Teatro de Valença com 135 anos em ruína porque ninguém encontra certidão para atestar a posse

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Viana do Castelo, 26 dez (Lusa) -- A falta de uma certidão que comprove quem são os proprietários está a impedir a recuperação de um teatro, construído em 1876, em risco de ruína no centro de Valença.

A Associação de Socorros Mútuos de Valença, que apoiava os associados em despesas de saúde e funerais, é reconhecida como a proprietária do imóvel e já o ofereceu à Câmara para que possa ser recuperado, mas não existe qualquer certidão que comprove a posse.

O teatro foi construído pela então Sociedade Artística de Valença que, poucos meses depois, mudou o nome para Associação de Socorros Mútuos mas a mudança do registo do imóvel nunca foi feita. Por isso, agora, a Câmara quer recuperar o espaço mas, antes disso, é necessário que o legítimo proprietário transfira o edifício.

"Estamos na disposição de encontrar uma solução, mas não posso dizer que vamos fazer obras porque o edifício não é propriedade da Câmara", afirmou o presidente da autarquia, Jorge Mendes (PSD).

"Nós queremos ceder à autarquia, só não encontrámos em lado nenhum uma certidão que ateste a posse", disse hoje à Lusa Salustiano Faria, um dos vinte associados que já aprovaram por "unanimidade" a entrega daquele edifício.

"Não faz sentido termos aquele edifico que tanto diz à população de Valença em risco de ruína e a afetar os restantes prédios vizinhos. Da nossa parte existe total disponibilidade para isso, falta apenas encontrar uma solução para legalmente o podermos fazer", assegurou.

Com 330 lugares, o cine-teatro Valenciano foi construído em 1876, remodelado em 1915, tendo passado a exibir também cinema, como o primeiro espaço para tal naquela cidade.

Em novembro de 1932, recebeu o "Grupo dos Cinco", composto por Palmira Bastos, Amélia Rey Colaço, Maria Clementina, Raul de Carvalho e Robles Monteiro, que ali apresentaram "O Diabo Azul" e "Oiro de Lei".

As representações levaram mesmo à colocação de uma lápide, no teatro, para assinalar a data.

Um espaço que Jorge Mendes recorda ter "causado furor devido às suas magnificas instalações" e "palco para grandes artistas portugueses", um cenário bem distante dos riscos que hoje apresenta.

O edifício "apresenta risco de ruína. A Câmara já solicitou um estudo para avaliar com mais pormenor o estado do edifício e o risco de ruína. Os problemas na cobertura são evidentes. Sei que é difícil, mas estamos dispostos a encontrar a melhor solução possível", disse ainda o autarca de Valença.

Neste momento, é o edifício "mais degradado da Fortaleza" de Valença, mas a autarquia quer encontrar um novo destino para o espaço, cujo uso "será sempre cultural".

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