Projeto de Valério Romão de recitação de poesia chinesa é apresentado na quinta-feira

por Lusa

Um projeto dedicado à recitação de poemas chineses de trabalhadores fabris, denominado mao-mao, da autoria de Valério Romão, José Anjos e Pedro Salazar, arranca na quinta-feira, com o lançamento de um vídeo performativo a que chamaram "Filho".

"No próximo dia 10 de dezembro, será lançado o vídeo de `Filho`, tema de apresentação dos mao-mao, projeto `spokenword` de Valério Romão (voz), José Anjos (voz e guitarra) e Pedro Salazar (baixo)", anunciaram os artistas.

Contando com a participação de "convidados especiais" - Sandra Martins (arranjos de violoncelo), Paula Cortes (voz) e António Jorge Gonçalves (imagens) - "Filho" é um tema composto a partir de um poema de Chen Nianxi, trabalhador mineiro nascido em 1970, na província de Xianxim, na China.

O vídeo foi gravado ao vivo na Escolha de Mulheres -- Oficina de Teatro, durante uma residência, em agosto de 2020, e integra-se no concerto/espetáculo "A lua só sabe fazer de lua", que será apresentado no início de 2021, e que conta com financiamento do Ministério da Cultura, no âmbito da Linha de Apoio de Emergência ao Setor das Artes, acrescentam os mentores do projeto.

O projeto mao-mao foi idealizado pelo escritor Valério Romão e pelo poeta José Anjos, em torno de poemas chineses antigos e contemporâneos, escritos por trabalhadores fabris, e nasceu "da necessidade de interpretação e criação a partir de uma perspetiva única da poesia chinesa".

Este trabalho incide sobretudo nos poemas recentemente publicados na antologia "Iron Moon: An Anthology of Chinese Worker Poetry", traduzida por Eleanor Goodman.

"As circunstâncias que rodeiam e inspiram a escrita destes poemas são tão únicas quanto terríveis e podem resumir-se a uma ideia que atravessa todos os temas e poemas deste projeto (ele próprio consolidado durante [e por causa] do confinamento): aquilo que nos esmaga é também o que nos liberta", destacam.

A antologia de poesia "Iron Moon"m editada em maio de 2017 -- que recebe o seu título de um dos poemas de Xu Lizhi --, reúne cerca de duzentas páginas de autores contemporâneos de poesia operária e fabril.

Segundo explica a formação artística mao-mao, na sua página de Facebook, foi a partir desta versão em inglês de uma antologia mais vasta editada em 2014 ("The Verse of Us"), que foram selecionados e traduzidos, por Valério Romão, os poemas para este projeto.

"A estes poemas contemporâneos juntam-se também outros de poetas chineses antigos, sempre dentro da mesma temática: a condição humana e a necessidade de contemplação da beleza, mesmo que terrível, apesar do sofrimento e do medo, onde até o humor surge como salvação ao lado do vinho e outros santuários de humanidade: a amizade, a natureza e o afeto".

Os poemas em causa suscitam a "necessidade de interpretar sem interferir", de modo a transmitir o melhor possível a realidade neles contida.

"Além disso, tais poemas convocam a vontade de celebrar os seus autores, pela qualidade dos escritos, pelo sofrimento, pela tenacidade e sensibilidade na contemplação tanto do belo como do terrível e, ainda, pela coragem na denúncia - tanto jurídica como poética - do abuso e do sortilégio que sobre eles impende em desespero", acrescentam.

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