A China impôs direitos aduaneiros temporários sobre as importações de conhaque europeu, depois de a União Europeia ter imposto taxas adicionais aos veículos elétricos chineses. No meio de um braço-de-ferro comercial com Bruxelas, Pequim também pondera a aplicação de direitos sobre os automóveis a gasolina importados da Europa.
A partir da próxima sexta-feira, a China vai obrigar os importadores de conhaque europeu a pagar uma taxa de 39 por cento junto das alfândegas chinesas, uma semana depois de os Estados-membros da UE terem votado a favor da tributação dos automóveis elétricos fabricados na China, apesar da oposição dos alemães, que temem uma guerra comercial com Pequim.
“A partir de 11 de outubro de 2024, quando importarem aguardentes da União Europeia, os importadores terão de fornecer o depósito correspondente às autoridades aduaneiras da República Popular da China”, anunciou o Ministério chinês do Comércio num comunicado de imprensa esta terça-feira.
“Ao mesmo tempo, a China está a estudar medidas como o aumento dos direitos aduaneiros sobre os veículos a gasolina de grande capacidade importados", acrescentou o ministério.
Este anúncio surge num contexto de tensão crescente entre a China e a UE, um dos principais parceiros comerciais do gigante asiático, desencadeada pela recém adoção de direitos aduaneiros de 35,3 por cento aos veículos elétricos chineses, que vão acrescer aos direitos existentes de dez por cento. A medida só deverá entrar em vigor no final de outubro.
Segundo Bruxelas, a União Europeia considera que os preços dos veículos chineses são artificialmente baixos devido a subsídios estatais que distorcem a concorrência.
"Uma escolha muito difícil"
O presidente do organismo francês do comércio do conhaque (BNIC), Florent Morillon, disse em setembro que as empresas francesas tinham recebido recentemente "notificações de intenções de tributação", avançando que as novas taxas aplicáveis poderiam ser da ordem dos 35 por cento em média.
Em janeiro, Pequim lançou uma investigação anti-dumping sobre as aguardentes europeias, em particular sobre a especialidade francesa conhaque que representa 95 por cento das aguardentes, e anunciou no final de agosto que tinha encontrado provas de dumping.
Em reação à retaliação de Pequim, os organismos franceses de comércio do conhaque e do armagnac e a Federação francesa dos exportadores de vinhos e espirituosas alertaram para "o efeito catastrófico destas taxas para as nossas indústrias e para as nossas regiões".
“Apelamos ao nosso governo para que tome finalmente as medidas necessárias para pôr termo a esta escalada, que nos fez reféns e cujo desfecho é agora mais ameaçador do que nunca", segundo um documento co-assinado pelos organismos. "Estes impostos devem ser suspensos antes que seja demasiado tarde”, apelam.
Por sua vez, a ministra francesa da Agricultura, Annie Genevard, disse na terça-feira que se reunirá com os líderes do setor na próxima semana e que "a França se encontra perante uma escolha difícil", entre a preservação da sua indústria automóvel e da agricultura francesa.
“A França está perante uma escolha muito difícil. Há a preservação da sua indústria de automóveis elétricos e há também a preocupação de preservar um dos estandartes da agricultura francesa, juntamente com o conhaque”, disse a ministra ao Senado francês na terça-feira.
A União Europeia está a considerar "todas as possibilidades de oferecer um apoio adequado" aos produtores europeus de aguardantes, fortemente afetados pela resposta de Pequim. Só a
China representa um quarto das exportações de conhaque, de acordo com o BNIC.
Na terça-feira, os efeitos da medida chinesa fizeram-se sentir na Bolsa de Paris, com as ações dos grandes produtores de conhaque a sofrer: Rémy Cointreau fechou em baixa de 6,37 por cento (a 61, 75 euros), enquanto Pernod Ricard cedeu 4,18 por cento (a 125, 95 euros).
UE vai contestar "medidas infundadas"
A China que tinha prometido tomar "todas as medidas necessárias" em resposta à medida de Bruxelas, anunciou também na terça-feira que estava a conduzir “investigações anti-dumping e de compensação sobre a carne de
porco, subprodutos de porco e produtos lácteos importados da UE”, de acordo com o ministério chinês do Comércio.
Bruxelas não se fica e anunciou que vai contestar a decisão chinesa junto da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Acreditamos que estas medidas não têm fundamento e estamos determinados a
defender a indústria da UE contra o abuso dos instrumentos de defesa comercial", afirmou a Comissão Europeia.
c/ agências