Quarta-feira de manhã, 6 de julho, estádio Pina Manique. Numa manhã de sol, o recém-promovido Casa Pia volta aos treinos. Aos comandos está Filipe Martins, um dos grandes estrategas da subida de divisão casapiana. Desde a temporada 1938/39 que o Casa Pia não estava entre os grandes do futebol português. Explicando novas rotinas, os jogadores completam o primeiro treino do dia.
Pouco depois, em declarações à RTP, o timoneiro casapiano fala da renovação de contrato, do sucesso da época anterior e o que espera do Casa Pia agora na I divisão.
Filipe Martins não tem ilusões. Estar na I divisão é o trabalho de um coletivo a quem foram dadas condições de poder lutar por muito mais. Apesar do sucesso da época anterior, o treinador do Casa Pia sabe das dificuldades que o clube vai passar, especialmente a jogar numa casa “emprestada”, o Jamor, estádio nacional.
Sobre a história do clube, Filipe Martins afirma: “É estar onde a sua história merece. É um dos clubes fundadores do futebol em Portugal, tem uma história ímpar naquilo que é a criação do associativismo”.
Questionado sobre a viagem feita na temporada anterior, Filipe Martins considera que o Casa Pia teve o tempo suficiente para preparar uma equipa competitiva, naquele que foi um dos campeonatos mais competitivos da II Liga nos últimos anos. Apesar de não haver pressão, o balneário cedo decidiu que a subida seria um objetivo tangível.
“Acaba por ser uma coisa, não diria natural, mas acho que é fruto de dois anos de trabalho onde tudo foi pensado ao pormenor”.
Sobre o que esperar do Casa Pia na I divisão, o treinador não deixa margem para dúvida: “Não vamos mudar o nosso ADN, somos uma equipa que gosta de ter bola. Por isso, não vamos mudar o que são as nossas ideias. Vamos defrontar adversários mais fortes mas seguramente vamos ter uma equipa mais competitiva e mais forte. O equilíbrio de forças vai existir”.
Na primeira jornada, o Casa Pia desloca-se aos Açores para na segunda jornada receber o Benfica no Jamor. O treinador casapiano mostra-se calmo em relação ao calendário e avisa que todos terão de jogar contra todos. “Pessoalmente, o cenário não assusta nada”.
Filipe Martins foi depois questionado pela RTP se já tem o plantel que deseja. O treinador não esconde que ainda tem um “plantel curto” mas que acredita que a competitiva estará no “ponto” na altura de entrar em campo. “Estão a chegar reforços e acredito que até ao final do mercado vamos ter a equipa que podemos ter. Vamos, de certeza, construir uma equipa competitiva, uma equipa que faça face às exigências que é defender as cores do Casa Pia”.
Trabalho, resiliência, exigência, seriedade e qualidade
Vasco Fernandes transitou da época passada e falou à RTP sobre a caminhada casapiana no segundo escalão. O capitão do Casa Pia falou também sobre a sensação de estar na “elite” do futebol português e do orgulho que é representar uma instituição com tanta história na cidade de Lisboa.
“É uma sensação de orgulho, de dever cumprido e, sobretudo, de demonstrarmos que era possível. Uma época fantástica [na II Liga], com a ajuda de muita gente, com jogadores fantásticos, equipa técnica, o staff, direção, toda a gente a remar para o mesmo sentido. Adeptos, não nos podemos esquecer, os casapianos hoje podem dizer orgulhosamente que são do Casa Pia sem ter vergonha de nada”.
Sendo um jogador que conhece os cantos à casa, Vasco Fernandes enumerou as qualidades da equipa que fizeram subir de divisão. O capitão casapiano afirmou que a consistência foi a chave do sucesso da equipa, mesmo nos momentos menos bons. Vasco viu um balneário especial, que se manteve sereno e, acima de tudo, unido.
“A equipa nos últimos anos não tem estado na I Liga e não é fácil. E nós conseguimos, à base de união e sobretudo superação nos momentos mais difíceis. Acho que fomos incríveis!”.
Apesar de 42 longas jornadas, o defesa acredita que o sentimento de sucesso começou logo na pré-temporada, depois de um estágio no Algarve. Vasco Fernandes encontrou um grupo que se identificou rapidamente com as ideias do treinador e os jogadores também tiveram esse sentimento de identificação com os colegas.
O jogador de 35 anos acredita que a camaradagem entre o plantel foi o primeiro sinal de que algo de bom poderia estar para vir. Agora na I divisão, o Casa Pia regressa depois de oito décadas. No entanto, Vasco Fernandes sabe o que é jogar na I Liga, depois de passagens por Olhanense ou Vitória Futebol Clube, de Setúbal.
O capitão avisou que não pode haver um “caminho mais curto para o sucesso”. A caminhada tem de ser feita no dia-a-dia. Os novos jogadores têm de ser integrados. Sobre o calendário, não mostra intranquilidade. “Fazer futurologia, imaginar fazer o caminho mais curto para o sucesso pelo calendário para mim não faz sentido nenhum”.
Questionado como vê o plantel neste momento da pré-época, Vasco Fernandes aponta que há muita “ilusão”. O capitão vê jogadores, treinadores, equipa técnica, staff com mais energia por poder jogar numa das melhores ligas da Europa mas sabe que o trabalho vai ser complicado. Vasco Fernandes avisa, o trabalho e a competência terão de ser mostrados dentro das quatro linhas.
O Casa Pia terá de jogar no estádio do Jamor as partidas que eram para ser disputadas em Pina Manique. Vasco Fernandes, apelou aos adeptos casapianos que não deixem de aparecer e que tragam mais casapianos. “Um adepto traz outro adepto. Um casapiano traz outro casapiano. Um, trazer o outro. E os casapianos estão orgulhosos de ser do Casa Pia. Estão orgulhosos de ter crescido na Capa Pia. Isso, para nós, é uma responsabilidade muito grande e para eles é motivo de orgulho”, concluiu.
Uma base vencedora com “elã” de vitória
Diogo Boa Alma chegou esta temporada ao Casa Pia e vai ocupar o cargo de diretor desportivo. Consciente da história deste centenário clube, o diretor desportivo apontou a manutenção como objetivo principal e quer que a mesmo aconteça da forma mais tranquila possível. Mantendo uma base vencedora do ano que passou, o Casa Pia estará preparado para os desafios da I Liga.
“É um orgulho estar de regresso a estes palcos e naturalmente o nosso objetivo passa pela manutenção o mais tranquilamente possível e fazer a melhor classificação que conseguirmos”.
Sobre o plantel que hoje treina no Casa Pia, Diogo Boa Alma admite que ainda são necessárias peças novas, apesar da fé inabalável na base que a equipa apresenta. O diretor desportivo apela também aos adeptos que sejam mais um na luta pela manutenção do clube, assegurando que a equipa vai acabar por festejar.
Sobre o calendário, Diogo Boa Alma fala em sorteios. “Temos que jogar contra todas as equipas, sabemos o que vamos fazer. São 34 jogos, vamos defrontar todas elas em casa e fora. É um pouco subjetivo fazer uma análise se o calendário é positivo ou não. Foi o que nos calhou, é isso que temos de preparar”.
Para além da manutenção, a participação do Casa Pia nas taças também não foi esquecida. Diogo Boa Alma lembrou que as taças também são fruto de sorteios e que a equipa terá de fazer o seu caminho jogo a jogo. Apesar de não serem uma prioridade, o Casa Pia entrará em campo e “vai tentar fazer o melhor e procurar vencer”.