A proposta de dois dias de greve que na quarta feira foi aprovada em cinco dos seis plenários da AutoEuropa foi apresentada por um grupo de trabalhadores, que também estiveram na origem dos plenários, ao requererem a sua realização com o número de assinaturas estatutariamente exigido.
Nos considerandos da proposta a que a RTP teve acesso, aponta-se a Administração como principal responsável pela situação, por não ter utilizado os 700 milhões de euros que recebeu no sentido de preparar a fábrica e a rede de fornecedores para a produção do T-Roc - o veículo de cuja produção a Volkswagen incumbiu a AutoEuropa. A título de ilustração dessa imprevidência, a proposta alude à recente paragem da produção por falta de componentes.
Os considerandos prosseguem acusando a Administração de tentar colmatar os efeitos da sua própria imprevidência, lançando sobre os trabalhadores os custos e penosidades da mesma, e agravando assim os sacrifícios que já lhes foram impostos ao longo dos anos.
O documento lembra ainda a penosidade inerente ao próprio trabalho por turnos praticado na fábrica e acrescenta que o actual contrato colectivo proíbe a "laboração contínua e trabalho ao sábado à noite sem o consentimento dos trabalhadores". Sendo assim, a intransigência da Administração face a outras alternativas que lhe foram propostas deu lugar ao anúncio de imposição de um horário rejeitado pelos trabalhadores.
Ainda segundo os considerandos, a Administração não devia ter imposto unilateralmente a sua vontade; devia, sim, ter procurado a solução pela via de "um investimento que capacite a fábrica para fazer a produção necessária de segunda a sexta-feira". Se a solução fosse procurada por esta via, seria possível os trabalhadores estarem a discutir neste momento melhorias salariais e condições de trabalho "que os aproximassem às condições dos restantes trabalhadores do grupo, e não horários mais prejudiciais".
Na parte propositiva propriamente dita, o documento aponta para um acordo com vigência de um ano e sem renovação automática, que preveja um investimento da VW na AutoEuropa e, a título transitório, até que esse investimento tenha criado as condições necessárias, um turno de fim de semana.
No caso de a Administração manter a anunciada imposição do novo horário, fica marcada uma greve de dois dias (2 e 3 de fevereiro) para a primeira semana em que o mesmo passaria a vigorar. No dia 17 de janeiro, ficou marcado novo plenário, que já deverá paralisar a produção e que será marcado para outro dia se esse for entretanto de não-produção.
Propostas (na íntegra):
"1. Um acordo com a vigência de um ano, depois do qual ficará automaticamente revogado (com excepção feita ao aumento salarial);
2. Que a Administração da Autoeuropa e o grupo Volkswagen se comprometam por escrito e com validade jurídica a investir na fábrica durante o próximo ano para permitir a produção necessária de segunda a sexta-feira;
3. A preparação de um turno de fim-de-semana de 12h ao sábado (0h às 12h) e 12h ao domingo (12h às 24h), que permita que as folgas não sejam rotativas, nem de apenas um dia;
4. Um aumento salarial digno: 6,5% em 2017/2018 e 6,5% em 2018/2019 com um mínimo de 50 euros por cada ano;
5. Que em todos os passos no processo de negociação com a Administração, a Comissão de Trabalhadores se apresente com um advogado;
6. A marcação de uma greve contra a imposição do AE17 e pela satisfação das reivindicações apresentadas nesta proposta para os dias 2 e 3 de Fevereiro (sexta e sábado da primeira semana na qual a Administração prevê iniciar a imposição);
7. Um plenário por cada turno para dia 17 de Janeiro de 2018 para avaliar o ponto de situação do conflito (caso seja dia de não produção, marcar para outro dia dessa semana ou antecipar para a semana anterior)."