Prisão de Lula da Silva foi um desgosto, mas lei tem de ser cumprida, diz Jornalista brasileiro
O jornalista brasileiro Vladimir Netto considerou hoje que a prisão do ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva está a ser um momento de desgosto para o Brasil, mas defendeu que é preciso cumprir a lei.
"É um momento de desgosto no Brasil. É lamentável que a situação tenha chegado a esse ponto. É triste que um ex-Presidente (Lula da Silva), o maior líder popular do Brasil, tenha que ser preso", disse à Lusa Vladimir Netto.
O jornalista, que trabalha no canal de televisão Rede Globo e cobre há anos os grandes casos de corrupção no Brasil, está em Portugal para promover o seu livro "Lava Jato", editado no país pela Desassossego, uma chancela do Grupo Saída de Emergência.
"Ninguém acha isso `bacana`. Agora, a justiça julgou, a justiça decidiu. O caso dele (Lula da Silva) foi analisado por quatro tribunais. Ele teve todo o direito de defesa. A defesa fez todos os pedidos que quis à justiça, não se pode falar de cerceamento de defesa", argumentou.
Para Netto, "todo mundo que cometeu crime tem de pagar, todo mundo que cometeu uma irregularidade, tem de ser punido por isso. É isso que manda a lei".
"Nos países onde vigora o império da lei e assim que acontece, assim tem de acontecer no Brasil se quisermos melhorar", sublinhou.
O ex-Presidente Lula da Silva foi preso a 07 de abril, depois de ser condenado a 12 anos e um mês de prisão no caso do apartamento triplex no Guarujá, cidade no estado de São Paulo, no âmbito da operação Lava Jato, que investiga um grande esquema de corrupção envolvendo a petrolífera estatal Petrobras.
Lula da Silva está preso nas instalações da Polícia Federal, em Curitiba, no estado do Paraná.
O jornalista também afirmou que a operação Lava Jato não atinge uma só legenda ou coligação, como denunciou o Partido dos Trabalhadores (PT, de Lula da Silva), mas investiga 14 partidos.
"Os grandes partidos brasileiros estão lá, os grandes líderes estão lá. Não é só o Lula (da Silva), é o Aécio (Neves), que é presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), é o Michel Temer, que é o Presidente do Brasil e é o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que também são investigados. Isso só para citar três, mas são vários outros", indicou.
"Era inevitável que a operação começasse pelo partido que estivesse no Governo (no caso o PT), qualquer que fosse ele. Se fosse o PSDB, talvez tivesse sido o primeiro, mas era o PT. Mas se formos ver bem, na génese da Lava Jato, o PT nem foi o primeiro, foi o segundo, após o Partido Progressista", disse.
Netto referiu que "Alberto Youssef ("doleiro", que negocia moeda estrangeira ilegalmente) e Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras), que são os dois primeiros delatores na operação Lava Jato, eram ligados ao PP, que é um partido de direita, liberal".
"Eu penso que esta crítica (da operação ser partidária, contra o PT) tem muito a ver com as paixões políticas brasileiras e tem a ver com este jeito brasileiro de ser, muito emocional", avaliou.
"Você pode até questionar as velocidades que uma investigação está indo, para um lado ou para outro. Eu acho que vai atingir a todos", disse.
Sobre a delação premiada (troca de informações por vantagens na pena de prisão), disse que foi "útil e fundamental", para a operação Lava Jato.
"Esta foi uma das coincidências que ajudaram a Lava Jato. Um ano antes de começar a Lava Jato, este instrumento foi regulamentado no Brasil. Então, pode ser usado de uma forma mais eficiente", disse.
"O uso intenso, que ocorreu pela primeira vez nesta operação, foi fundamental. Você pode dizer que neste ou naquele caso tem um erro ou outro. E eu acho que sim, pode ter ocorrido, mas este é um instrumento novo, tem de ser usado, testado, depois temos de refletir sobre o resultado e ver se é preciso melhorar. Se for preciso corrigir, melhorar, que seja feito isso" argumentou.
Para Netto, a delação premiada "ajudou a desvendar uma organização criminosa imensa" no Brasil.
"Acho que é um instrumento válido. É tão usado nos Estados Unidos, mas lá a sociedade tem outra visão, acha que isso é "ok". Se a pessoa for lá, falar e cumprir a sua pena, ela pode ser reintegrada na sociedade. É isso que a justiça busca", disse.
O livro de Vladimir Netto - "Lava Jato", lançado no Brasil em 2016 com grande sucesso - inspirou a série ficcionada da Netflix "O Mecanismo", do diretor brasileiro José Padilha.