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Ovídio Martins, poeta e ativista cabo-verdiano, vai ser homenageado em Lisboa

por © 2011 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Lisboa, 12 set (Lusa) -- O poeta e ativista cabo-verdiano Ovídio Martins vai ser homenageado no sábado, em Lisboa, na Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde.

Em comunicado enviado à agência Lusa, a família do poeta, que está a organizar a homenagem, refere que o evento, que começará às 16:00, vai incluir uma palestra sobre a sua obra, apresentada por Luís Filipe Carvalho, mestre em Teoria da Literatura, um vídeo sobre a sua vida, uma declamação de poemas e música ao vivo.

Ovídio de Sousa Martins nasceu na cidade de Mindelo, na ilha de S. Vicente, em Cabo Verde, no dia 17 de setembro de 1928 -- portanto, a homenagem vai realizar-se no dia em que faria 83 anos.

O poeta e ativista "desde muito cedo se distinguiu entre os jovens da sua idade pela sua personalidade reservada e pelo seu amor aos livros, à música e às artes", referem os familiares do escritor no comunicado.

Depois de completar o ensino secundário em S. Vicente, Ovídio Martins veio para Portugal para frequentar a Faculdade de Direito. "Era já então um jovem de ideais, um intelectual profundamente interessado pela política, particularmente no que dizia respeito à situação dos países africanos sob dominação colonial portuguesa", descreve a família.

"Assumiu-se como marxista e entregou-se profundamente à luta política e pela independência da Guiné e de Cabo Verde entre os mais antigos militantes do PAIGC", recorda a família, referindo que "na antiga Casa do Império encontrava-se frequentemente com ativistas antifascistas e anticolonialistas, entre os quais Amílcar Cabral, de quem se tornou amigo íntimo".

Ao mesmo tempo foi-se dedicando à poesia - inaugurando a "poesia militante" na literatura cabo-verdiana -- e em 1958 foi um dos fundadores do Suplemento Cultural.

Esta intensa atividade foi-lhe deixando pouco tempo para os estudos, obrigando-o a interromper o percurso académico.

Perseguido pela PIDE (polícia política do Estado Novo), foi "preso e torturado e chegou a permanecer durante meses no Aljube e em Caxias", lembra a família, estabelecendo uma relação causal entre os "maus tratos na cadeia" e uma posterior surdez, de que nunca mais recuperou.

Nos anos 1960, "Os flagelados do vento leste" destaca Ovídio Martins entre os poetas cabo-verdianos. Outro poema, "Não vou para Pasárgada", uma recusa da evasão, daria mais tarde título ao livro com 100 poemas que resume o essencial da sua obra"Gritarei, berrarei, matarei, não vou para Pasárgada", editado em Roterdão, na Holanda, para onde se exilou antes do 25 de Abril.

Após o 25 de Abril, regressa a Cabo Verde e fixa-se na cidade da Praia, integrando a Comissão de Ideologia do PAIGC. Trabalha na Direcção-Geral da Cultura, na rádio oficial, no semanário "Voz di Povo" e na Direcção do Instituto do Livro e do Disco.

Com o tempo "torna-se crítico de muitas das orientações políticas do PAIGC" e em 1995, por ocasião do vigésimo aniversário da independência de Cabo Verde, recusa receber uma distinção do Estado.

Afetado por uma doença neurológica incurável que o deixou dependente, deixa Cabo Verde e vem para Lisboa, onde é internado num lar. Morreu a 29 de abril de 1999, aos 70 anos, em Lisboa, sem nunca ter recebido qualquer "apoio do Estado cabo-verdiano", lamentam os familiares.

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