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Portugal recebe pela primeira vez, em julho e agosto, reunião magna de esperantistas

por Lusa

Lisboa, 13 jun (Lusa) - Portugal recebe pela primeira vez, em julho e agosto, uma reunião magna de esperantistas, onde durante uma semana uma `babel` de países vai falar numa só língua, a que se apresenta como internacional mas falada por uma minoria.

O Congresso Universal de Esperanto, onde são esperados 1.800 participantes de 74 países, decorrerá em Lisboa entre 29 de julho e 04 de agosto, com um programa de atividades que inclui palestras temáticas sobre história, cultura, linguística, demografia ou mesmo astrofísica em que o único idioma permitido é o esperanto.

Para o presidente da Associação Portuguesa de Esperanto (APE), José Gaspar Martins, trata-se de "repor um bocadinho a justiça", uma vez que Portugal era um dos poucos países da Europa Ocidental onde a iniciativa centenária ainda não se tinha realizado.

Durante o congresso haverá oportunidade para um jogo de futebol entre uma equipa de Cabo Verde e uma de esperantistas, com arbitragem em esperanto.

Na mesma semana, esperantistas irão pôr à prova os seus conhecimentos submetendo-se a exames que lhes darão o certificado de aptidão concedido pela autoridade máxima na língua, a Associação Universal de Esperanto, que organiza o congresso, em colaboração com a congénere portuguesa.

O esperanto, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) por aproximar raças e povos, foi criado pelo oftalmologista polaco Ludwik Lejzer Zamenhof, em 1887.

Estima-se que falem fluentemente a língua dois milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, serão cerca de uma centena, segundo o presidente da APE, José Gaspar Martins.

Entre os esperantistas portugueses há gente mais velha, que aprendeu esperanto na APE, antes do 25 de Abril de 1974, e gente mais nova, que se socorreu dos cursos disponíveis na internet.

"Há muita gente ligada à informática e à matemática", conta José Gaspar Martins à Lusa, salientando que o esperanto é uma língua com "muito raciocínio lógico" e fácil de aprender.

"Tem 16 regras, sem exceções, e não é preciso uma memória extraordinária para se decorar vocabulário. Cada letra corresponde a um som. Sabendo-se como se diz, sabe-se como se escreve", sublinha.

Não sendo uma mistura de línguas, o esperanto tem origem em vários registos linguísticos - latino, germânico e eslavo. A língua portuguesa está entre os idiomas com mais vocábulos parecidos com o esperanto.

Ainda que facultativo, o ensino do esperanto não está disseminado no mundo, muito menos em Portugal, onde, na década de 90, uma petição da APE a favor do ensino experimental da língua nas escolas secundárias não deu frutos.

José Gaspar Martins chegou a dar aulas de esperanto, há 20 anos, a uma turma de 30 pessoas na Universidade de Aveiro, onde é professor e integra o Grupo de Estudos em Território e Inovação. Desistiu, não por falta de alunos, mas, assegura, por falta de tempo.

Wilson Brígido, professor na Escola Secundária Camões, em Lisboa, onde tentou, sem sucesso, manter o ensino do esperanto como atividade extracurricular, aprendeu a língua quando ainda era estudante na Universidade de Fortaleza, no Brasil, de onde é natural.

O que o atraiu no esperanto foi a designação com que era apresentado o idioma numa lista de vários ensinados na universidade a título opcional, a de ser uma "língua internacional" que, sustenta, ao contrário das línguas de cada país ou região, "não carrega uma cultura específica".

"Pareceu-me mais justo", afirmou à Lusa.

Brígido, que ensina esperanto a sete alunos, maioritariamente seniores, numa associação em Lisboa, lamenta que a falta de "discussão e decisão política" tenha impedido, ao longo dos anos, que a língua surgisse como "um candidato" a idioma verdadeiramente comum no mundo, de todos, que superasse as barreiras linguísticas entre nações, tal como quis o seu mentor há 131 anos.

O Congresso Universal de Esperanto, que para os esperantistas é uma forma de manter viva a língua, realiza-se anualmente, desde 1905, tendo sido interrompido durante a I e a II guerras mundiais.

Em Portugal, a iniciativa terá como palco principal a reitoria e a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e o alto patrocínio do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, além de uma comissão de honra liderada pelo ex-Presidente da República Ramalho Eanes.

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