Woody Allen prepara adeus ao cinema sob o signo da polémica

por RTP
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Woody Allen prepara-se aos 86 anos para encerrar a carreira como realizador. Com um último projecto marcado para Paris no próximo mês de Outubro - o filme já tem nome, Wasp 22 - aquele que foi um dos realizadores mais celebrados e controversos do último meio século diz querer tempo para a escrita já que o mundo do cinema deixou de lhe dar gozo. Mas as razões não serão apenas estas: a acusação de abuso sexual contra a filha adoptiva há vários anos que tornou Woody Allen um nome tóxico para a indústria.

“Excitante, dramático e muito sinistro”, é desta forma que Woody Allen pretende despedir-se da sétima arte neste seu 50.º e último filme depois de uma carreira como realizador, actor, escritor e argumentista.

Agora, revelou ao diário espanhol La Vanguardia, o tempo é de se dedicar à escrita e aos livros. Woody Allen confirma assim o que foi adiantando há umas semanas durante uma conversa num live chat no Instagram com Alec Baldwin.

“Provavelmente farei pelo menos mais um filme, mas muita da emoção desapareceu porque já não há todo aquele efeito cinematográfico”, afirmava o realizador, explicando que, “quando se filmava, [o filme] ia para cinemas por todo o país e as pessoas iam às centenas para o ver em grandes grupos no grande ecrã. Agora, fazes um filme e ficas umas semanas num cinema – talvez seis semanas, duas semanas, o que seja – e depois vai diretamente para o streaming ou para o Pay-Per-View”.

“Portanto, não é tão agradável para mim como era. Não tenho o mesmo gozo de fazer um filme e colocá-lo num cinema”.

Mia Farrow, Dylan e Mee Too

Com uma vida pessoal controversa, o desencantamento de Woody Allen poderá não estar apenas relacionado com as novas fórmulas do mundo da sétima arte.

A curta passagem das suas obras, ou mesmo a recusa tout court, não será um mero acaso mas fruto da cultura de cancelamento de que vêm sendo alvo alguns nomes maiores da cultura mundial e que há uns anos tocou ao próprio Woody Allen.

Acusado pela ex-mulher Mia Farrow de abusos sexuais contra a filha adoptiva, Dylan Farrow, quando esta era uma criança, as alegações ganharam nova força na onda do movimento Me Too.

Apesar das repetidas defesas e rejeição destas acusações, o realizador acabaria por ver as suas últimas obras – por exemplo, “A Rainy Day in New York” (Um dia de chuva em Nova Iorque), de 2018, e “Rifkin’s Festival”, de 2020 – com uma distribuição muito limitada nos Estados Unidos.

Com as alegações de Mia Farrow a saltarem de novo para as primeiras páginas, não seria apenas a indústria a sancionar a sua obra, mas também antigos colegas e estrelas do mundo de Woody Allen a distanciarem-se do realizador, como foi o caso de Drew Barrymore e Kate Winslet.
 
Na esteira destas polémicas, a Amazon saltaria fora de um projecto gigantesco para distribuir a sua obra cinematográfica e a casa Hachette Book Group, empenhada nas suas memórias “Apropos of Nothing” (2020), cancelou a edição depois de os funcionários da editora deixarem os escritórios para integrar uma marcha de solidariedade para com Dylan Farrow e sobreviventes de abusos sexuais.
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