"Ribeira Negra" de Júlio Resende definitivamente no edifício da Alfândega do Porto
Júlio Resende manifestou-se hoje "feliz" por ver os originais da sua mais célebre obra, "Ribeira Negra", expostos definitivamente no edifício da Alfândega do Porto, muito perto da zona que inspirou o mestre.
Na cerimónia de entrega da obra ao edifício da Alfândega, Júlio Resende, que completou 90 anos dia 23, pediu desculpa por ter "falado muito" sobre o facto de a Câmara do Porto manter encaixotados os originais da "Ribeira Negra" há mais de 20 anos.
O presidente da autarquia, Rui Rio, refutou a ideia de que Júlio Resende tenha falado demais, reconhecendo que a Câmara do Porto, a quem o pintor ofereceu os originais, podia ter encontrado há mais tempo um lugar de exposição permanente.
"Conseguimos resolver o problema. Não era fácil, porque era preciso uma parede muito grande, superior a quarenta metros", salientou Rui Rio, referindo-se à dimensão da obra.
O autarca afirmou que só ficou a saber da existência dos originais da "Ribeira Negra" há poucos meses, quando foram expostos, no Verão, na Bienal de Vila Nova de Cerveira.
"Temos de dar um jeito na iluminação", disse Rui Rio, reconhecendo que a obra, colocada na parede do primeiro piso da entrada principal do edifício da Alfândega, precisa de uma iluminação adequada.
A "Ribeira Negra" junta-se às mais de 200 pinturas que estão expostas até domingo no edifício da Alfândega, por iniciativa da Cordeiros Galeria.
O galerista Agostinho Cordeiro defendeu que a "Ribeira Negra" merecia um lugar mais apropriado, como o Museu de Serralves, opinião que foi contestada por Carlos Brito, presidente da Associação para o Museu dos Transportes e Comunicações, gestora do edifício da Alfândega.
Carlos Brito, que era vereador da Câmara do Porto quando Júlio Resende ofereceu os originais à autarquia, considerou a Alfândega um local "espectacular" para a "Ribeira Negra", dado ser palco de grandes eventos internacionais e de receber anualmente a visita de milhares de crianças.
Os originais agora expostos na Alfândega serviram de base para a mais célebre obra de Júlio Resende, o gigantesco painel de azulejos "Ribeira Negra" existente à saída do tabuleiro inferior da Ponte de D. Luís I.
As telas originais, com uma superfície total de 120 metros quadrados, estavam "cuidadosamente guardadas" num armazém do município, na Biblioteca Almeida Garrett, um local com todas as características de climatização adequadas para garantir a sua preservação, garantiu recentemente à Lusa o vereador da Cultura, Gonçalo Gonçalves.
"Gostaríamos de poder ter as telas em exibição permanente, mas não é fácil, devido à sua dimensão, conseguir um espaço condigno para expor esta obra", justificou então o autarca.
No entanto, Gonçalo Gonçalves refutou a ideia de que as telas estivessem escondidas do grande público.
"Sempre que possível, incluímos estas telas em exposições temporárias na cidade e gostamos também de as enviar para exposição de grande perfil fora da cidade, como embaixadoras culturais do Porto, como aconteceu recentemente na Arte Lisboa 2006 e na Bienal de Cerveira deste ano", disse.