A Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP) defendeu hoje que os apoios às empresas, no âmbito das tarifas anunciadas pelo Presidente dos EUA, só poderão ser eficazes com mais desburocratização.
Segundo disse à Lusa o vice-presidente executivo da entidade, Rafael Campos Pereira, após uma reunião com o Governo, que está a receber as associações empresariais, o executivo "tem feito um grande esforço nos últimos meses no sentido de ajudar a desburocratizar e a agilizar" questões como os licenciamentos industriais, licenciamentos ambientais e a gestão dos fundos europeus.
"Portanto, nós reconhecemos que está a ser feito um esforço no sentido de ajudar as empresas, mas achamos que deve continuar-se a fazer esse esforço", destacou.
Para o dirigente associativo, "as medidas de garantias bancárias, seguros de crédito, apoio à internacionalização, que são bem-vindas, só poderão ser eficazes se, de facto, continuar a haver esse esforço de desburocratização".
"Entendemos, e foi recíproco, que este é um assunto [as tarifas] que tem de ser liderado de forma estratégica pela Europa e, portanto, há um conjunto de matérias que tem de ser a Europa a defender", referiu, apontando que "o Governo português deverá defender tarifas zero recíprocas entre a Europa e os Estados Unidos".
Rafael Campos Pereira avisou ainda que "não se justifica, nem vale a pena minimamente estar a tentar compensar o mercado americano com o mercado chinês, porque isso seria verdadeiramente suicida".
"Apesar da exposição direta das nossas empresas ao mercado americano ser apenas de 800 milhões de euros, portanto 3% das nossas exportações, a verdade é que há muitas exportações indiretas de equipamentos e componentes e peças técnicas nossas que são incorporados em produtos finais franceses e alemães e até italianos, que são vendidos depois para os Estados Unidos", alertou o dirigente da AIMMAP.
Rafael Campos Pereira reconheceu assim uma exposição "mais significativa do que a frieza dos números pode evidenciar", alertando ainda para um aumento substancial da burocracia, "até porque as taxas e as tarifas são aplicáveis apenas a parte daquilo que é o preço final dos produtos".
O dirigente associativo sublinhou a necessidade de haver uma negociação entre os EUA e a Europa. "Nós não podemos perder acesso ao principal mercado do mundo, mas os americanos também não querem perder o acesso ao terceiro maior mercado do mundo", referiu.
Por outro lado, alertou, "não faz sentido que a União Europeia esteja a aplicar tarifas às importações de matérias-primas, aço e alumínio, vindas não dos Estados Unidos, mas da China e de outros sítios" quando, "ao mesmo tempo não está a aplicar tarifas com a mesma dimensão e na mesma proporção a produtos transformados".
Desta forma, realçou, "estão a ser penalizados os fabricantes europeus de produtos acabados".
Os EUA anunciaram na terça-feira tarifas de 104% às importações chinesas a partir de hoje, cumprindo a ameaça de aumento das tarifas em 50 pontos percentuais.
Donald Trump anunciou na semana passada as suas novas taxas alfandegárias sobre os produtos chineses a partir de quarta-feira chegariam aos 54%, e ameaçou impor taxas em mais 50 pontos, caso a China retaliasse.
A China retaliou com uma taxa adicional de 50% sobre as importações oriundas dos Estados Unidos, para 84%, intensificando a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Por sua vez, a União Europeia (UE) aprovou hoje, por maioria, a aplicação de tarifas de 25% a produtos norte-americanos, em resposta às tarifas aplicadas pelos EUA ao aço e alumínio europeus.