Rizoma é a primeira orquestra social de São Tomé e Príncipe e forma jovens com valores

por Lusa

A Rizoma é a primeira orquestra social de São Tomé e Príncipe, criada em 2022, num projeto da Fundação da Criança e Juventude, que tem promovido a formação musical de mais de uma centena de jovens, incutindo-lhes valores sociais.

A orquestra surgiu no âmbito de um projeto também denominado Rizoma, cofinanciado pela União Europeia e o Instituto Camões, de Portugal, no âmbito do projeto PROCULTURA, que visa o desenvolvimento socioeconómico através das artes cénicas, música e cultura nos países africanos de língua oficial portuguesa.

Segundo a presidente da Fundação da Criança e da Juventude, Cristina Paço d`Arcos, o nome Rizoma provém da área da botânica que representa uma planta que tem imensas raízes, inspirando assim o slogan da orquestra "Rizoma: crescer com raízes".

"As raízes entram no planeta, entrelaçam-se, misturam culturas, misturam-se povos, todos unidos no mesmo conceito", sublinhou.

Segundo Cristina Paços d`Arcos, no início do projeto foram selecionados cerca de 25 jovens "com alguma noção de música", dos quais 10 iniciaram então as aulas online com a Orquestra Geração de Portugal, que é também parceira do prejeto.

"Todo o conhecimento que os nossos jovens professores adquirirem com a Orquestra Geração, eles replicam ensinando às crianças e aos jovens, porque cada professor é especialista num instrumento", explicou a presidente da Fundação da Criança e da Juventude em entrevista à Lusa.

Cristina Paço d`Arcos referiu que, a partir da orquestra e da música, a Fundação procura "mudar as vidas das crianças e também ajudar muito as famílias, de forma a que valorizem os seus filhos".

"Nós trabalhamos muito a autoestima da criança, porque achamos que uma criança que a sua autoestima esteja elevada ela consegue outros níveis de sucesso, não só na família, na integração com os amigos, com a sociedade, mas também ao nível escolar", disse.

Paço d`Arcos contou que pela Fundação da Criança e da Juventude já passaram muitas pessoas, incluindo alguns que hoje são responsáveis de instituições são-tomense e também pais de algumas crianças que participam agora nas atividades.

Apontou que, na orquestra Rizoma, há "muitas crianças e alguns jovens em que a vida deles já mudou bastante", e exemplificou, referindo mudanças "em termos da aprendizagem", em que os jovens se tornaram "extremamente focados, obedientes", recebendo louvores na escola e na Fundação, impressionando inclusive os pais e encarregado de educação.

Desde a sua criação, a orquestra Rizoma tem participado em vários eventos e já se apresentou na Presidência da República e na Embaixada de Portugal, bem como na 14.ª Cimeira de Chefes de Estado e Governos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada em São Tomé em agosto do ano passado.

No entanto, Cristina Paço d`Arcos lamentou que haja pessoas com "dificuldade em perceber o sentido da orquestra", chamando-lhe muitas vezes banda, embora, agora, já muitos "têm esse conhecimento", graças à divulgação na comunicação social, o que tem feito aumentar a procura de pais que querem inscrever os filhos e até adultos que também procuram as aulas.

Segundo a presidente da Fundação da Criança e da Juventude, uma "parte muito importante da orquestra" é o "resgate cultural" das músicas tradicionais são-tomenses, muitas das quais não se ouvem há muito tempo no arquipélago.

"Este é um dos objetivos da orquestra Rizoma: é ir resgatar essas músicas, esse património, esse tesouro", sublinhou.

Cristina Paço D`Arcos quer levar a orquestra à ilha do Príncipe e instalar polos em todos os distritos do país para acolher mais crianças e jovens.

Clisman Carvalho é um dos professores na orquestra Rizoma e responsável pela assessoria pedagógica e considera que o trabalho no projeto "tem sido bastante desafiador, mas muito interessante e motivador pelos resultados" registados desde o início.

"Já vejo algumas mudanças significativas no comportamento [dos alunos] e na crença dos pais, que começam a acreditar que os seus filhos têm capacidade de fazer coisas", sublinhou Clisman Carvalho.

A aluna Rosana Soares, de 24 anos, que está a aprender a tocar a guitarra, afirmou que, no Rizoma, "os professores são amigos dos alunos e há um ambiente familiar durante as aulas".

"Tem sido como uma outra família para mim [...] aqui a gente dá muitas risadas, muitas brincadeiras e vejo muitos amigos", acrescentou outro aluno, Abramovitch Gomes.

A Fundação da Criança e da Juventude foi criada em dezembro de 2005 por Cristina Paço d`Arcos, a pedido do antigo Presidente são-tomense Fradique de Menezes, e é também um centro de acolhimento para jovens abandonados.

Além do projeto Rizoma, a instituição promove outros projetos, nomeadamente, de reciclagem, preservação ambiental, consciência ambiental, projetos agrícolas, limpeza de praias.

 

JYAF // MLL

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