“Estamos muito emocionados por termos localizado e capturado imagens do Endurance”, disse Mensun Bound, diretor da expedição de exploração organizada pela Falklands Maritime Heritage Trust.
“Está muito orgulhoso no fundo do mar, intacto e em brilhante estado de conservação. Até se pode ver “Endurance” arqueado na popa. (…) Este é um marco na história polar”, refere Bound.
O navio foi descoberto a cerca de seis quilómetros do local do naufrágio, registado então pelo capitão Worsley e cem anos depois da morte do explorador Ernest Shackleton.
Em 1914, o explorador anglo-irlandês Ernest Shackleton embarcou no Endurance para a sua terceira viagem à Antártida. Planeava atravessar a região via Pólo Sul. Mas em 1915, o barco encalhou e afundou-se ao fim de 10 meses, esmagado pelo gelo.
Foto: Falklands Maritime Heritage Trust e National Geographic
A expedição tornou-se lendária por causa das condições de sobrevivência da tripulação. Eram 28 elementos e todos sobreviveram. Acamparam por meses no gelo antes deste derreter. Ernest Shackleton e seus companheiros partiram em pequenas embarcações para a ilha Elefante, ao largo da Península Antártida.
Da ilha, fizeram uma viagem de 1.300 quilómetros até à ilha de Geórgia do Sul, com o barco "James Caird", tendo chegado ao seu destino 16 dias depois, corria o ano de 1916. Shackleton terá montado uma operação para resgatar os homens que esperavam na ilha Elefante, trazendo-os para casa sem que houvesse qualquer perda de vidas.
Foto: Falklands Maritime Heritage Trust e National Geographic
A expedição de busca, que envolveu cerca de 100 pessoas, partiu da Cidade do Cabo a 5 de fevereiro, num quebra-gelo sul-africano.
A expedição Endurance22 usou tecnologia de ponta, incluindo dois drones submarinos, para explorar a área, que Shackleton descreveu na altura como "a pior parte do pior mar do mundo" devido às suas condições de gelo.
Foto: Falklands Maritime Heritage Trust e James Blake
Nico Vincent, responsável pelo projeto subaquático, revela que “este foi o projeto submarino mais complexo já realizado, com vários recordes mundiais alcançados para garantir a deteção segura do Endurance. Tecnologias submarinas de última geração foram implantadas para alcançar este resultado”.
Estudos sobre alterações climáticas
A expedição não se cingiu à procura dos destroços do navio, tendo sido conduzidas centenas de horas de estudos relacionados com as mudanças climáticas.
Foto: Falklands Maritime Heritage Trust e Nick Birtwistle
Foram feitos estudos das derivas de gelo, das condições climáticas do Mar de Weddell, estudos da espessura do gelo marinho e foram capazes de mapear o gelo marinho a partir do espaço. “Combinados, esses importantes estudos ajudarão materialmente a nossa compreensão desta região remota e como ela influencia nosso clima em mudança”, refere o comunicado da Falklands Maritime Heritage Trust.
“Realizámos importantes pesquisas científicas numa área do mundo que afeta diretamente o clima e o meio ambiente global. Também realizamos um programa de divulgação educacional sem precedentes, com transmissão ao vivo a bordo”, refere John Shears, o líder da expedição.
“Não é tudo sobre o passado. Estamos a levar a história de Shackleton e Endurance para novos públicos e para a próxima geração, a quem será confiada a proteção essencial de nossas regiões polares e nosso planeta. Esperamos que nossa descoberta envolva os jovens e os inspire com o espírito pioneiro, coragem e fortaleza daqueles que navegaram Endurance para a Antártida”, acrescenta Mensun Bound, diretor da expedição.
Os restos do navio estão protegidos como Património Histórico e Monumento sob o Tratado da Antártida, garantindo que, enquanto o navio estiver a ser estudado e filmado, não será tocado ou perturbado de forma alguma.
c/Lusa