Rei do Bailundo no Brasil para cumprir profecia e fortalecer luta contra racismo 

por Lusa

O rei tradicional angolano do Bailundo, Ekuikui VI Tchongolola Tchongonga, que realizou a sua primeira visita ao Brasil, disse, numa entrevista à Lusa, que está no país para cumprir uma profecia e fortalecer a luta contra o racismo. 

 "Como representante máximo do poder tradicional no reino do Bailundo e da etnia linguística dos povos Ovimbundos, o meu objetivo nesta viagem é fazer o cumprimento de uma grande profecia dos nossos ancestrais. Os nossos ancestrais desde os tempos antanho tinham como objetivo ir ao encontro dos filhos que um dia foram arrancados da África, de Angola, para os diferentes países que um deles é a República Federativa do Brasil", disse.

"Nós não viemos com o objetivo de tirar as pessoas daqui para a África, para Angola, mas sim para dizer, em cada lugar, que, onde quer eles [afrodescendentes] estiverem, eles devem trabalhar com harmonia, devem manter calma, e também fortalecer o combate ao racismo", completou.

O soberano do reino subnacional do Bailundo, Ekuikui VI Tchongolola Tchongonga, de 39 anos, detém importância cultural e espiritual entre os integrantes do maior grupo étnico de Angola (os Ovimbundos representam 37% da população angolana). 

No país sul-americano, cumpriu um extenso programa nos estados de Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo, onde foi destaque em eventos de comemoração do mês da consciência negra, celebrado em novembro.

À Lusa, Ekuikui VI explicou que a viagem foi organizada para expressar uma nova visão sobre a África para os brasileiros e "fortalecer os corações de todos os afrodescendente, de todos os filhos que estão aqui e dizer que em nenhum momento eles foram filhos de escravos e escravos, mas sim, filhos de reis e rainhas".

 "O nosso objetivo aqui também é manter o intercâmbio cultural tradicional dos nossos hábitos de costume, porque nós estamos numa grande luta de resgatar, valorizar e empoderar os nossos hábitos e costumes, e também viemos, de um outro lado, diminuir um pouco a saudade que perdurou mais de 400 anos", acrescentou.

Dos 10,5 milhões de africanos capturados e submetidos a escravatura, mais de um terço desembarcou no Brasil, segundo a Base de Dados do Comércio Transatlântico de Escravos. Especialistas, porém, consideram esse número mais elevado, afirmando que cerca de 5 milhões de africanos desembarcaram no país. Cerca de 60% dos escravizados trazidos para o Brasil eram originários de Angola.

 A autoridade tradicional angolana esteve na região sul do país, tendo participado num evento na Universidade Federal de Santa Catarina, no Rio de Janeiro, onde visitou o cais do Valongo e a  região da pequena África, além de participar numa extensa programação cultural, que também contou com visitas a quilombos (comunidades fundadas por descendestes de africanos que fugiram da escravatura), encontros com professores, artistas e representantes da comunidade negra.

Fazendo um breve balanço sobre a visita ao Brasil durante uma atividade com artistas e professores no Centro Cultural Casa de Angola, em São Paulo, Ekuikui VI avaliou positivamente a jornada no país sul-americano, tendo em conta o cumprimento de todos os pontos do que o trouxe ao país.

"Acreditamos que [é um] balanço positivo, porque devíamos diminuir a saudade, mas estamos a deixar outra, tendo em conta as palavras mágicas que nós deixamos nos corações dos nossos irmãos, dos nossos filhos. Acreditamos que, de agora em diante, eles terão uma outra forma de lutar contra o racismo", afirmou.

"Também do nosso lado voltamos com corações alegres, porque tivemos uma resposta de vários dirigentes do Governo daqui da República Federativa do Brasil de que as leis já estão em curso. Já há muita lei escrita. O que vai faltar é implementá-la para, sim, trazer a dignidade do povo negro e isso nos alegra bastante", concluiu. 

 

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