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Nova tradução de "Dom Quixote" evitou "nacionalizar" a obra de Cervantes

por Agência LUSA

A nova tradução de "Dom Quixote", que chega ao mercado literário na próxima semana, procurou manter o tom original da obra de Cervantes e evitou nacionalizá-la, explicou hoje o tradutor Miguel Serras Pereira.

No lançamento da obra, no Instituto Cervantes, em Lisboa, Miguel Serras Pereira considerou que o papel do tradutor é "manter `o rouco` do original", ou seja, algumas características que recordem ao leitor "o idioma em que o texto foi escrito".

A edição, com que as Publicações Dom Quixote assinalam o seu 40º aniversário e, simultaneamente, os 400 anos da primeira publicação do romance de Miguel Cervantes em Portugal, terá uma tiragem de 10 mil exemplares.

Ilustrada com desenhos que o espanhol Salvador Dalí criou em 1945, a nova tradução retoma a paginação a duas colunas do original e, segundo Miguel Serras Pereira, os poemas inseridos respeitam o mais possível "a métrica da poesia portuguesa da época cervantina".

Considerou ainda uma "tremenda responsabilidade e grande honra traduzir aquele que é, para muitos, o primeiro romance europeu moderno".

Serras Pereira acrescentou que "boa parte dos romances posteriores em todas as línguas latinas retomaram, de forma mais ou menos directa, o `Dom Quixote`".

Na apresentação da obra, o tradutor esclareceu ainda ter tentado fazer uma "tradução palavra a palavra", com recurso a termos do português do século XVII, "contemporâneo do castelhano de Cervantes", que fossem, no entanto, ainda actuais.

Por seu lado, Maria Fernanda Abreu, que assina os textos introdutórios da nova edição, destacou "a paródia e auto- reflexividade" que o `Dom Quixote` levou "mais longe" do que qualquer outro romance da sua época.

Para a docente universitária, a tradução agora lançada pelas Publicações Dom Quixote tem a vantagem da isenção, por contraste com o trabalho de Aquilino Ribeiro, "que fez uma versão - e não uma tradução - tendo manipulado ideologicamente o texto".

De acordo com Maria Fernanda Abreu, "desde os finais do século XVIII foram realizadas em Portugal cerca de 12 traduções do romance" que, logo em 1605, ano em que o Santo Ofício autorizou a tradução portuguesa, teve três edições.

A catedrática, que apresentou a figura de Miguel de Cervantes como um homem de "grande saber livresco e experiência de vida", participa na nova edição com três textos, abordando a presença de Dom Quixote nos poetas de esquerda portugueses e analisando a relação entre o "engenhoso fidalgo" e a figura de Dom Sebastião.

Este mês chegará ainda aos escaparates livreiros uma outra tradução do livro de Cervantes, esta da autoria de José Bento e com chancela da Relógio D`Água.

A sessão de lançamento serviu ainda para as Publicações Dom Quixote revelarem que estão a preparar a primeira edição portuguesa das glosas que o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade escreveu inspiradas nas peripécias do "cavaleiro da triste figura" e que estão há muito esgotadas no Brasil.

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