Realejo e caixa de música com dois metros em leilão inédito em Lisboa
Lisboa, 17 Mar (Lusa) - Um realejo de 1815 e uma antiga caixa de música mecânica com dois metros são algumas das raridades que podem ser manuseadas na exposição de instrumentos musicais que vão a leilão quinta-feira em Lisboa.
Nas instalações da Leiria & Nascimento - organizadora do primeiro leilão de instrumentos musicais em Portugal, com a particularidade inédita de ter um catálogo em escrita Braille - estão concentrados os 115 lotes que vão à praça a 19 de Março, desde guitarras eléctricas modernas, violinos, cítaras antigas, clarinetes, trompetes, saxofones e até um berimbau.
Porém, a estrela do conjunto, para Clara Ferreira Marques, directora-geral da leiloeira, é um piano de fabrico francês com cauda, folheado em pau-santo e com aplicações decorativas em bronze dourado e cinzelado. É o instrumento com base de licitação mais cara, entre os oito e os 12 mil euros.
"É normalmente considerado o rei dos instrumentos musicais", justificou a responsável, que também tem para leiloar pianolas, um piano vertical e uma harpa dourada com oito pedais.
Os instrumentos com base de licitação mais baixa são cítaras de mesa antigas, que variam entre os 50 e os 80 euros.
Outra raridade é uma "juke box" (caixa de música mecânica) do início do século passado, com mais de dois metros de altura, em madeira, com um vitral colorido em estilo arte-nova, que deve ter animado bares e recintos de baile noutros tempos.
Fora do catálogo, a precisar de restauro, mas também à venda, há um realejo (uma espécie de órgão mecânico) do século XIX, "uma peça interessante, de colecção, que já não se vê à venda e é muito representativa de uma certa época", comentou.
Clara Ferreira Marques disse à Agência Lusa que os instrumentos são provenientes de três colecções particulares existentes em Portugal: "A minha ideia era fazer um leilão iconográfico, com instrumentos e outras peças de pintura e escultura ligadas à música, mas não foi ainda possível", explicou.
"Mesmo assim, é uma grande ousadia fazer este leilão - afirma - porque nunca foi feito um no género em Portugal". Clara Ferreira Marques diz ter "revolucionado" a forma de fazer leilões no país desde que há cerca de um ano começou a fazê-los especializados em certos objectos.
"Também fazemos leilões generalistas para comerciantes, mas é bom sensibilizar as pessoas para outros mercados", sustentou.
Da experiência de mais de vinte anos na área dos leilões, a responsável concluiu que mudou muito, e deixaram de ser acontecimentos exclusivos rodeados de uma áurea elitista.
"Antigamente os leilões eram só para certas pessoas, a burguesia endinheirada, mas hoje são para toda a gente interessada em peças antigas ou raras", descreveu.
Também se acabou o tempo em que as licitações eram feitas na sala por sinais como cruzar a perna ou piscar o olho: "Agora é só levantar a raquete [com um número que identifica o interessado] e pronto!", indicou.
Outro aspecto inédito deste leilão da Leiria & Nascimento é a disponibilização de um catálogo complementar para invisuais escrito em linguagem Braille.
A leiloeira teve grandes dificuldades em criar esta publicação: "Só conseguimos encontrar uma empresa que fizesse o catálogo em Braille e foi bastante caro. O único apoio que tivémos foi dos CTT, que não cobra o envio destes documentos", disse, sobre o facto de ter enviado exemplares a entidades ligadas a deficientes.
"Por alguma razão pensei em fazer este catálogo em Braille, mas não consigo explicar bem. Achei que era natural que os invisuais também tivessem acesso ao leilão", explicou.
Os instrumentos, partituras antigas, arcos, discos de música clássica em vinil estarão em exposição até cerca das 15:00 de 19 de Março, estando o leilão previsto para as 21:30 do mesmo dia naquelas instalações da Leiria & Nascimento, na Rua de Santo António, na zona da Estrela.
Na criação do catálogo, a Leiria & Nascimento teve a colaboração do professor Ricardo Branco e do músico Pedro Caldeira Cabral.