Lisboa, 10 Jul (Lusa) - A música portuguesa está a viver um período de grande criatividade e dinamismo no país, mas a divulgação nos meios de comunicação social continua a ser pouca, consideram músicos contactados pela Agência Lusa.
Para Pedro Rocha Santos, director do Portugal Jazz - projecto itinerante iniciado no ano passado para levar concertos de jazz às autarquias de todo o país - a música portuguesa "está, sem dúvida, a viver um bom momento".
"Há cada vez mais escolas de música, mais projectos experimentais e maior acesso à música através da internet", observa o também responsável pelo Jazz ao Centro Clube (JACC), que edita a revista jazz.pt, única publicação totalmente dedicada a este género musical no país.
Quanto à difusão nas rádios - obrigadas, segundo a nova lei, a dedicar pelo menos 25 por cento da sua programação à música portuguesa - Pedro Rocha Santos assinalou que "as guerras de audiências ditam que se oiça menos jazz, porque não é música de massas".
"O papel das rádios, dos jornais e das televisões é fundamental para a divulgação da música portuguesa, mas o espaço que lhe é dado é pouco. As rádios poderiam fazer mais, mas compreendo que também pese o factor comercial", observou o responsável.
Em Abril deste ano, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) garantia que 80 por cento das rádios cumprem as quotas mínimas de música portuguesa impostas por lei, mas a Confederação dos Meios de Comunicação Social, que representa 600 empresas do sector, contrapôs na mesma altura que esse cumprimento não é possível porque não há produção suficiente.
José Júlio Lopes, director artístico da OrchestrUtópica - projecto criado em 2001 dedicado à música portuguesa contemporânea erudita - afirma que falta criar um sistema coordenado de comunicação entre os "media" e os músicos para divulgar os projectos, "tal como já acontece na música mais comercial".
"A Antena 2 vai fazendo algum trabalho nesse sentido, mas é preciso criar um sistema organizado para essa divulgação e encorajamento da curiosidade das pessoas em conhecer outros géneros da música portuguesa", defende.
No entanto, considera que a música portuguesa desde 2001 - quando surgiram a OrchestrUtopica e o Remix Ensemble (na Casa da Música) - "vive uma grande pujança criativa, com cada vez mais compositores a surgirem e mais oportunidades para concertos".
"Portugal é um país pequeno, onde tudo acontece de forma desesperadamente lenta, e não há uma tradição de cultura musical como existe, por exemplo, na Alemanha. No nosso país, produzir um concerto é um grande esforço", disse, sugerindo que, a nível de apoios, "não tem de ser o Estado a fazer tudo, também as autarquias poderiam associar-se".
Rodrigo Amado, da área da música experimental/jazz e um dos comissários do Festival Música Portuguesa, Hoje, que vai decorrer entre sexta-feira e domingo no CCB, também entende que "as coisas não estão ainda como deveriam a nível da difusão pelas rádios".
"Talvez os 25 por cento sejam suficientes, mas não os sinto. Se passam música portuguesa é repetidamente e sistematicamente de um grupo restrito de artistas", critica.
Mas, por outro lado, concorda que a música portuguesa "está a viver actualmente uma fase muito boa, com muitos músicos de grande qualidade, novos projectos, e a apetência de grandes instituições para integrar músicos portugueses nas suas programações".
Se esta é uma "idade de ouro" da música portuguesa, "só o futuro irá confirmar, mas o público está preparado para conhecer mais e as próprias leis do mercado vão fazer com que tudo se altere", concluiu.
AG.
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