Central de transformação de água do mar vai abastecer quatro hotéis do Algarve com água potável
Quatro hotéis do Grupo Pestana situados no Algarve passarão a ser parcialmente abastecidos com água do mar a partir de Outubro, graças à construção da primeira central de dessalinização no continente português, disse à Lusa fonte do grupo hoteleiro.
Os hotéis Alvor Praia, de cinco estrelas, e as unidades de quatro estrelas Pestana Delfim, D. João II e Alvor Atlântico, todos situados junto à Praia de Alvor, foram os escolhidos para a "estreia" da central, que abastecerá 2.000 pessoas.
Todavia, Pedro Lopes, administrador do Grupo Pestana, admitiu que a central possa provir as necessidades de mais três unidades de quatro estrelas, num período de dois a três anos, depois de devidamente ampliada.
Enquanto não for inaugurada a central algarvia, a única central de remoção de sal em território português situa-se na ilha do Porto Santo, propriedade do Governo da Madeira, que começou a funcionar em 1979.
Tal como a central de Porto Santo, também a central do Alvor utilizará a tecnologia da osmose inversa, um processo de purificação da água através de uma membrana.
Naquele processo, a água salgada é forçada a passar através de uma membrana, que remove a maioria dos contaminantes da água potável e captura as partículas de sais, deixando passar a água pura.
O processo desmineraliza por completo a água salgada, tornando-a "água destilada", pelo que, para algumas aplicações - a rega, por exemplo -, tem que ser de novo mineralizada, explicou Pedro Lopes à agência Lusa.
O responsável garantiu que os custos deste tipo de tratamento se resumem à amortização do investimento inicial, de um milhão de euros, e ao custo da energia necessária para "fabricar" a água doce, que não excede os 50 cêntimos por metro cúbico.
Outra vantagem deste tipo de produção é, adiantou, o facto de se tratar de unidades modulares, isto é, a central a construir nas próximas semanas pode ser acrescentada, de forma a servir mais gente com menor investimento inicial.
Numa primeira fase, a água será usada nas limpezas e nos jardins dos quatro hotéis, mas o responsável admitiu que futuramente possa ser usada nas canalizações sanitárias.
"Vamos mantê-la sempre afastada das áreas de cozinha mais por razões psicológicas do que outras", disse, garantindo que o produto da dessalinização é bactereologicamente puro, apesar de poder ter um sabor um pouco desagradável "para quem não está habituado".
Do rol de utilizações da nova central ficarão também excluídas as piscinas, porque para esse fim o Grupo Pestana utiliza em exclusivo água salgada.
Os processos de dessalinização são utilizados em todo o mundo há várias décadas, mas a osmose inversa é usada há relativamente pouco tempo, sendo considerada "a última palavra" na extracção de sal.
A utilização de químicos e processos como a destilação, congelamento, condensação e evaporação são os meios mais utilizados.
As centrais de osmose inversa aproveitam apenas 40 por cento da água necessária para o processo, adiantou Pedro Lopes, acrescentando que no caso do Algarve serão utilizados 2.000 metros cúbicos de água salgada para produzir 800 metros cúbicos por dia.
Para contrariar algumas resistências dos ambientalistas, que criticam o aumento de salinidade da água do mar, o administrador evocou um estudo feito na Gran Canária, Espanha, onde o processo abastece uma população de 500 mil pessoas.
De acordo com esse trabalho, de uma universidade espanhola, a fauna e flora marítimas não sofreram qualquer alteração com a utilização das estações de tratamento.
"Isto num local do mundo onde os índices de sal são 10 por cento superiores aos do Algarve", vincou.
De resto, em Espanha, onde a dessalinização é utilizada desde os anos 1970, existem mais de 700 estações, sobretudo junto à costa sul.
Fonte do Ministério do Ambiente disse mesmo à Lusa que a produção de água potável a partir de água do mar tem uma "enorme força empresarial" no país vizinho e que os governantes espanhóis vêm tentando nos últimos anos "vender" as tecnologias que usam a Portugal.
O ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, referiu à Lusa que o projecto é interessante para os grupos privados, mas afastou a hipótese de este processo ser utilizado nos sistemas públicos.
"Vemos com agrado que investidores privados, que são responsáveis por unidades hoteleiras e turísticas de grande escala, recorram a esse tipo de técnicas e, por essa via, aliviem a pressão sobre os sistemas públicos", defendeu o ministro.
Para Nunes Correia, "as dessalinizadoras no Algarve podem ser importantes para grandes grupos ganharem um nível considerável de auto-suficiência, com esses sistemas construídos de forma privada, aliviando os sistemas públicos".
No entanto, sublinhou, "fazer disso uma solução para os sistemas públicos, neste momento, não se justifica".
"Os estudos feitos até agora, pela Águas de Portugal e pela Águas do Algarve, indicam que as fontes de água de que dispomos - nomeadamente aquela que está agora em execução no meu ministério e feita pela Águas do Algarve, que é a barragem de Odelouca - revelaram que a fonte de água mais económica ainda era a construção da barragem, mais que a dessalinizadora", adiantou o ministro.
"A dessalinizadora pode ser uma técnica interessante em alguns contextos, sobretudo em zonas excepcionalmente áridas, mais áridas que o Algarve, ou em ilhas que não têm formas de abastecimento. Recordo que na ilha de Porto Santo a água é quase toda abastecida pela dessalinizadora. Nesse contexto ela justifica-se", sustentou.