No Boletim Económico de junho deste ano, publicado esta terça-feira, o Banco de Portugal prevê uma recessão económica de 8,5 por cento devido à pandemia de Covid-19, abaixo dos 5,7 por cento projetados no anterior cenário adverso. O documento projeta ainda que a taxa de desemprego se deverá fixar nos 10,1 por cento e aponta para uma quebra de 4,5 por cento do emprego este ano.
As projeções do Banco de Portugal (BdP) apontam para uma diminuição do Produto Interno Bruto (PIB) de 9,5 por cento este ano, abaixo dos 5,7 por cento projetados no anterior cenário adverso.
"A redução projetada para o PIB em 2020 é muito significativa, excedendo largamente as quedas observadas nas recessões mais recentes, sendo necessário recuar aos anos 20 do século passado para encontrar uma queda desta magnitude", refere o BdP.
Face ao boletim de março, o BdP sinaliza que a projeção de junho é revista em baixa, porque os desenvolvimentos que se seguiram a 12 de março, data de fecho da informação do boletim anterior, "foram mais negativos no primeiro semestre de 2020 do que os considerados no cenário adverso" previsto então, de uma queda de 5,7 por cento.
O relatório sublinha ainda que “as atuais projeções mantêm-se, no entanto, condicionadas por uma elevada incerteza quanto à evolução da pandemia, à duração e ao impacto das medidas de contenção e ao efeito das medidas de política adotadas”.
O banco central salienta que no primeiro trimestre "o PIB reduziu-se 3,8% face ao trimestre anterior, a maior queda desde que existem séries trimestrais para a economia portuguesa", e projeta que no segundo trimestre "mais afetado pela pandemia e pelo impacto das respetivas medidas de contenção, a taxa de variação em cadeia da atividade deverá diminuir numa magnitude sem precedente histórico", estimada em 15 por cento.
No entanto, o boletim refere que “num quadro de relativo controlo da epidemia e de progressivo levantamento das medidas de contenção adotadas para lhe fazer face, perspetiva-se que a atividade económica comece a recuperar a partir do terceiro trimestre de 2020”.
O BdP projeta um crescimento do PIB de 5,2 por cento em 2021 e 3,8 por cento em 2022. “No final do horizonte de projeção, a atividade deverá situar-se num nível próximo do observado em 2019, mas consideravelmente abaixo do esperado antes da pandemia”, lê-se no relatório.
Queda de 25% nas exportações
Em termos de exportações, o BdP estima uma queda de 25,3 por cento este ano. O setor registará um crescimento de 11,5 por cento em 2021 e de 11,2 por cento em 2022, mas a instituição considera que “serão insuficientes para recuperar o nível registado em 2019”.
A recuperação projetada "é mais lenta do que a observada na sequência das recessões anteriores, o que reflete as tensões comerciais existentes e, sobretudo, o comportamento das exportações de turismo", que aumentaram nos últimos anos e foram muito afetadas pela pandemia de Covid-19.
Relativamente às importações, o relatório afirma que deverão seguir uma trajetória semelhante à das exportações, com uma quebra de 22,4 por cento este ano, crescendo 13,5 por cento em 2021 e 8,5 por cento em 2022.
“A capacidade de financiamento da economia, medida pelo saldo conjunto da balança corrente e de capital, deverá reduzir-se para 0,3 por cento do PIB em 2020 e assim permanecer nos dois anos seguintes”, diz o boletim económico.
Pela primeira vez desde 2011, o BdP estima que a balança de bens e serviços deverá ser deficitária, “refletindo uma redução do excedente da balança de serviços, associada sobretudo à queda das exportações de turismo”.
Taxa de desemprego nos 10,1%Em relação ao mercado de trabalho, o BdP revela que “as projeções apontam para uma quebra expressiva do emprego em 2020 de 4,5 por cento, e para um aumento significativo da taxa de desemprego para 10,1 por cento”. O valor de 10,1 por cento da taxa de desemprego para 2020 - acima da previsão de 9,6 por cento do Governo - já tinha sido adiantado em março no cenário base previsto no Boletim Económico, enquanto o cenário adverso apontava para os 11,7 por cento.
"O impacto da crise sobre o mercado de trabalho tenderá a ser atenuado ou desfasado pela existência de políticas que visam preservar o emprego e a liquidez das empresas", aponta o banco central. Para os anos seguintes de 2021 e 2022, o relatório sublinha que “deverão registar-se melhorias quer no emprego, quer na taxa de desemprego, mas não suficientes para retomar os valores observados em 2019”.
O documento estima ainda um aumento do consumo público de 0,6 por cento, “em resultado do efeito conjugado de uma maior despesa em saúde pública no contexto da crise pandémica e da diminuição da atividade das administrações públicas, relacionada com uma redução do número de horas trabalhadas”.
Relativamente ao investimento público, "projeta-se uma aceleração em 2020, em resultado da trajetória considerada para o fluxo de fundos europeus e de um aumento temporário e de pequena magnitude associado à aquisição de equipamentos para o setor da saúde", sendo que o investimento em geral deverá recuar 11 por cento este ano.
Já o consumo privado deverá reduzir-se 8,9 por cento em 2020, "mais acentuada do que a quebra do rendimento disponível real, e à qual deverão seguir-se crescimentos de 7,7 por cento em 2021 e de 3,0 por cento em 2022. ", segundo o BdP.
O boletim também refere que “a taxa de poupança deverá aumentar substancialmente em 2020, refletindo a dificuldade de consumir alguns bens e serviços durante o estado de emergência e a elevada incerteza prevalecente”.
c/Lusa