"Tabacaria" de Fernando Pessoa em cinco idiomas e ilustrada com fotos

por Agência LUSA

Uma nova edição de "Tabacaria", de Fernando Pessoa, acompanhada da tradução em quatro línguas e ilustrada com fotografias inéditas a preto e branco de Luís Miguel Castro foi hoje apresentada em Lisboa pela editora Guerra & Paz.

"Quisemos fazer um objecto de culto para os fanáticos da obra de Pessoa", justificou o editor, Manuel Fonseca, na apresentação da obra, acrescentando que o objectivo primordial foi "cruzar a palavra e a imagem".

Além de incluir "uma interpretação fotográfica" a preto e branco dos poemas assinados pelo heterónimo Álvaro de Campos, o livro é acompanhado de traduções em inglês, francês, italiano e castelhano, e também notas biográficas "que abrem pistas ao leitor".

Luís Miguel Castro, que é designer gráfico da editora, explicou que a ideia inicial era "recorrer a imagens de arquivo", mas acabou por optar fazer "fotografias de raiz", percorrendo os caminhos de Pessoa pela capital que conhecemos hoje.

Depois do seu regresso definitivo da África do Sul, em 1905, com 17 anos, o poeta praticamente nunca mais saiu da capital, que percorria diariamente entre a Baixa, onde trabalhava, e Campo de Ourique, onde viveu desde 1920 até à data da sua morte.

"As fotografias cobrem todos os poemas e pode parecer por vezes que não estão relacionados, mas no todo essa relação existe", comentou Luís Miguel Castro.

O designer gráfico convidou o músico Vítor Rua para fazer de modelo nalgumas das fotos "por ser uma figura fisicamente, e até na maneira de andar, muito parecida com Fernando Pessoa".

Quanto às traduções, o editor Manuel Fonseca decidiu usar o trabalho de dois "tradutores canónicos" de Fernando Pessoa para o inglês e francês, respectivamente Jonathan Griffin e Armand Guibert.

Ramiro Fonte, escritor galego, director do Instituto Cervantes em Lisboa, foi convidado a fazer a tradução para castelhano. Na apresentação do livro comentou: "Leio Fernando Pessoa há trinta anos e não estou cansado".

Autor de cerca de duas dezenas de livros de poesia, ficção e ensaio, o escritor e tradutor salientou a sua admiração pelo poeta português, dizendo ser "um privilégio poder lê-lo na sua língua original".

Para a tradução em italiano, Manuel Fonseca convidou Neva Cerantola, italiana especialista em História e Crítica de Cinema, a residir há muito anos em Lisboa e que trabalha actualmente na Cinemateca Portuguesa.

"É a minha estreia na tradução de poesia e foi um desafio que a princípio me intimidou, devido à grandeza de Pessoa", admitiu a tradutora, acrescentando que quando o aceitou quis libertar-se de todas as regras tradicionais deste trabalho.

"Fiz uma tradução muito emocional. Tentei sempre entrar na condição humana e existencial do poeta", explicou.

O poema "Não sou nada/Nunca serei nada/Não posso querer ser nada/à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo", que inicia "Tabacaria", é a entrada para o universo de uma das figuras imortais da literatura portuguesa, falecida em 1935.

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