Lisboa, 23 Jun (Lusa) - A obra gráfica de João Abel Manta, "um clássico contemporâneo" das artes plásticas portuguesas, é recordada na obra "Caprichos e Desastres", que o investigador João Paulo Cotrim lança esta semana pela Assírio & Alvim.
O livro, uma antologia selectiva só da obra gráfica de João Abel Manta, é o quarto que o autor publica na Colecção Prémio Stuart, juntando-se a obras dedicadas a Rafael Bordalo Pinheiro, Stuart de Carvalhais e André Carrilho.
Aproveitando os 80 anos que João Abel Manta cumpre em 2008, João Paulo Cotrim aborda a obra gráfica de um artista que considera "um clássico contemporâneo", como explicou à agência Lusa.
Nascido em Lisboa em 1928 no seio de uma família de pintores, João Abel Manta é uma referência no cartoonismo português com "uma obra gráfica muito forte", que reflectiu um "grande desejo de intervenção social".
Ao longo das cerca de 200 páginas de "Caprichos e Desastres", João Paulo Cotrim desvenda um pouco a história de João Abel Manta, um homem que "tem uma biografia confidencial", e apresenta ensaios de enquadramentos da obra gráfica do artista, formado em Arquitectura.
"Foi uma referência no cartoonismo quase por razões circunstanciais", explica João Paulo Cotrim, já que muita da sua obra gráfica foi produzida ainda durante o Estado Novo, nas páginas dos jornais, com desenhos e caricaturas de figuras e situações políticas.
Abel Manta viu muito do seu trabalho ser censurado, mas com o 25 de Abril, os cartoons nas páginas de jornais passaram a ser vistos como ícones, defendeu João Paulo Cotrim.
"Ele tinha uma grande fixação por temas sobre Portugal, sobre os fantasmas da Nação e revelava uma reflexão crítica muito forte", disse de João Abel Manta, que começou a publicar cartoons em finais dos anos 1940.
João Paulo Cotrim dedicou cerca de um ano a pesquisar e a escrever este ensaio sobre a obra gráfica de Abel Manta, recorrendo ao espólio depositado no Museu Bordalo Pinheiro e vários jornais onde o artista publicou os seus trabalho, nomeadamente Diário de Lisboa e Jornal de Letras, onde foi um dos fundadores.
Além da caricatura e do cartoon, a obra gráfica de Abel Manta estende-se à filatelia, design de livros e cartazes e ilustração.
"Ele quase nem precisava da actualidade para desenhar, mergulhava nas raízes dos acontecimentos", referiu João Paulo Cotrim, que em "Caprichos e Desastres" aborda a relação de Abel Manta com a imagem, a palavra, através dos retratos de vários escritores, e a realidade.
Filho dos pintores Abel Manta e Clementina Carneiro de Moura, João Abel Manta teve uma "formação plástica muito forte", aliada a um pensamento social e posições ideológicas de esquerda.
Actualmente João Abel Manta dedica-se sobretudo à pintura.
O lançamento de "João Abel Manta: Caprichos e Desastres" está marcado para o dia 25 no Hotel Ritz, em Lisboa, com apresentação de David Santos, director do Museu do Neo-Realismo, na mesma ocasião em que serão entregues os prémios da quinta edição do Prémio Stuart de Desenho de Imprensa.