Em direto
Incêndios em Portugal. A situação ao minuto

BCE prepara-se para baixar taxas de juro. Que impacto terá esta decisão?

por Joana Raposo Santos - RTP
As alterações nas taxas de juro podem ter um impacto significativo na vida da população, quer para quem tem empréstimos, como para quem tem apenas depósitos Wolfgang Rattay - Reuters

O Banco Central Europeu prepara-se para baixar as taxas de juro, decisão que deverá ser selada na reunião presidida por Christine Lagarde esta quinta-feira. Os analistas preveem uma descida inicial de 25 pontos base, após quase dois anos de uma trajetória de subida. Mas o que significa ao certo esta viragem e como é que irá refletir-se na vida da população, nomeadamente no que diz respeito aos empréstimos bancários?

O que são as taxas de juro e por que mudam?
O Banco de Portugal explica que o juro é o que se paga pelo dinheiro que se pede emprestado. “É também o que recebe pelo dinheiro que poupa (uma vez que está a “emprestar” ao banco a sua poupança)”, acrescenta no seu site.

Já as chamadas “taxas de juro oficiais” são as taxas de juro que o Banco Central Europeu cobra aos bancos pelos empréstimos que lhes concede, ou as taxas que lhes paga pelos depósitos que esses bancos fazem no BCE.

“Em condições normais, o BCE define o nível das taxas de juro oficiais para influenciar várias outras taxas de juro na economia. Este é o principal instrumento a que o BCE recorre para influenciar, indiretamente, os preços e manter a inflação em 2% no médio prazo”, percentagem que considera ser a ideal para a economia, elucida o BdP.

Quando o BCE decide aumentar as taxas de juro oficiais, geralmente os bancos de cada país seguem a decisão e alteram as taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos que oferecem aos seus clientes.

“Se as taxas de juro descem, pedir empréstimos passa a ser mais barato e poupar passa a ser menos atrativo. Isto encoraja as famílias e as empresas a consumir e a investir mais. Em resultado, a economia é estimulada e os preços dos bens e serviços tendem a subir mais”.
Como é que as taxas de juro nos afetam?
As alterações nas taxas de juro podem ter um impacto significativo na vida da população, quer para quem tem empréstimos, como para quem tem apenas depósitos.

O BdP explica que essas alterações, mesmo que sejam pequenas, podem afetar:
  •  Os encargos mensais com os empréstimos para compra de casa ou carro;
  •  Os encargos das empresas com o empréstimo para investir em novos equipamentos;
  •  Os juros recebidos pela aplicação de poupanças.

Em Portugal, muitos dos créditos habitação possuem taxas de juro variáveis que estão ligadas a um índice de referência, como a Euribor. E, quando o BCE aumenta as suas taxas de juro, a Euribor tende a subir, o que se traduz em prestações mensais mais altas para quem optou por taxa variável. O mesmo acontece em sentido inverso, com estas taxas a tenderem a baixar quando o BCE reduz as suas.

No caso das taxas fixas, os bancos apenas podem alterá-las para novos empréstimos. Isto significa que, ao preverem uma alteração das taxas de juro do Banco Central Europeu, esses bancos podem aumentá-las ou reduzi-las.
Porque é que o BCE deverá baixar agora as taxas?
Para atingir o seu objetivo de dois por cento de inflação, o BCE “tem de avaliar quanto é que as famílias e as empresas planeiam consumir e investir, dado o nível atual e o nível esperado das taxas de juro”, refere o BdP.

Se for necessário encorajar o consumo e o investimento de modo que a inflação aumente, o BCE normalmente desce as taxas de juro. Pelo contrário, se for necessário reduzir a inflação, o BCE normalmente sobe as taxas de juro”.

Nos últimos dois anos, os bancos centrais de todo o mundo aumentaram drasticamente as taxas para conter a inflação que surgiu na sequência da pandemia de covid-19 e da invasão russa da Ucrânia.

Durante este período, têm procurado manter as taxas elevadas pelo tempo suficiente para garantir a contenção da inflação, ao mesmo tempo que lidam com o risco de recessão provocado pelos empréstimos mais altos.

No final do ano passado, a inflação tinha caído mais do que o esperado nos 20 países da União Europeia cuja moeda é o euro: fixou-se nos 2,6 por cento em maio deste ano, quando em outubro de 2022 era de 10,6 por cento.

Essa descida levou os analistas a preverem que o BCE baixasse as taxas de juro algures entre março e setembro de 2024.
As taxas vão continuar a baixar depois de junho?
Os analistas não preveem que haja novas descidas nos próximos meses. O BCE "será prudente e é pouco provável que desça (de novo) as taxas de juro na reunião de julho", considerou Riccardo Marcelli Fabiani, da Oxford Economics, citado pela agência Lusa.

“O BCE deve manter em aberto a ideia de uma nova flexibilização, se os dados o permitirem, mas também deve evitar falar de um novo corte em setembro”, afirmou por sua vez Claus Vistesen, da consultora Pantheon Macroeconomics, ouvido pelo Politico.

Já os analistas do Barclays esperam, para já, um corte trimestral. “Esperamos também que o Conselho do BCE reitere que continuará a seguir uma abordagem dependente dos dados e de reunião para reunião, sem se comprometer previamente com uma determinada trajetória das taxas”, referiu o economista Mariano Cena.

Para Joachim Nagel, presidente do banco central alemão, um segundo corte consecutivo nas taxas em julho é “tudo menos certo” porque “não estamos em piloto automático”.

Também Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, acredita que "embora haja um consenso sobre este primeiro corte, o ritmo de cortes futuros está dependente de um animado debate dentro do Conselho".

Para alimentar essa discussão, o Banco Central Europeu terá de ir recorrendo às novas previsões económicas que forem surgindo.
PUB