Opiniões divididas entre moradores sobre incómodo causado pelos barulho da música e confusão

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Entre os moradores que habitam próximos do Passeio Marítimo de Algés, onde sexta-feira arrancou mais um festival de música, as opiniões dividem-se entre os que se sentem incomodados pelo barulho e os que não se importam.

Durante três dias, nomeadamente de sexta-feira até hoje, o recinto com cerca de 70 mil metros quadrados na Zona Ribeirinha de Oeiras é o destino de milhares de amantes de música, que se deslocam até o festival "Oeiras Alive" para ouvir tocar, até de madrugada, mais de trinta bandas estrangeiras e portuguesas.

O facto de o recinto estar situado junto ao Rio não impede que a música do festival se faça ouvir além da praça central de Algés, sítio onde no fim dos concertos, centenas de pessoas passam com os ânimos incendiados pela boa disposição e pelo álcool, incomodando e perturbando o sono de alguns moradores daquela zona.

"Embora o barulho desta vez seja menos do que no Festival Académico de Lisboa [que decorreu no mesmo recinto entre 09 e 12 de Maio], é obvio que incomoda as pessoas que trabalham e que precisam de descansar", disse à agência Lusa Armando Abreu.

"Moro a 500 metros do recinto e não consegui adormecer antes das três da manhã de ontem [sexta-feira]. Mas também só faltam mais dois dias para acabar", afirmou.

Por sua vez, Maria Teresa Alves, que também reside a escassos metros do recinto, na praça central de Algés, afirmou que já está "habituada ao barulho e à confusão" naquela zona.

"Moro aqui há mais de 35 anos e este tipo de eventos não incomodam nada. É uma grande alegria ver tantas pessoas, especialmente jovens, a divertirem-se", afirmou, acrescentando que prefere "mil vezes este tipo de barulho e confusão, ao causado diariamente pelo trânsito".

De acordo com Fernando Santos, outro morador daquela zona, muito mais problemático do que a música, "é o barulho que as pessoas que saem do festival fazem até as tantas da manhã".

"Desta vez a música acabou por volta das duas da manhã e não às cinco ou seis como já aconteceu", disse o comerciante, acrescentando que mesmo assim ficou "muito incomodado com o barulho que algumas pessoas fizeram enquanto esperavam por transportes".

Hugo Espírito Santo, um psicólogo de 27 anos que mora a cinco quarteirões do recinto do festival, afirmou que embora tivesse ouvido a música, esta "não incomodava muito porque não era muito alta", acrescentando que "também nenhum dos seus familiares ficou incomodado".

"No entanto, percebo que as pessoas que morem mais perto se possam sentir incomodadas", disse.

O ruído constitui, hoje em dia, uma das principais causas de degradação da qualidade de vida das populações nas cidades e em grandes áreas urbanas, onde as pessoas se encontram cada vez mais expostas a elevados níveis sonoros.

A poluição sonora, criada através do ruído ou som indesejado, é considerada por vários especialistas como uma das formas "mais graves de agressão ao homem e ao meio ambiente", uma vez que, entre outros, interfere na comunicação falada, perturba o sono, o descanso e o relaxamento, assim como impede a concentração e aprendizagem.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o limite "aceitável" ao ouvido humano é de 65 decibéis (dB), sendo que uma exposição prolongada a valores superiores a 85 dB comprometem não só a audição - causando problemas auditivos irreversíveis - como também estados de cansaço e tensão, capazes de afectar significativamente o sistema nervoso e cardiovascular, aumentando o risco de doenças.

Na origem do aumento dos níveis de ruído nas sociedades actuais estão a concentração urbana, o crescente tráfego automóvel (fonte de ruído que afecta maior número de pessoas), o tráfego aéreo e ferroviário, assim como aumento generalizado da mecanização das diversas actividades.

Mas são também cada vez mais frequentes as queixas de moradores devido ao excesso de barulho causado por zonas de diversão nocturnas, como acontece no Bairro Alto, ou por discotecas e outros eventos como festivais de música, quando estes se encontram ou são realizados perto de zonas habitacionais.

Embora não existam estudos oficiais sobre a poluição sonora e as suas consequências para a população das grandes cidades portuguesas, especialistas estimam que uma grande maioria dos habitantes das áreas urbanas de maior dimensão estejam sujeitos, durante a noite, a um nível de pressão sonora superior a 65 dB, o que equivale ao dobro dos 30 ou 35 dB recomendados pela OMS como "nível sonoro adequado a uma boa noite de sono".

Em algumas partes da zona de Algés onde decorreu o festival, a pressão sonora de madrugada, tenha sido esta provocada pela música ou pelas centenas de pessoas que voltavam para casa, foi definitivamente maior que os valores recomendados de 30 ou 35 dB.

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