O Governo alemão defendeu hoje o controverso projeto de gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha, apesar dos apelos franceses para o abandonar face à repressão de manifestações de apoio ao opositor russo Alexei Navalny.
"O Governo federal não alterou a sua posição de base" em relação ao assunto, afirmou Martina Fietz, porta-voz do Governo alemão, depois de o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros francês, Clément Beaune, ter apelado a Berlim para abandonar o projeto do gasoduto.
Hoje, em declarações à rádio France Inter, e ao pedir à Alemanha para abandonar o projeto, Beaune lembrou que já foram adotadas sanções contra a Rússia, mas salientou que poderiam ser impostas outras.
"Sanções já adotámos e poderíamos adotar [outras], mas devemos ser lúcidos: isso não é suficiente. A opção do Nord Stream é uma que pode ser considerada. Hoje é uma decisão alemã porque é um gasoduto que [chega] à Alemanha. Sempre dissemos que tínhamos as maiores dúvidas sobre este projeto", afirmou
Admitindo que as autoridades francesas estariam a favor do abandono do Nord Stream 2, Beaune lembrou que a França já tinha manifestado as reservas antes do "Caso Navalny", embora nunca tenha falado tão claramente, de forma pública, a esse respeito.
A 21 de janeiro, a chanceler alemã, Angela Merkel, reafirmou a sua simpatia com o projeto, bastante contestado pelos Estados Unidos por outros motivos.
Os Estados Unidos e vários países europeus, como a Polónia, têm uma visão negativa do novo gasoduto, que irá duplicar o Nord Stream 1, já em operação, julgando que vai aumentar a dependência da Alemanha e da UE face ao gás russo e, em consequência, face a Moscovo.
O assunto está na mesa de discussão desde o alegado envenenamento de Alexei Navalny, pelo qual o opositor culpa o Presidente russo, Vladimir Putin.
Navalny foi detido quando chegou à Rússia, a 17 de janeiro, após cinco meses de recuperação na Alemanha e a repressão aos protestos que reclamavam a sua libertação.
Os europeus estão também a considerar a adoção de novas sanções se o Presidente russo continuar a reprimir a oposição.
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, deve visitar Moscovo de 04 a 06 deste mês para exigir a libertação de Navalny.
Borrell lamentou as "detenções em massa" e o "uso desproporcional de força" durante os novos protestos pró-Navalny na Rússia no domingo, em que a polícia prendeu mais de 5.000 pessoas e bloqueou o centro de várias cidades, incluindo o da capital Moscovo.
No início de dezembro, os trabalhos para o Nord Stream 2, um projeto de mais de nove mil milhões de euros e 1.200 quilómetros de ligação submarina, foram retomados em águas alemãs, após um ano de suspensão devido a sanções.