Lisboa em 2023 Adri Salido - AFP

50 Anos de Revolução. Um país de serviços

Portugal tornou-se, desde a Revolução dos Cravos, um país de serviços e de empregados por conta de outrém. Exporta e importa mais e a dívida pública pesa, e muito, nas contas do país e no bolso dos portugueses. Estes gostam de se deslocar de carro para todo o lado. Ou de avião.

O Portugal de 1974 era um país equilibrado em termos de distribuição da população ativa por setores de atividade. Havia também ligeiramente mais homens oficialmente empregados do que mulheres.

Em cinquenta anos, muito mudou. A maior alteração foi o crescimento dos serviços, desfalcando as atividades rurais e de extração.

O Valor Acrescentado Bruto do país reflete a alteração. A economia está agora muito mais dependente do setor terciário.

Calculando em 1974, o VAB total em 2.111 milhões de euros, para este valor os Comércios e Serviços contribuíam com 49 por cento, o setor secundário ou a Indústria e Construção, 40 por cento e o primário, a Agricultura e Pescas, somente 11 por cento, apesar de agregarem mais trabalhadores do que os serviços.

Cinco décadas depois, o VAB cresceu para 231.644 milhões de euros, para os quais os serviços contribuem em 77 por cento, o secundário 21 por cento e o primário dois por cento.

Em 1974, os trabalhadores dos serviços correspondiam a 31 por cento da força laboral, em 2023 arrebanhavam mais do dobro, 72 por cento.

No caminho inverso, o setor primário praticamente desapareceu em cinco décadas
em termos de empregabilidade da população, caindo de 35 para uns meros três por cento.

Já o secundário agrega atualmente 25 por cento dos trabalhadores em vez dos 34 por cento de há 50 anos. Foi assim o que menos sofreu alterações.



A população portuguesa em idade ativa (15 aos 64 anos) é agora de cerca de 6.6 milhões, dos quais 84,9 por cento são empregados por conta de outrem, cerca de 20 por cento acima de há 50 anos (67,5 por cento em 1981).

A média da taxa de desemprego varia entre quatro a seis por cento desde os anos 80, sem contar com o agravamento sentido no início do século.

O salário mínimo rondava os 16 euros nominais em 1974 (3.300 escudos), calculado em valor anual (14 meses) dividido por 12 meses e correspondente a um valor real de 629 euros. Em 2023 era de 956,7 euros.

O país conta hoje com mais de um milhão e 400 mil empresas, quando na década de 90 mal superavam as 580 mil. Atualmente, Portugal pesca um terço do peixe de há 50 anos e produz quase o dobro do azeite.

Portugal tem agora praticamente 650 mil reformados, pensionistas e aposentados, em 1974 eram pouco mais de 73.500.

As prestações sociais correspondiam a cinco por cento do PIB em 1977, em 2022 foram já 12 por cento. A maior fatia cabe às pensões dos mais idosos, agora 8,3 por cento do PIB, contra 3,1 por cento na década de 70.

Outras prestações sociais são residuais, a rondar menos de um por cento, com o subsídio de desemprego três pontos percentuais acima do de há cinco décadas. O apoio às famílias é, pelo contrário, inferior nos mesmos três pontos. Dever e haver
Em termos económicos, a balança comercial portuguesa está atualmente mais equilibrada. Por outro lado, os portugueses só conseguem poupar em termos brutos cerca de seis por cento do que ganham (dados provisórios), quando na década de 70 a poupança bruta era de quase 24 por cento.

Isto apesar do consumo privado em percentagem do Produto Interno Bruto se manter quase inalterado, em torno dos 64 por cento. Já o consumo público é hoje superior em seis décimas (11,5 para 17,6 por cento do PIB) ao de há 50 anos.

Há cinco décadas, o PIB era de 83 019.893 ME, em 2022 era de 211 154.257 ME.

A taxa de inflação é hoje de 7,8 por cento, quase o dobro da vivida por alturas da Revolução dos Cravos, de 4,3 por cento.

Em 1974, e apesar de um 1973 positivo, o saldo da balança comercial foi negativo para Portugal, com as importações a superarem as exportações em 11,6 por cento.

Cinquenta anos depois, em 2023, Portugal tinha crescido enquanto importador, mas o peso das exportações tinha mais do que duplicado
, com uma diferença de 1,2 por cento favorável às contas nacionais.

De notar que, a partir dos anos 80 o saldo corrente foi sendo progressivamente mais negativo para Portugal, com o fundo do poço a ocorrer em 2008, quando a diferença a desfavor do país chegou aos -21.192,8 milhões de euros. A balança comercial só começou a registar resultados globalmente positivos a partir de 2013.

O impacto da pandemia também se fez sentir de forma negativa, interrompendo durante três anos consecutivos, de 2020 a 2021, o equilíbrio comercial favorável.


Uma dívida pesada
Já a dívida pública portuguesa em termos de percentagens do Produto Interno Bruto, aumentou progressivamente desde 1974, quando era de 17,4 por cento, até uns preocupantes 134,9 por cento em 2020.

A tendência de subida foi acentuada logo nos 10 anos após o 25 de abril, com uma ligeira diminuição em 1980. Depois de 1985, estabilizou e passou a oscilar entre os 50 e os 60 por cento até final do século XX. Depois, voltou a disparar.

Só entre março de 2005 e junho de 2011 a dívida cresceu cerca de 45 por cento do PIB, em torno de 90 mil milhões de euros.

Em 2010, a barreira dos 100 por cento foi ultrapassada pela primeira vez, atingindo os 100,21 por cento e chegando aos 129,04 em escassos dois anos.

Para esta circunstância contribuiu a crise da dívida pública da Zona Euro, mas, já desde 2005 que os analistas consideravam o peso da dívida um problema estrutural, algo que não mudou.

Para se ter uma ideia do peso da dívida, em 2016, por exemplo, esta era de 131,6 por cento e correspondia a cerca de 240 mil milhões de euros, ou seja, a 23 mil euros por cada habitante do país ou a um ano e três meses da produção nacional à época.

Portugal como um todo tem ainda de pagar os juros deste dinheiro, que as Administrações Públicas pediram emprestado para poder funcionar.

Segundo indica o Banco de Portugal, registaram-se nos últimos nove anos, e pela primeira vez em décadas, dois períodos de diminuições da dívida.

A tendência de queda iniciou-se em 2015 e acentuou-se entre 2017 e 2019, baixando dos 131,18 por cento para os 116,61 por cento.

Em 2020, o endividamento voltou a disparar, sendo o maior de sempre, de 134,9 por cento. Retomou a descida, agora acentuada, desde 2021. Em 2023 a dívida pública bruta foi de 99,1 por cento (valor preliminar), descendo abaixo dos 100 por cento pela primeira vez em 13 anos, mesmo que ligeiramente.

A tendência de 2024 é de continuação de descida.
De carro e de avião
Sintoma da alteração dos hábitos de vida dos portugueses foi a desativação de um terço das linhas de comboios, a par do desenvolvimento das autoestradas.

Entre 1968 e o início dos anos 80, o investimento público marcava ainda um incremento constante na ferrovia, com aumento de quilómetros de linhas. Mas, a partir dos anos 90 iniciou-se uma queda que se acentuou progressivamente. De 3.563 quilómetros de linhas exploradas em 1974, Portugal caiu para 2.527 em 2022.

Em contraste, dos 66 quilómetros de autoestradas em 1974, centradas em Lisboa e no Porto, o país passou para 3.115 quilómetros, espalhados pelo território nacional, com destaque para o litoral.



O investimento começou no início dos anos 80 do século passado e acentuou-se a partir dos anos 90. Só entre 1997 e 1998 foram construídos quase 500 quilómetros e, até 2008, mais 1400. Daí até 2022, mais 440.

Outra área que mudou igualmente foi o transporte aéreo. Portugal tinha em 1974 quatro aeroportos comerciais, no continente e nas ilhas. Atualmente tem 10.

No continente, além dos existentes há 50 anos em Lisboa, Porto e Faro, a expansão da base aérea de Beja criou um quarto aeroporto comercial. O mais antigo no arquipélago da Madeira fica no Funchal, tendo-se criado um segundo em Porto Santo. E os Açores contam agora quatro, o primeiro na ilha de São Miguel, inaugurado em 1982, e os seguintes nas Flores, na Horta e em Santa Maria.



Portugal tem ainda três companhias aéreas, uma internacional, a TAP, fundada em 1946, e duas regionais, a SATA (Açores), desde 1941, e a Portugália Airlines, criada em 1988 e atualmente parte do grupo TAP.

Portugal tornou-se entretanto um destino internacional apetecível. O movimento nos seus vários aeroportos subiu “em flecha” de forma consistente de ano para ano, como refere a análise da Pordata.

Dos 4,6 milhões de passageiros em 1974, passamos para os 56,7 milhões em 2022. Também o setor de carga, que transportou 54.287 toneladas há cinco décadas, registou 209.417 há dois anos.

Do total de 36.210 aterragens em 1974, passou-se para as 217.629 em 2022. Em anos recentes, só em 2020, ano da pandemia de Covid-19, o número desceu às 100.235, algo que não sucedia desde as 104.599 registadas em 1998.

Há dois anos, o tráfego interno, com 57.014 aterragens, atingiu o nível do internacional registado 25 anos antes, em 1997, de 59.148.