Banco Alimentar de Cabo Verde tenta vencer "sobrecarga" de pedidos

por Lusa

Maria Paiva, 42 anos, tem apenas uma cama onde dorme com cinco filhos e uma neta, numa casa precária onde a comida é um luxo, na Praia, capital de Cabo Verde.

"Às vezes não tenho nem 50 escudos (0,45 cêntimos) por dia para comprar um pão", dependendo da ajuda da família, relatou à Lusa, ao chegar à habitação precária com uma caixa que levantou no Banco Alimentar.

"Fui buscar a cesta básica e estou muito contente, porque vai ajudar-me muito", disse, mostrando uma caixa com feijão, arroz, óleo, leite, café, açúcar, bolachas e farinha para duas semanas.

Para sobreviver, Maria Paiva cozinha torresmos, mas as vendas estão cada vez piores e a comida para casa é cada vez mais cara, o que tem deixado esta família sem refeições completas no dia-a-dia.

"É assim que vivemos, dentro deste buraco, onde temos apenas uma cama", no bairro precário de Simão Ribeiro, onde também falta saneamento: sem casas de banho, é preciso sair à rua, mesmo à noite, para as crianças "fazerem as suas necessidades".

A família de Maria Paiva é uma das beneficiárias do Banco Alimentar de Cabo Verde, que este fim de semana realiza a 19.ª campanha de recolha de alimentos.

De acordo com Ana Hopfer Almada, presidente da Fundação Donana, que dirige o Banco Alimentar, 150 voluntários vão recolher donativos em 37 estabelecimentos comerciais da cidade da Praia.

O objetivo é "continuar a alimentar esta cadeia de solidariedade, sobretudo nesses tempos difíceis", referiu.

O Banco Alimentar contra a Fome de Cabo Verde foi criado há 11 anos e "começa a estar muito sobrecarregado", pois o número de pedidos "duplicou desde a pandemia da covid-19", assinalou Ana Hopffer Almada.

No total, 600 famílias de toda a ilha de Santiago recebem as cestas básicas.

"Não temos dados oficiais, mas temos a sensação de que [o cenário] não melhorou", ou seja, de que "há mais pessoas a procurar o Banco Alimentar", sustentou.

"Há pessoas que não fazem três refeições por dia. Precisamos de muitos alimentos para poder dar resposta às grandes solicitações que temos", referiu.

Além da ilha de Santiago, a campanha vai estender-se às ilhas de São Vicente e do Sal.

Apesar da sobrecarga de pedidos no Banco Alimentar, dados do Banco Mundial indicam que a pobreza tem diminuído e essa tendência deve manter-se nos próximos anos em Cabo Verde.

No entanto, a organização alerta que o crescimento económico vai favorecer quem tem mais rendimentos, por causa da inflação nos alimentos.

Segundo o Banco Mundial, prevê-se que a pobreza desça de 15,1% da população em 2023 para 14,9% da população em este ano e 14,2% em 2025.

O nível de pobreza é calculado de acordo com o valor internacional de 3,65 dólares por pessoa, por dia, em paridade com o poder de compra de 2017, utilizando o Inquérito às Despesas e Receitas Familiares (IDRF).

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