"Uma vida maravilhosa". Morreu o realizador António-Pedro Vasconcelos

por Cristina Sambado - RTP
O cineasta português faria 85 anos a 10 de março José Sena Goulão - Lusa

Morreu aos 84 anos o cineasta português António Pedro-Vasconcelos, confirmou esta quarta-feira a família. Assinou alguns dos filmes mais bem sucedidos nas bilheteiras do país, nomeadamente "O Lugar do Morto", de 1984, e "Jaime", em 1999.

O realizador, que estava internado no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, faria 85 anos no próximo domingo.

"A família de António-Pedro Vasconcelos informa que o nosso A-PV partiu esta noite, a poucos dias de completar 85 anos de uma vida maravilhosa", pode ler-se em comunicado.

Nascido em Leiria a 10 de março de 1939, António-Pedro Vasconcelos foi realizador, produtor, crítico e professor, tendo fundado o Centro Português de Cinema, como indica a biografia patente na Academia Portuguesa de Cinema.

Foi o realizador de alguns dos filmes de maior sucesso comercial e um dos nomes incontornáveis do Cinema Novo Português, cujo filme de ficção foi “Perdido por cem..." (1973).

"Oxalá" (1980) antecedeu aquele que foi, durante muitos anos, o maior sucesso de sempre do cinema português, com mais de 300 mil espectadores: o incontornável "O Lugar do Morto" (1984).

Regressou em 1992 com o ambicioso filme histórico "Aqui D'El Rei"!, mas o sucesso foi retomado com o filme seguinte, "Jaime" (1999), com Saúl Fonseca, Fernanda Serrano e Joaquim Leitão, premiado com a Concha de Prata do Festival Internacional de Cinema de San Sebastian e os Globos de Ouro portugueses de Melhor Filme e Melhor Realização.
Em 1992 foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Também neste filme trabalhou pela primeira vez com Nicolau Breyner (1940-2016), que se tornou uma presença incontornável no seu cinema, em filmes mediáticos, populares e polémicos como "Os Imortais" (2003) e "Call Girl" (2007).

O último filme foi "Km 224", protagonizado por Ana Varela e José Fidalgo, lançado em abril de 2022.

A par do cinema, tendo assinado vários êxitos de bilheteira, como "A Bela e o Paparazzo" (2010), António-Pedro Vasconcelos também foi crítico de literatura e cinema, cronista e comentador televisivo, "com forte intervenção cívica", como escreveu José Jorge Letria no livro de entrevista com o realizador, "Um cineasta condenado a ser livre" (2016).

Um dos campos de intervenção foi a Associação Peço a Palavra, que se bateu publicamente contra a privatização da TAP. O cineasta teve também voz ativa na contestação da privatização da RTP.
"Hoje, mais do que nunca, temos a certeza que o nosso A-PV, que tanto lutou para que todos fôssemos mais justos, mais corretos, mais conscientes, sempre tão sérios e dignos como ele, será sempre um Imortal", acrescentou a família.

“Desalinhado com o regime e alinhado no cinema europeu”

O presidente da República já reagiu à morte de António-Pedro Vasconcelos. Em nota publicada no site da Presidência, lê-se que, “a partir de finais dos anos 1960, António-Pedro Vasconcelos foi um dos críticos e cineastas que prolongaram a esperança num cinema novo português, desalinhado do regime e alinhado com o cinema europeu”.

“Homem culto, frontal, interventivo e intempestivo, gostava de literatura, da clareza e acutilância da prosa de Stendhal, dos grandes mestres do cinema clássico americano, e envolveu-se em campanhas políticas e em combates cívicos, ligados por exemplo à RTP e à TAP”, acrescenta a nota.

Belém recorda que o realizador foi também “professor, cronista e ensaísta, esteve ligado ao decisivo Centro Português de Cinema e à Associação Portuguesa de Realizadores. Em tudo o que fez, foi figura destacada no nosso espaço público do último meio século”.

Marcelo Rebelo de Sousa recorda a “antiga e grande amizade” e manifesta "à Família de António-Pedro Vasconcelos o seu pesar e o seu reconhecimento”.
Figura decisiva na renovação do cinema português
O ministro da Cultura também reagiu à morte do realizador António Pedro Vasconcelos. Em nota de pesar publicada na rede social X, Pedro Adão e Silva recorda que “o cineasta e escritor” deixou desde “muito cedo uma marca na imprensa, como crítico literário e de cinema”.

Na publicação, o Ministério da Cultura recorda o percurso de António-Pedro Vasconcelos como realizador e frisa que se tratou de “antes de tudo, de um cidadão empenhado, inconformado, comprometido desde sempre com os rumos da democracia, designadamente na defesa do serviço público de rádio e televisão”.


Pedro Adão e Silva deixou ainda uma palavra de pesar, “à família, e aos inúmeros amigos e admiradores que deixa nas mais diversas áreas da vida cultural portuguesa”.
"Jovem entusiasmado com a vida"

Mário Augusto recorda a longa amizade com António-Pedro Vasconcelos e afirma que sentiu a morte do realizador como se fosse de "alguém muito próximo da família".

"O António-Pedro era um jovem entusiasmado toda a vida. Nas causas, na atitude perante a defesa dessas causas sociais e públicas que defendia".
O jornalista relembrou ainda a longa carreira de António-Pedro Vasconcelos.

c/ Lusa
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