Navio Endurance de Ernest Shackleton descoberto ao largo da Antártida

por RTP
Falklands Maritime Heritage Trust e National Geographic

O navio Endurance do explorador Ernest Shackleton, que naufragou em 1915, foi descoberto ao largo da Antártida, no Mar de Wedell, a 3.000 metros de profundidade mas em bom estado de conservação. Na altura, Shackleton descreveu esta zona como "a pior parte do pior mar do mundo" devido às suas condições de gelo.

“Estamos muito emocionados por termos localizado e capturado imagens do Endurance”, disse Mensun Bound, diretor da expedição de exploração organizada pela Falklands Maritime Heritage Trust.

“Está muito orgulhoso no fundo do mar, intacto e em brilhante estado de conservação. Até se pode ver “Endurance” arqueado na popa. (…) Este é um marco na história polar”, refere Bound.

O navio foi descoberto a cerca de seis quilómetros do local do naufrágio, registado então pelo capitão Worsley e cem anos depois da morte do explorador Ernest Shackleton.

Em 1914, o explorador anglo-irlandês Ernest Shackleton embarcou no Endurance para a sua terceira viagem à Antártida. Planeava atravessar a região via Pólo Sul. Mas em 1915, o barco encalhou e afundou-se ao fim de 10 meses, esmagado pelo gelo.

Foto: Falklands Maritime Heritage Trust e National Geographic

A expedição tornou-se lendária por causa das condições de sobrevivência da tripulação. Eram 28 elementos e todos sobreviveram. Acamparam por meses no gelo antes deste derreter. Ernest Shackleton e seus companheiros partiram em pequenas embarcações para a ilha Elefante, ao largo da Península Antártida.

Da ilha, fizeram uma viagem de 1.300 quilómetros até à ilha de Geórgia do Sul, com o barco "James Caird", tendo chegado ao seu destino 16 dias depois, corria o ano de 1916. Shackleton terá montado uma operação para resgatar os homens que esperavam na ilha Elefante, trazendo-os para casa sem que houvesse qualquer perda de vidas.


Foto: Falklands Maritime Heritage Trust e National Geographic

A expedição de busca, que envolveu cerca de 100 pessoas, partiu da Cidade do Cabo a 5 de fevereiro, num quebra-gelo sul-africano.

A expedição Endurance22 usou tecnologia de ponta, incluindo dois drones submarinos, para explorar a área, que Shackleton descreveu na altura como "a pior parte do pior mar do mundo" devido às suas condições de gelo.


Foto: Falklands Maritime Heritage Trust e James Blake

Nico Vincent, responsável pelo projeto subaquático, revela que “este foi o projeto submarino mais complexo já realizado, com vários recordes mundiais alcançados para garantir a deteção segura do Endurance. Tecnologias submarinas de última geração foram implantadas para alcançar este resultado”.
Estudos sobre alterações climáticas
A expedição não se cingiu à procura dos destroços do navio, tendo sido conduzidas centenas de horas de estudos relacionados com as mudanças climáticas.

Foto: Falklands Maritime Heritage Trust e Nick Birtwistle

 Foram feitos estudos das derivas de gelo, das condições climáticas do Mar de Weddell, estudos da espessura do gelo marinho e foram capazes de mapear o gelo marinho a partir do espaço. “Combinados, esses importantes estudos ajudarão materialmente a nossa compreensão desta região remota e como ela influencia nosso clima em mudança”, refere o comunicado da Falklands Maritime Heritage Trust.


“Realizámos importantes pesquisas científicas numa área do mundo que afeta diretamente o clima e o meio ambiente global. Também realizamos um programa de divulgação educacional sem precedentes, com transmissão ao vivo a bordo”, refere John Shears, o líder da expedição.

“Não é tudo sobre o passado. Estamos a levar a história de Shackleton e Endurance para novos públicos e para a próxima geração, a quem será confiada a proteção essencial de nossas regiões polares e nosso planeta. Esperamos que nossa descoberta envolva os jovens e os inspire com o espírito pioneiro, coragem e fortaleza daqueles que navegaram Endurance para a Antártida”, acrescenta Mensun Bound, diretor da expedição.

Os restos do navio estão protegidos como Património Histórico e Monumento sob o Tratado da Antártida, garantindo que, enquanto o navio estiver a ser estudado e filmado, não será tocado ou perturbado de forma alguma.

c/Lusa
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