O presidente da Associação de Turismo do Porto e Norte considerou hoje que as entidades que gerem o património devem dedicar a "maior atenção" ao relatório da ICOMOS que identifica o Centro Histórico do Porto como património em risco.
"Preocupa-me e acho que todos temos de lhe dedicar a maior atenção porque a última coisa que nos podia acontecer, era perder este estatuto de património mundial da humanidade. No entanto, não sou fundamentalista em relação a estas críticas, porque também reconheço que as intervenções que foram feitas voltaram a trazer vida a uma cidade que estava morta", afirmou Luís Pedro Martins, em declarações à Lusa.
O Centro Histórico do Porto é um dos três sitos incluídos no mais recente Relatório Mundial sobre Monumentos e Sítios em Perigo, publicado em 2020, pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS, na sigla em inglês), que aborda a situação em 23 países.
No relatório, o organismo consultivo da Unesco identifica risco num total de 14 obras ou projetos em andamento ou realizados na área do centro histórico do Porto, entre os quais o projeto da Time Out para a ala sul da Estação de São Bento, que implica a demolição do corredor sul para construção de restaurante panorâmico.
Para Luis Pedro Martins é necessário perceber o que possível corrigir ou reverter, tendo como objetivo principal não perder o estatuto de património mundial da humanidade.
"Tenho a certeza que existe um plano de gestão do centro histórico, e esse parecer obrigará que seja dedicada uma grande atenção para perceber o que é que é necessário corrigir com urgência, o que é que se pode reverter, tendo sempre como principal objetivo não perder este estatuto de património mundial da humanidade. Nesse sentido, sim preocupa-me e espero, e julgo, que ele irá merecer essa atenção", rematou.
Apesar de admitir, como refere o relatório da ICOMOS divulgado na semana passada, que possa ter existido algum fachadismo, aquele responsável considera que não foi o turismo que desvirtuou a cidade e salienta que é do interesse do setor manter "a marca que conquistou de património mundial da humanidade".
"É um estatuto muito importante para o destino que foi difícil conquistar e que serviu para catapultar para o mundo este território que era desconhecido pelo grande turismo. Foi muito através desta chancela de Porto Património Mundial que nós conseguimos grande visibilidade e notoriedade para o Porto e com ele toda a região", observou.
Lembrando o Porto antes do boom do turismo, Luis Pedro Martins sublinhou que foi este setor que permitiu reabilitar a cidade, à data, deserta e insegura.
"Eu lembro-me de uma cidade que estava a cair antes do turismo chegar ao Porto conforme o conhecemos nos últimos anos, e aí via muito pouca preocupação sobre estas questões. Lembro-me de uma rua Mouzinho da Silveira que estava deserta e que era uma das ruas mais inseguras do Porto, assim como a Rua da Flores e a Ribeira, e vejo hoje que se transformaram nalgumas das ruas mais bonitas da cidade", disse, reiterando, contudo, a necessidade de olhar com atenção para as recomendações do organismo consultivo da Unesco.
Na segunda-feira, numa primeira reação ao relatório, a Direção-geral do Património Cultural (DGPC) disse não se rever na "posição crítica" do ICOMOS que classificou o Centro Histórico do Porto como património em perigo, reiterando a sua aprovação ao projeto da Time Out para São Bento.
Dias antes, na sexta-feira, a Câmara do Porto disse discordar das suas conclusões do ICOMOS, afirmando que estas resultam da sua "profunda ignorância sobre o património" da cidade.
Por seu turno, PSD, PS, CDU e BE acusaram a autarquia de falhar na preservação do valor patrimonial do Centro Histórico, classificado pela UNESCO desde 1996.
Em abril de 2020, o presidente da Time Out Market, João Cepeda, disse que "confiar" que a obra do mercado em São Bento pudesse avançar no último trimestre daquele ano.