Vila do Conde, 20 out (Lusa) - A coletividade Rancho das Rendilheiras do Monte evoca, na sexta-feira, um naufrágio ocorrido em Vila do Conde, em 1911, e na sequência do qual a população local se lançou ao mar e conseguiu salvar mais de 200 pessoas.
Do acidente, resultou apenas uma vítima mortal.
O naufrágio ocorreu no dia 21 de outubro, quando o cruzador da Marinha Portuguesa, o S. Rafael, ao patrulhar a costa, encalhou ao largo da foz do Rio Ave, em Vila do Conde.
Em risco de vida ficaram as 238 pessoas que seguiam a bordo.
De imediato, a população local juntou-se e lançou-se ao mar, conseguindo trazer para terra, sãos e salvos, quase todos os tripulantes.
A imprensa da época relata o episódio e refere que, "de forma altruísta e nobre", a comunidade de Vila do Conde "prontamente se organizou para salvar e abrigar os marinheiros do S. Rafael".
O grumete António Maria Dias, a única vítima mortal deste acidente, era natural de Paramo, hoje freguesia de Espinho, mas, na altura, pertencia ao município de Santa Maria da Feira.
O marinheiro ficou sepultado em Vila do Conde, no cemitério Monte do Mosteiro, porque na época não se faziam transladações de corpos.
O jazigo ainda hoje é velado por toda a população vilacondense "como se de um homem da terra se tratasse", explicou à Lusa Sousa Lopes, um dos elementos da coletividade.
O resgate de todos estes homens é um "feito heroico único", que agora vai ser recordado pelo Rancho das Rendilheiras, como apontou ainda Sousa Lopes.
A evocação ao S. Rafael começa na sexta-feira, logo pela manhã, altura em que elementos da Marinha Portuguesa e individualidades nacionais e locais vão ser recebidas no edifício da Alfandega Régia.
Segue-se uma missa, o descerramento de uma placa evocativa do naufrágio e uma romagem ao cemitério local.
À tarde, será inaugurada uma mostra que vai incluir a história dos acontecimentos vividos nesse dia 21 de outubro, um conjunto de painéis a descrever o naufrágio e uma réplica do cruzador S. Rafael.
No sábado, no Auditório Municipal local, a partir das 15:00, será apresentado um livro a contar a história do naufrágio, da autoria de Albino Gomes, ex-marinheiro da armada.
Depois, realiza-se uma palestra sobre o mesmo tema, seguindo-se uma representação cénica do afundamento do barco, pelo grupo de teatro amador local do Círculo Católico de Operário, o TACCO.
A zona das Caxinas, em Vila do Conde, alberga a maior comunidade piscatória do país e a que tem sido mais fustigada por acidentes ocorridos no mar.
Só nos últimos 35 anos, mais de 80 pescadores naturais daquela zona morreram em naufrágios, razão pela qual a evocação ao S. Rafael "tem tanta importância para a comunidade local, porque é também uma forma de recordarem e chorarem os seus mortos", explicou Sousa Lopes.
Apesar de não existirem meios de auxílio, "toda a tripulação foi resgatada e acolhida nas casas das pessoas de Vila do Conde", concluiu.
MYV.