Reeditada obra "Salazar, o fim e a morte" com documentação inédita

por Lusa

Redação, 24 jul (Lusa) -- A obra "Salazar, o fim e a morte", de Eduardo Coelho e António Macieira Coelho, é reeditada vinte anos após a primeira edição, ampliada e revista, com documentos inéditos, e um prefácio de Paulo Otero.

Entre os documentos inéditos, incluem-se os textos do cirurgião Eduardo Coelho, uma compilação ordenada dos apontamentos datados de 05 de setembro de 1968 a 28 de julho de 1970 - datas entre a hospitalização, a intervenção cirúrgica e a morte de Oliveira Salazar - não revistos pelo autor e médico do chefe de governo, que preparava um livro, como o anunciou em 1970, na apresentação da sua obra "Sob plátanos de Cós".

O economista Macieira Coelho afirma na introdução que esta é "a voz de Eduardo Coelho, no ano do seu centenário e a 25 anos da morte de Oliveira Salazar". "Aí está, como ele a deixou. Sensível, perscrutante, veemente", sublinha.

Estes eram textos e notas preparatórios de Eduardo Coelho, para o livro, que anunciara, e se intitularia "Salazar visto pelo seu médico".

Sobre a documentação inédita, agora trazida a lume, Paulo Otero, que assina o prefácio, afirma que são documentos "que permitem extrair importantes ilações de conteúdo histórico e político que vão muito além do tema da agonia de Salazar".

No prefácio, o catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa realça que o livro foi "escrito com objetividade, fidelidade e a proximidade própria de quem foi protagonista da longa agonia de Salazar".

Para o catedrático, a obra de Eduardo Coelho e do seu filho, Nacieira Coelho, "é mais do que um relatório ou uma sucessão ordenada de factos, segundo a ótica de quem os viveu de perto ou os acompanhou de um ângulo de visão único", é antes "um retrato humano de Salazar, enquanto doente e moribundo e, de certa maneira, também, um retrato da desumanidade e conflitualidade de interesses que gravitaram junto" do então presidente do conselho de ministros, e que liderava o país desde finais da década de 1920.

Paulo Otero chama ainda a atenção para "uma curiosa reflexão de António Macieira Coelho sobre a designada `presença maçónica no fim da operação` de Salazar".

Adianta o catedrático que é sabido que o "consulado de Salazar" assentou em "vários equívocos compromissórios entre forças contrárias", desde o equilíbrio entre monárquicos e republicanos, e entre militares e civis, e "verifica-se que o regime também se baseou numa permanentemente ambiguidade de relacionamento entre membros da maçonaria e destacados católicos -- talvez esse tenha sido um dos segredos da longevidade política" de algumas figuras da ditadura do Estado Novo e a causa da brevidade de outras.

A obra, publicada pel`A Esfera dos Livros, reproduz notas, telegramas e imagens da época, correspondência nacional e estrangeira dirigida a Eduardo Coelho, e até a lista dos turnos das enfermeiras que estiveram "de vela" ao quarto n.º 68, onde estava Salazar e que ainda ostenta o nome de Casa de Saúde de St.º António da Convalescença, que, desde 1965, já se intitulava da Cruz Vermelha.

António de Oliveira Salazar esteve hospitalizado entre finais de 1968 e princípios de 1969, depois de ter dado uma queda no Estoril, no período de veraneio, tendo morrido em julho de 1970, já afastado do poder executivo.

Eduardo Coelho foi o seu médico pessoal, que, após a queda, em setembro de 1968, lhe diagnosticou um hematoma intracraniano subdural e defendeu a sua operação com urgência.

Economista de formação, Macieira Coelho recebeu em 1961 o Prémio Jan Tinbergen. Como bolseiro do Deutsche Bank, frequentou as universidades de Bona, Colónia e Frankfurt. Atualmente é membro do conselho consultivo da Fundação Marquês de Pombal e é autor, entre outras, da obra "António Macieira-Coelho, uma figura singular da I República".

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