Projeto permite criar nos Açores base de dados de jamantas chilenas

por Lusa

Os Açores têm a primeira base de dados fotográfica de jamantas chilenas do mundo, espécie de raia pouco conhecida, mas avistada todos os anos no arquipélago, num projeto desenvolvido pela bióloga portuguesa Ana Filipa Sobral.

"A base de dados tem 143 indivíduos de jamantas chilena e 29 indivíduos de manta oceânica, uma segunda espécie também avistada no arquipélago", explicou à agência Lusa a mentora do projeto `Manta Catalog Azores`, criado há sete anos, com o objetivo de "aumentar o conhecimento sobre as espécies de jamantas que visitam o arquipélago e contribuir para a sua preservação".

Esta base de dados conta com a participação de dois milhares de cidadãos-cientistas e recebeu o segundo lugar do Prémio Terre de Femmes, que distingue projetos a favor do ambiente desde 2009.

"Em causa estão duas espécies carismáticas e ainda desconhecidas", sustentou Ana Filipa Sobral, salientando que o arquipélago é "privilegiado" porque, nos Açores, formam-se "grandes grupos daquelas espécies", o que constitui "uma oportunidade única para estudar estes animais".

Segundo a bióloga, aquelas espécies "são vistas regularmente sazonalmente por altura do início do verão em montes submarinos nos Açores, e formam grandes cardumes".

Associado a isso, está o desenvolvimento de uma indústria de mergulho direcionada à observação destas espécies, com turistas que se deslocam aos Açores para mergulharem com estes animais.

O projeto de Ana Filipa Sobral resulta do seu mestrado na Universidade dos Açores, no campus da Horta (Faial), e contou com o contributo de mergulhadores, turistas e da comunidade.

Neste projeto, já foi possível reunir "mais de dois mil mergulhos de cidadãos-cientistas, cinco mil fotografias e 58 horas de vídeo", indicou.

A informação recolhida permitiu aferir que existem três diferentes espécies de jamantas nos Açores -- a manta oceânica, a jamanta chilena e a jamanta gigante --; que os montes Ambrósio, perto de Santa Maria, e Princesa Alice, perto das ilhas do Faial e do Pico, são os únicos locais conhecidos em todo o mundo onde as jamantas chilenas formam grande agregações, entre junho e outubro; e que todos os indivíduos que visitam estas águas são adultos e muitas das fêmeas estão grávidas, adianta ainda, admitindo que "as águas açorianas sejam preponderantes para a reprodução da espécie".

Atualmente são conhecidas dez espécies, havendo ameaças relacionadas com "a crescente procura do mercado medicinal asiático pelas suas guelras" e "pela quantidade de jamantas capturadas de forma acidental".

A investigadora espera ainda que o prémio permita desenvolver ações de sensibilização para a conservação das jamantas.

A bióloga defende ainda a criação de um santuário de jamantas nas águas à volta da ilha de Santa Maria.

Ana Filipa Sobral está atualmente a trabalhar no seu doutoramento, na Universidade dos Açores, num projeto que envolve a genética dos tubarões e raias dos Açores com uma bolsa do Fundo Regional para a Ciência e Tecnologia.

 

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