Portugueses chegaram há 500 anos ao Sri Lanka mas data não é comemorada

por Agência LUSA

Os 500 anos da chegada dos portugueses ao Sri Lanka, que hoje se assinalam, não vão ser comemorados devido a uma polémica suscitada por um pequeno partido que exige a Portugal desculpas, indemnizações e a devolução "de tesouros".

"Não, não está nada previsto", confirmou hoje à Agência Lusa o embaixador de Portugal na Índia, Joaquim Lemos Ferreira Marques.

O problema teve origem há meses, quando o então ministro da Cultura cingalês, Vijitha Herath, disse não aceitar qualquer programa de comemorações sem Portugal avançar com "uma compensação" pelas mortes e destruição causadas, um pedido formal de desculpas e a devolução de "tesouros roubados" dos templos, entre os quais um dente de Buda, de elevado valor religioso.

Vijitha Herath, que deixou entretanto de fazer parte do executivo, deu mostras de "uma visão ressentida do colonialismo" que "não reflecte a posição do Governo" nem "o sentimento da maioria da população", assegurou contudo o ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Jeyaraj Fernadopulle, numa visita a Lisboa realizada em Maio passado.

Apesar disso, como anunciou na altura o chefe da diplomacia portuguesa, Lisboa e Colombo acordaram "que seria melhor para os dois países não forçar algo que podia ser polémico": "Sabemos o que aconteceu, sabemos que há interpretações diferentes, mas preferimos frisar o que nos une a procurar o que nos divide", disse então Diogo Freitas do Amaral.

Em marcha está, segundo o embaixador Ferreira Marques, a ajuda oferecida - e bem acolhida - por Portugal para a reconstrução após o maremoto de Dezembro do ano passado que, fazendo a ponte entre o passado histórico comum e as necessidades de hoje, contempla a construção de uma Aldeia Portugal e a reconstrução de escolas e de um hospital nas regiões onde se concentra a população descendente dos portugueses: Baticalo e Trincomalee.

Eventuais comemorações poderão fazer-se daqui a um ano, aproveitando a dúvida dos historiadores quanto ao ano da chegada dos portugueses - 1505 ou 1506 - e a intenção de Freitas do Amaral de visitar o país, na sequência do convite que lhe foi feito pelo seu homólogo em Maio, segundo o embaixador.

Por outro lado, o actual momento é de transição política e de reforço da segurança no Sri Lanka, que realiza eleições presidenciais já na quinta-feira e pode organizar novas eleições legislativas a seguir.

A actual ilha do Sri Lanka, conhecida há 500 anos pelos portugueses como Ceilão e antes ainda pelos romanos como Taprobana, foi colonizada depois da chegada acidental do navegador Lourenço de Almeida ao porto de Colombo, a 15 de Novembro de 1505 ou 1506, depois de arrastado por uma forte tempestade.

Nos 150 anos de colonização portuguesa, foram criadas importantes feitorias como Colombo, Galle (Galo), Jafanapatão, Negumbo, Baticalo e Tricomalee.

Segundo o embaixador Ferreira Marques, a herança portuguesa é ainda hoje muito visível na persistência de apelidos portugueses em "metade da população" - Silva, Pereira, Fernandes, Sousa e Fonseca - e de várias palavras de origem portuguesa.

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