Apoiantes da energia nuclear criticam limites do Protocolo de Quioto à economia

por Agência LUSA

Os limites impostos pelo Protocolo de Quioto à emissão de dióxido de carbono foram considerados hoje "demasiado exigentes" para o país por Pedro Nunes e Sampaio Nunes, dois investigadores e apoiantes da introdução da energia nuclear.

"Uma das opções em aberto é não cumprir (o protocolo) dada a situação de gravidade da economia portuguesa", afirmou Clemente Pedro Nunes, administrador do Grupo CUF e investigador na área de energia, que apelou ao Governo para renegociar o acordo, que impõe limitações muito restritivas à emissão de dióxido de carbono (CO2).

Este responsável admitiu a introdução da energia nuclear em Portugal para evitar a dependência energética, mas também para aliviar a pressão existente sobre as licenças de emissão de dióxido de carbono que o país dispõe.

Mais entusiasta do nuclear, Pedro Sampaio Nunes, sócio de Patrick Monteiro de Barros e ex-secretário de Estado da Ciência e Inovação, recordou que a instalação de uma única central iria produzir o mesmo que as duas centrais de carvão, as principais responsáveis pela emissão de gases de efeito de estufa em Portugal.

Caso a energia nuclear não seja aceite pelo Governo "estamos metidos numa alhada" porque "somos dos países que produz menos CO2 e não podemos aumentar" as emissões devido aos constrangimentos dos acordos de Quioto, salientou.

Em todo o mundo, existem 440 reactores em funcionamento e na Europa o único problema verificou-se nos anos 80, pelo que "aquilo que para nós é novidade (a energia nuclear) é corrente" no resto do continente, considerou Sampaio Nunes.

Para o sócio do grupo de investidores liderado por Patrick Monteiro de Barros que quer instalar uma central em Portugal, "o problema da segurança dos reactores está completamente resolvido", mesmo no que respeita aos resíduos, já que os custos de vigilância são inferiores aos prejuízos ambientais causados pelos combustíveis fósseis.

Os dois docentes universitários, que foram convidados pela Associação Empresarial da Região de Santarém para realizar um debate sobre energia nuclear em Torres Novas, concordam que a central pode ser construída em qualquer ponto do país, mas Sampaio Nunes aponta o interior devido à possibilidade de entrar no mercado espanhol de energia.

No entanto, a opção pela central nuclear, cujo "project- finance` "é viável sem qualquer apoio público", é uma "janela (de negócio) aberta que se pode fechar" já que o Governo espanhol "está também a discutir" a possibilidade de construir novas centrais.

Actualmente, o preço da energia em Espanha é mais baixo do que em Portugal devido a uma "subsidiação escondida" do Governo aos agentes, nomeadamente às energias renováveis, uma situação que deveria justificar uma queixa de Portugal da Comissão Europeia, defendeu Sampaio Nunes.

A aposta nas energias renováveis está a ser paga com aumentos dos preços para os pequenos consumidores, ao contrário do que sucedeu com Portugal, que penalizou fortemente as indústrias numa estratégia que Sampaio Nunes considera "errada" para o país.

O preço pago pela Rede Eléctrica Nacional às energias renováveis e fortemente apoiado mas "não é aceitável" porque "garante lucros" aos seus promotores, em comparação com os outros agentes do sector, concordou Pedro Nunes.

Este investigador recordou que o preço do petróleo tem tido um grande efeito nas decisões políticas quanto às opções de energia.

"A energia nuclear é fundamental como ferramenta alternativa ao estrangulamento energético da Europa", até porque "nenhum país deve ter uma dependência acima de 40 por cento de uma fonte de energia e Portugal tem 70,8 em relação ao petróleo", considerou.

O peso da factura energética atinge os 60 por cento no défice do país, uma situação que tem vindo a ser agravada com os aumentos do preço do barril do petróleo, que leva os portugueses a pagarem adicionalmente seis mil milhões de euros por ano devido a essa variação, apenas desde 2000.

"Claramente é necessário um novo paradigma energético para Portugal", defendeu Pedro Nunes, apelando aos poderes públicos para estabelecerem um plano de desenvolvimento do sector, que deve incluir a energia nuclear.

"Portugal é o país mais vulnerável ao preço do petróleo na Europa a 25", afirmou este responsável, que considerou ainda insuficientes os resultados de produção da energia eólica que contribuir com apenas 0,038 por cento da produção de energia em Portugal, apesar dos fortes investimentos feitos pelo sector.

No entanto, Pedro Nunes teme que a opção pela energia nuclear ou por outras estratégias de produção energética seja limitada por condicionantes políticas ou da opinião pública à semelhança do que sucedeu no passado.

"Portugal tem sido óptimo a discutir coisas e é péssimo a realizar", resumiu.


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