Lisboa, 27 abr (Lusa) - "O gigante enterrado", o mais recente romance do escritor japonês Kazuo Ishiguro, premiado autor de "Os despojos do dia", é editado este mês em Portugal pela Gradiva.
Kazuo Ishiguro, nascido em Nagazaki e a viver desde a infância no Reino Unido, esteve dez anos sem publicar um romance, depois de "Nunca me deixes" (2005).
"O gigante enterrado", que o autor descreve como uma história sobre memórias perdidas, começou a ser escrito há dez anos, mas o primeiro rascunho ficou pelo caminho, depois de ter sido bastante criticado pela mulher.
Decidiu então publicar um livro de contos, em 2011 recuperou o tal rascunho, escreveu "O gigante enterrado" e só o deu a ler à mulher depois de terminado.
A memória é um tema recorrente na obra de Ishiguro, mas desta vez o autor queria explorar a ideia de memória coletiva, e de como as sociedades recorrem ao esquecimento para recuperar de traumas do passado, como contou em entrevista ao jornal New York Times.
Apesar de ter bastos recursos históricos na atualidade para falar sobre o assunto, Kazuo Ishiguro enveredou pela fantasia, situando a história num tempo antigo, há dois mil anos, e no terreno literário de George R.R. Martin (autor da série "Crónicas de Gelo e Fogo") e J.R.R. Tolkien (autor da trilogia "O senhor dos Anéis").
"Eu queria pô-lo num cenário onde as pessoas não o interpretasssem de um modo literal e não pensassem `Ó, ele está a escrever um livro sobre a desintegração da Jugoslávia ou sobre o Médio Oriente`", explicou na mesma entrevista.
Os protagonistas de "O gigante enterrado" são Axl e Beatrice, que procuram o filho de quem quase não se lembram. Nesta demanda, acabam por ser acompanhados por um cavaleiro e por um guerreiro. "Uma amnésia colectiva parecia ter-se instalado na zona, como uma névoa de esquecimento geral", lê-se no resumo feito pela editora.
Kazuo Ishiguro, que em novembro fará 60 anos, tem vários títulos publicados em Portugal, nomeadamente "Os despojos do dia", romance que lhe valeu em 1989 o Man Booker Prize, "Quando éramos órfãos", "Nunca me deixes" e "Os inconsolados".
O escritor, que na juventude queria ser cantor e compositor, também escreve letras de canções para Stacey Kent e diz-se um músico amador.