Lisboa, 24 Mar (Lusa) - O historiador e crítico de arte Vítor Serrão defendeu hoje a necessidade de estudar e preservar o património artístico português "riquíssimo" espalhado pelo mundo, na sequência de um trabalho de investigação que desenvolveu em Goa.
Em declarações à Agência Lusa antes de apresentar, em Lisboa, uma comunicação sobre esse projecto desenvolvido há um ano, Vítor Serrão, professor catedrático da Faculdade de Letras, sustentou que esta área tem sido "descurada".
"Uma das prioridades da política da cultura deve ser descobrir, inventariar, estudar e defender este património espalhado pelo mundo", defendeu o catedrático, abordando em particular o caso da arte luso-indiana no espaço do antigo império português.
Entre Janeiro e Fevereiro de 2008, num projecto patrocinado pela Fundação Oriente, Vítor Serrão esteve pela primeira vez a pesquisar o arquivo histórico de Pangim (capital de Goa), e também estudou um conjunto de pinturas murais a fresco "extraordinário" no Convento de Santa Mónica.
"Em Portugal não fazemos ideia da quantidade e qualidade dos fundos documentais que remanesceu depois do fim do antigo império português", avaliou, acrescentando que, "apesar de, com o tempo, muito ter desaparecido, não ficou apenas a língua, que também é importante, mas não é tudo".
O património arquitectónico, artístico e documental "é enorme", sublinhou o catedrático, reconhecendo que, ao desenvolver as suas pesquisas na região, no capítulo da arte - sobretudo o período Maneirista - viu ultrapassada a sua expectativa de investigador, baseada no que tinha visto referenciado em livros e trabalhos publicados.
Adiantou que em Goa e Damão "há uma grande riqueza" na área da escultura, arquitectura, pintura, e talha, enquanto que nos arquivos que pesquisou, em Pangim, conseguiu identificar encomendas a artistas portugueses - como os pintores Aleixo Godinho e João Peres - que trabalharam na região entre 1580 e o limiar do período Barroco.
O Mosteiro de Santa Mónica, em Goa, "foi um dos maiores conventos femininos do império português e ficou bem preservado porque foi ocupado por um instituto de Teologia, que continua activo, e permitiu preservar um conjunto de pinturas murais a fresco extraordinário", referiu.
Apesar dos frescos terem sido anteriormente referenciados por outros investigadores, Vítor Serrão observou que não existia ainda um inventário ou estudo iconográfico.
"É preciso recuperar este património e pô-lo no mapa para o proteger como memória colectiva", defendeu o historiador, reiterando que "importa investigar a sério, com base nos fundos inéditos dos arquivos e nas remanescências da arquitectura e artes ornamentais",
A conferência do professor Vítor Serrão sobre este trabalho realizou-se hoje às 15:00 na Academia Nacional de Belas Artes, em Lisboa.
AG.
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