Uma equipa de arqueólogos descobriu 13 múmias com línguas em ouro no sítio arqueológico de Al-Bahnasa, em Oxirrinco, no Egito. A área das sepulturas localiza-se no fundo de uma cripta onde se revelou um salão com três câmaras que continham dezenas de múmias. Os restos humanos datam do período ptolomaico - cerca de 304 a 30 a.C.
Há 2.300 anos, os faraós descendentes de um dos generais de Alexandre, o Grande governaram o Egito, de acordo com o Ministério Egípcio de Turismo e Antiguidades, que anunciou um novo achado no sítio arqueológico de Al-Bahnasa, a 160 quilómetros a sul do Cairo.
Uma missão arqueológica conjunta egípcio-espanhola, liderada pela Universidade de Barcelona e pelo Instituto de Estudos do Próximo Oriente Antigo encontrou uma área cemiterial no fundo de uma cripta que apresentava um salão central com três câmaras.
Os investigadores explicaram que essas câmaras continham “dezenas de múmias, organizadas meticulosamente, sugerindo práticas de sepultamento comunitário”, demonstrando costumes funerários elaborados.
As urnas apresentavam-se decoradas com inscrições coloridas e cenas rituais.
"Para falar na vida depois da morte"
Os antigos egípcios colocavam “línguas feitas de ouro em múmias com a intenção de ajudar os falecidos a falar na vida após a morte”, porque acreditavam não só na vida no além, como ainda que o metal precioso era "a carne dos deuses", apontaram Esther Pons Mellado e Maite Mascort , codiretoras da missão arqueológica hispano-egípcia em Oxyrhynchus, à publicação Live Science.
Os antigos egípcios colocavam “línguas feitas de ouro em múmias com a intenção de ajudar os falecidos a falar na vida após a morte”, porque acreditavam não só na vida no além, como ainda que o metal precioso era "a carne dos deuses", apontaram Esther Pons Mellado e Maite Mascort , codiretoras da missão arqueológica hispano-egípcia em Oxyrhynchus, à publicação Live Science.
Uma das línguas em ouro fotografada com a escala de 25 centímetros | Ministério Egípcio de Turismo e Antiguidades
Na mais recente descoberta, anunciada em dezembro pelo Ministério Egípcio de Turismo e Antiguidades, as línguas feitas em ouro apresentam diversos tamanhos e formatos e estavam associadas às 13 múmias, de cronologia entre 304 a 30 a.C. Foram também encontrados pregos em ouro, que simbolizam a preparação para a vida após a morte.
A mesma equipa de investigadores já tinha descoberto no inicio deste ano, também no sítio arqueológico Al-Bahnasa, outras 16 línguas produzidas em ouro.
"O número de línguas de ouro neste sítio é elevado, o que é interessante", declarou Salima Ikram , professora de egiptologia na Universidade Americana no Cairo. A especialista, que não esteve envolvida na última escavação, afirma que "possivelmente estas pessoas sepultadas desta forma pertencem a elites superiores que estavam associadas ao templo e aos cultos de animais que proliferavam na área".
Ikram, observa ainda que é possível que as línguas de ouro "possam ter sido a moda na região entre os responsáveis do tratamento dos mortos aquando o embalsamamento".
Wen Nefer e família
Wen Nefer e família
No recinto das sepulturas, encontraram-se câmaras decoradas, das quais uma pertencia a um indivíduo identificado como “Wen Nefer”.
Nesta área tumular destacam-se as “pinturas murais que retratam Wen Nefer e a sua família apresentando oferendas a divindades como Anúbis, Osíris, Atum, Hórus e Thoth”, explicam os arqueólogos.
Teto decorado | Ministério Egípcio de Turismo e Antiguidades
Descrevem ainda que o “teto exibe a deusa Nut, cercada por estrelas e barcos sagrados carregando divindades como Khepri e Ra, contra um fundo azul impressionante”.
Nesse espaço, foi encontrada uma múmia dentro da câmara que estava coberta por uma delicada camada de ouro, simbolizando proteção divina. O túmulo também abrigava quatro sarcófagos de calcário, acrescentam os especialistas, citados na publicação Archaeology News.
Hassan Ibrahim Amer, codiretor de escavação e professor da Universidade do Cairo, sublinha a descoberta de um escaravelho em forma de coração in situ, que considera “um achado raro na arqueologia egípcia”.
Hassan Ibrahim Amer, codiretor de escavação e professor da Universidade do Cairo, sublinha a descoberta de um escaravelho em forma de coração in situ, que considera “um achado raro na arqueologia egípcia”.
A par deste escaravelho, encontravam-se ainda 29 amuletos, entre eles escaravelhos de Hórus, Thoth e Ísis, e amuletos compostos que combinam os atributos desses deuses.
“Esses artefatos, ricos em simbolismo, sublinham o sincretismo das práticas religiosas ptolomaicas”, aponta Amer.
Coleção de amuletos encontrada | Ministério Egípcio de Turismo e Antiguidades
A equipa de investigação também desenterrou estatuetas de terracota, incluindo uma do deus Harpócrates.
Localizado na província de Minya, o sítio de Al-Bahnasa, historicamente conhecido como Oxyrhynchus, foi o local de escavações arqueológias anteriores onde se descobriu áreas cemiteriais dos períodos Saite, Greco-Romano e Romano, bem como uma basílica bizantina e um templo dedicado a Osíris.
Coleção das línguas em ouro da última escavação | Universidade de Barcelona
As descobertas em Al-Bahnasa acentua a complexidade e a riqueza das práticas funerárias e religiosas do antigo Egito de acordo com Mohamed Ismail Khaled, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades.
“Esta descoberta oferece uma janela única para as práticas culturais e espirituais do período ptolomaico”, ressalta Khaled.
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