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Bruxelas admite "problema permanente" com desastres que pesam sob PIB

por Lusa

A Comissão Europeia admite que desastres naturais como as recentes cheias em Espanha ou os incêndios florestais no verão em Portugal são "um problema permanente", pelo que a União Europeia (UE) "não deve subestimar o impacto económico negativo".

"Tivemos na Europa, nos últimos dois ou três anos, a cada par de meses, acontecimentos semelhantes -- embora não de forma tão trágica como em Valência --, mas ouvimos falar de Portugal, da Itália, da Eslovénia à Grécia, e aqui na Bélgica e na Europa Central, Alemanha, em parte de França. Trata-se, portanto, de uma situação e de um problema permanente", disse o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni.

Em entrevista à agência Lusa e outros três meios europeus, em Bruxelas, no dia em que a instituição apresentou as previsões de outono marcadas por crescimento económico moderado, o responsável frisou ser "difícil discutir apenas as consequências económicas de uma tal tragédia" como a de Valência.

Mas admitiu que os recentes acontecimentos climáticos extremos são um dos fatores de risco para o abrandamento económico e a incerteza, juntamente com o contexto geopolítico (de guerra na Ucrânia e Médio Oriente), com eventuais atrasos na execução dos planos de recuperação e resiliência e com a inflação.

"Estas tragédias estão a acontecer e depois verificam-se despesas públicas para reconstruir e reparar, e isto, em termos do PIB real, não é negativo, [além de que] o impacto imediato é, evidentemente, na atividade económica e, potencialmente, na inflação, pelo que não devemos subestimar o impacto negativo", elencou Paolo Gentiloni.

Quando se espera que a nova Comissão Europeia, que deve entrar em breve em funções, apresente no verão uma proposta sobre o orçamento da UE a longo prazo para o período 2028-2035, o responsável cessante pela tutela vincou que se devem "identificar formas de reforçar" o apoio aos governos perante tais situações, nomeadamente através do fundo de solidariedade da UE.

Ainda assim, avisou: "Está claro que, se o mundo vai no sentido de subestimar as alterações climáticas e existe o perigo de isto continuar a acontecer nos próximos anos, o custo que teremos de suportar por esta subestimação será crescente e muito sério".

Paolo Gentiloni pediu que se evite, por isso, uma "subavaliação" dos riscos ambientais na estabilidade económica.

Pelo menos 217 pessoas morreram em Espanha, sobretudo na região de Valência, devido às inundações que assolaram o leste do país, continuando várias dezenas de pessoas desaparecidas, segundo o mais recente balanço das autoridades locais.

Duas semanas após as inundações, ocorridas em 29 de outubro, continuam os trabalhos de limpeza das zonas afetadas e sucedem-se os alertas e recomendações às populações por temor a problemas de saúde pública.

Além das vítimas mortais, o temporal de outubro causou danos em infraestruturas de abastecimento, comunicações e transportes. Nas zonas afetadas permanecem mais de 7.000 militares e 10.000 elementos da Polícia Nacional e da Guarda Civil.

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