O CÍCLOPE deu ao INESC um prejuízo de um milhão e 300 mil euros

por RTP

Ministério do Ambiente, Autoridade Nacional de Proteção Civil e municípios de cinco distritos andaram década e meia a comprar uma tecnologia de videovigilância contra incêndios. Investiram quase três milhões de euros na chamada rede CÍCLOPE. Mas só em 2014, o Estado começou a pagar a manutenção. Resultado, 15 câmaras ficaram obsoletas, o que provocou uma perda superior a um milhão e 300 mil euros.

Para José Tribolet, diretor do INESC, a responsabilidade deste desperdício é de quem não deu dinheiro ao Instituto de Conservação da Natureza para fazer a conservação das câmaras.

"A responsabilidade não é do ICNF", afirma. Mas também é difícil dizer de quem é.

"A responsabilidade está associada a um problema estrutural do país" que é "muito grave", explica o responsável do INESC, que desenvolveu o Cíclope.

"A nossa estrutura de organização da Administração Pública, a nossa estrutura de responsabilização política e operacional para a Administração Pública está desadequada aos desafios da sociedade actual".

"A responsabilidade em primeiro lugar é dos políticos e da Assembleia da República, que não percebem que o país exige outra estrutura", refere, propondo a criação de estruturas horizontais e não apenas verticais.

"Deixem-se de cosméticos", exige, sobre a reforma da Administração Pública. "Mudem a organização e a estrutura da Administração Pública, deixem de ser 'quintinhas'", recomenda, caso contrário é impossível pedir responsabilidades e porque não há continuidade para programas que exijam vários anos para serem implementados.

Sobre os custos da rede CÍCLOPE, José Tribolet, apesar de cumprimentar os esforços em desenvolver sistemas alternativos, afirma que a rede Ciclope e as suas câmaras são dificeis de igualar, já que o sistema de comunicações não depende de cabos nem é afetado por incêndios, por se basear num "sistema de radiofrequência".

Por outro lado, o software dos sistemas de controlo dá posição georeferenciada que consegue "focar em detalhe até cinco quilómetros de distância", e "consegue identificar vários incêndios ao mesmo tempo" e "dá meios para o comando local do distrito ou nacional conseguir alocar meios desde o início."

Já em Pedrógão Grande, a rede CÍCLOPE nunca foi instalada porque se ficou à espera de duas licenças do SIRESP "que nunca vieram".

"Quem é que manda nisto?", pergunta José Tribolet, que recusa que o INESC tenha sido beneficiado.

O CÍCLOPE deu ao INESC um prejuízo de um milhão e 300 mil euros, investimento de manutenção a ver "se o sistema se mantinha, ao serviços dos portugueses e das nossas floresta".

O diretor do INESC recusa ainda acusações de favorecimento e de monopólio, afirmando que cabe ao Estado definir as normas e os 'standards' para que exista operacionalidade entre as diferentes partes dos sistemas a concurso.

"Não existem porque não há ninguém com essa responsabilidade!", conclui José Tribolet.
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