A inauguração das obras de reabilitação do antigo Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha cabo-verdiana de Santiago, atual Museu da Resistência, vai decorrer este sábado, com alguns meses de atraso devido à pandemia de covid-19.
A informação foi avançada pelo Instituto do Património Cultural (IPC), recordando que o campo de Concentração do Tarrafal foi classificado pelo Governo de Cabo Verde como Património Cultural Nacional em 2016 e integra atualmente na lista indicativa de Cabo Verde na UNESCO.
Em declarações à agência Lusa em setembro passado, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, avançou então que está prevista a entrega da obra de reabilitação pelo empreiteiro na "primeira quinzena de janeiro" de 2021.
Trata-se do museu mais visitado em Cabo Verde, mas que está encerrado desde 09 de março de 2020 para obras de reabilitação que deveriam levar oito meses a concluir, inseridas no plano do Governo para candidatar o espaço a Património da Humanidade.
Contudo, explicou Abraão Vicente, devido à pandemia de covid-19, nomeadamente na logística e "chegada dos materiais importados", a obra acabou por parar e só começou a ser retomada em "finais de julho".
A assinatura da consignação da empreitada no antigo campo de concentração, pelo Ministério da Cultura e Indústrias Criativas à construtora Vilacelos, empresa com sede em Barcelos, Portugal, através da sucursal em Cabo Verde, aconteceu no final de fevereiro de 2020, sendo a obra realizada no quadro do Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidade (PRRA), através do Ministério das Infraestruturas, do Ordenamento do Território e Habitação.
O ministro da Cultura explicou anteriormente que a obra, de 29,5 milhões de escudos (265 mil euros), visa um dos requisitos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) para a candidatura a Património da Humanidade que o Governo cabo-verdiano pretende apresentar em 2021.
O investimento implica a substituição de telhados das antigas celas comuns e pavilhões, e a criação de um percurso pelo interior do antigo campo de concentração, levando ao reforço da componente de museu, entre outros trabalhos.
Abraão Vicente disse que o objetivo da obra de reabilitação e da candidatura à UNESCO passa por "transformar um espaço que era triste e que devia envergonhar" num local de "orgulho", desde logo para a população do Tarrafal.
O ministro afirmou também que é necessário "ficar em paz" com aquele local, por exemplo na tarefa de, com as famílias, decidir sobre os restos mortais dos então prisioneiros que ficaram no Tarrafal.
O governante disse à Lusa, aquando do lançamento desta empreitada, que o Governo cabo-verdiano pretende construir no espaço um memorial aos que estiveram ali encarcerados durante o Estado Novo e vai fazer um levantamento para apurar se ainda há restos mortais de antigos prisioneiros por trasladar.
O ministro recordou que as vítimas mortais do espaço, que ficou conhecido como `campo de morte lenta`, foram enterradas ao longo dos anos no cemitério municipal do Tarrafal, localidade no norte da ilha de Santiago.
O Tarrafal recebeu mais de 500 pessoas, entre 340 antifascistas e 230 anticolonialistas. Destes, 34 morreram no local.
Situado na localidade de Chão Bom, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.
Em 1962, foi reaberto com o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom", destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar, escola e desde 2000 alberga o Museu de Resistência.