-se em simultâneo “desbloquear oportunidades significativas para reduzir custos, aumentar a competitividade e reduzir as emissões”, acrescenta o documento.
De acordo com o relatório da AIE, uma gama diversificada de fontes de energia será “aproveitada para atender às crescentes necessidades de eletricidade, embora as energias renováveis e o gás natural estejam definidos para assumir a liderança devido à sua concorrência de custos e disponibilidade nos principais mercados”.
A análise aponta para que a própria IA possa ajudar a projetar redes elétricas destinadas a obter mais energia renovável. Reforça a necessidade de as produtoras de energia redesenharem o processo para tirarem mais partido de fontes intermitentes e às vezes imprevisíveis, como energia eólica e solar.
Segurança energética
Os ataques cibernéticos a serviços públicos de energia triplicaram nos últimos quatro anos e tornaram-se mais sofisticados precisamente por causa da inteligência artificial. Ao mesmo tempo, a IA está a tornar-se uma ferramenta crítica para as empresas de energia se defenderem contra tais ataques.
Outra preocupação com a segurança energética está relacionada com a crescente procura por minerais críticos usados nos equipamentos nos centros de processamento de dados que alimentam a IA.
O
relatório lista ainda um conjunto de atividades que podem beneficiar da boa prática do uso da IA. Desta forma, esta tecnologia pode ajudar na concretização de “veículos sem motorista, ou detetar ameaças à infraestrutura vital”.
A IA pode ser usada para planear as “redes de transporte público e otimizar as viagens das pessoas ou projetar cidades ou sistemas de tráfego”.
As empresas de mineração podem usar a IA para descobrir e explorar reservas de minerais específicos, que são cruciais para os componentes modernos de energia renovável, como painéis solares, turbinas eólicas e veículos elétricos.
Ou seja, no fundo, a AIE exalta que a utilização da IA “compensará” o aumento das exigências energéticas globais. Mas para que esta correlação se mantenha equilibrada impõe-se uma monitorização do processo.
Por isso, a AIE reitera que continuará a “fornecer os dados, análises e a promover fóruns de diálogo para ajudar os decisores políticos e outras entidades interessadas a navegar no caminho futuro, à medida que o setor de energia molda o futuro da IA – e a IA molda o futuro da energia”.