O diretor para África da agência de `rating` Fitch disse hoje que o impacto para Moçambique da nova alocação de Direitos Especiais de Saque (DES) do Fundo Monetário Internacional (FMI) será limitado devido à dívida.
"Esta alocação vale 1,8% do Produto Interno Bruto, não é uma gota no oceano, mas tendo em conta os desafios que Moçambique enfrenta, com um `rating` em CCC, esta alocação não deverá resolver os desafios", disse Jan Friederich.
Em entrevista à Lusa por videoconferência a partir de Hong Kong, o analista explicou que "em Angola e Moçambique o rating de CCC reflete não tanto um problema temporário de liquidez, mas sim os desafios de solvência e sobre a sustentabilidade da dívida de uma forma geral, e estes desafios não se resolvem com uma alocação de DES, mesmo que representem 1,8% do PIB".
Moçambique vai receber pelo menos 325 milhões de dólares (275 milhões de euros), que representa a parte dos 650 mil milhões de dólares (550 mil milhões de euros) que equivalem à quota do país, mas este valor deverá ser aumentado, já que o FMI defende que os países mais ricos devem permitir uma canalização de parte da nova alocação para os países mais pobres, nomeadamente os africanos.
Num relatório divulgado esta semana, a Fitch Ratings, detida pelos mesmos donos da consultora Fitch Solutions, escreveu que a nova alocação de DES por parte do FMI não é uma panaceia para os países mais endividados e vincou que o efeito no rating é muito diminuto.
O relatório aponta que, numa lista dos 20 países mais beneficiados pela nova alocação de DES, e onde figuram Angola e Moçambique, o país mais beneficiado em função do PIB é a Zâmbia, mas ainda assim influenciando o modelo de atribuição de ratings em apenas 0,1 pontos, sendo que é preciso um ponto inteiro para influenciar o rating.
"Não antevemos um impacto significativo nos `ratings` devido à alocação", lê-se no relatório.
"As coisas que podiam resolver o problema de Moçambique passam por um crescimento mais rápido do PIB, que é possível devido às perspetivas no setor do gás, mas ainda não chegámos lá", diz Jan Friederich, acrescentando que, por isso, "não há ainda confiança total de que isso aconteça a tempo, e até os projetos estarem em funcionamento, Moçambique continua a enfrentar uma situação muito desafiante".
A diretora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou hoje que em junho deverá apresentar uma proposta formal para uma alocação de 650 mil milhões de dólares em função das necessidades dos 190 Estados-membros.
"Tenciono apresentar em junho uma proposta formal ao conselho de administração para considerar uma nova alocação de 650 mil milhões de dólares, baseada numa avaliação das necessidades de reservas a longo prazo dos membros dos FMI, e consistente com os Artigos do Acordo e com o mandato do FMI", anunciou Kristalina Georgieva.
O anúncio da líder do FMI representa uma evolução face ao valor que tem sido apontado, que era de 500 mil milhões de dólares (423 mil milhões de euros) - embora nunca tivesse ficado claro se este valor expresso em dólares ou em Direitos Especiais de Saque (DES), a `moeda` do FMI -, cujo câmbio equivale a cerca de 456 mil milhões de DES.
No último relatório sobre Moçambique, em dezembro, no qual manteve o rating em CCC, um dos mais baixos, a Fitch previa que o país crescesse 2,8% este ano e 3,3% em 2022 e que a dívida pública esteja em cerca de 120% este ano, descendo para 115% em 2022.