O Teatro do Imigrante repõe no sábado, em Lisboa, a peça "Na boca do tubarão", que procura "uma perspetiva transversal sobre políticas anti-imigração, questões éticas em saúde pública e a crise migratória atual", disse hoje fonte da companhia.
A peça é composta por "três histórias", todas assentes numa linha condutora - um tubarão branco -, expondo experiências de "quem procura uma vida nova num país estrangeiro, relações políticas divergentes entre um pai e uma filha, decisões éticas sobre vida e morte com que médicos se confrontam num hospital público, e a vivência de um grupo de refugiados à deriva no Mediterrâneo", explicou à agência Lusa Tiago Braz, um dos sete atores do grupo.
A reposição da peça, na Sociedade Filarmónica Recordação D`Apolo, na Ajuda, onde a companhia a estreou em maio, e onde continua a ensaiar, deve-se "à grande procura de público que não conseguiu ver o espetáculo antes", observou o ator, acrescentando que o facto de ser representada fora do palco reduz a capacidade da sala de espetáculos da agremiação a 50 lugares, referiu.
Questões de xenofobia, a crise migratória e a maneira como "as pessoas são abandonadas à sua sorte" foram o ponto de partida para "Na boca do tubarão", o primeiro trabalho da companhia que quer "fazer frente ao avanço da extrema-direita e do discurso de ódio", porque "o discurso de ódio mata", disse à Lusa o diretor do Teatro do Imigrante, Marcelo Andrade, na altura da estreia.
Composta por sete atores profissionais com idades entre os 30 e os "40 e poucos anos", a companhia tem artistas brasileiros provenientes do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Maranhão, e um ator português. Todos exercem profissões diferentes que lhes garantem meios de subsistência, embora esperem voltar a viver do teatro profissional.
O objetivo do grupo "é que [o elenco] seja aberto". E não é por se designar Teatro do Imigrante "que não vai aceitar artistas portugueses ou de outras nacionalidades", acrescentou Marcelo Andrade.
"Criar um espaço de acolhimento de artistas imigrantes que não tivessem a possibilidade de estar numa companhia portuguesa ou que não tivessem outros trabalhos" era e continua a ser objetivo do grupo, frisou hoje Tiago Braz à Lusa.
O encontro entre os sete atores foi sucedendo por acaso, em meio académico, profissional ou através de amizades comuns, até que decidiram juntar-se depois de Marcelo Andrade, ator brasileiro a residir em Portugal onde frequenta um mestrado, verificar que não representava há demasiado tempo.
Em novembro de 2023, decidiram juntar-se, formar o grupo e andaram de espaço em espaço até irem parar à Sociedade Filarmónica Recordação D`Apolo, que os acolheu "muito bem" e lhes disponibilizou um espaço para ensaios e sala para apresentarem espetáculos.
É ainda naquele espaço da Ajuda que se mantêm e onde "Na boca do tubarão" terá mais seis récitas: nos dias 10, 15, 16, 17, 22 e 23 de novembro.
À sexta-feira e ao sábado as sessões são às 20:00, ao domingo, às 17:00.
A peça tem dramaturgia, encenação, cenário e figurinos de Marcelo Andrade e a interpretar estão Alexandra Marinho de Oliveira, Gabriella Hedegaard, Geraldo Monteiro, Gonçalo da Costa Ramalho, Lorena Garrido e Tiago Braz, com participação especial de Camilo Bevilacqua.
Na construção dos objetos cenográficos estão Gonçalo da Costa Ramalho, Marcelo Andrade e Tiago Braz, na preparação corporal e na vocal Gabriella Hedegaard e Geraldo MOnmteiro, respetivamente.
O desenho de luz é de Renato Machado, a banda sonora de Felipe Maciel e as fotos e vídeos de keise.