Museu de Arqueologia prevê iniciar escavações no interior em fevereiro - diretor
O Museu Nacional de Arqueologia (MNA), em Lisboa, prevê começar as obras de escavações arqueológicas no interior em fevereiro, seguindo-se o restauro das fachadas, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), revelou hoje a direção à agência Lusa.
De acordo com o diretor do museu, António Carvalho, o MNA, encerrado ao público em geral desde abril de 2022, deverá começar estas duas empreitadas do programa neste primeiro trimestre, e a terceira, de remodelação integral do interior do edifício, até ao final do primeiro semestre do ano.
"Vamos começar o programa de escavações arqueológicas dentro do museu, que é obrigatório por lei, e a seguir vamos também iniciar a empreitada da conservação das fachadas sul, norte e poente do MNA, na ala oitocentista do Mosteiro dos Jerónimos, que estão muito escurecidas, e precisam de uma operação de restauro", precisou, em entrevista à agência Lusa.
Na quinta-feira, o centenário espaço museológico que ocupa quase toda a fachada do Mosteiro dos Jerónimos voltada para a Praça do Império, em Belém, irá reabrir excecionalmente ao público para debater o programa museológico do futuro museu a recriar depois das profundas obras de remodelação.
O objetivo, segundo o diretor, é "ouvir preocupações, ideias e expectativas de todos os interessados neste projeto" cuja conclusão remeteu para a nova data em vigor prevista pela UE para a conclusão do PRR, prolongada de 2025 para 2026.
"O PRR é uma oportunidade única, e este tipo de intervenção é raro em Portugal", salientou à Lusa António Carvalho sobre o projeto que na última reprogramação, em março de 2024, destinou ao MNA um total de 32.692.636,60 euros (inicialmente eram 24,5 milhões de euros).
Para o encontro de partilha e debate de ideias, que decorrerá durante todo o dia, foram convidados vários profissionais e especialistas dos setores da arqueologia, da museologia, da gestão, da programação e da educação interessados no futuro do museu fundado em 1893 por iniciativa do arqueólogo e etnógrafo José Leite de Vasconcelos.
"Os convidados estarão no encontro como moderadores e para dar algumas respostas a eventuais questões do público", indicou o diretor do " museu dos territórios" do país, com 130 anos de existência e cerca de 7.000 peças inventariadas, muitas delas classificadas como tesouros nacionais.
"É preciso sublinhar que tudo isto acontece porque houve uma solidariedade europeia em resposta a um vírus. Se ela não existisse, não haveria este programa" do PRR, vincou.
Questionado sobre o atual ponto da situação do projeto, António Carvalho indicou que "até agora decorreu a preparação para a obra de grande dimensão, nomeadamente a desmontagem integral de todas as exposições, e a reinstalação dos serviços e das coleções noutros espaços interiores".
Todo o conteúdo "foi transferido do piso superior para a galeria poente, e foram desmontadas as exposições, com a remoção de vidros, pré-fabricados e das antigas museografias para que a obra de reconstrução comece", até ao final de junho, indicou.
Depois de lançadas as empreitadas das obras do PRR deverão seguir-se as fases de instalação, montagem e a abertura do museu, "processos completamente distintos, que vão culminar com uma nova realidade" naquele espaço com um acervo arqueológico de várias tipologias, desde a pedra, vidro, cerâmica, metal e livros provenientes de 3.178 sítios arqueológicos de todos os distritos do país.
Também foram montados laboratórios em oito contentores marítimos acoplados no exterior do edifício, com especialistas para controlar preventivamente o estado de conservação dos bens do acervo arqueológico.
António Carvalho e a sua equipa de 22 pessoas decidiram ficar no museu durante a obra para acompanhar todo o processo de perto: "Isso dá-nos uma segurança muito grande para gerir melhor o risco. Todos os dias estamos com os bens, todos os dias verificamos os ares condicionados, os desumidificadores onde se encontram os metais, ou a coleção egípcia".
"Esta presença é extremamente importante porque muitas vezes estas obras e algumas catástrofes andam a par. A obra potencia o risco. Foi o que aconteceu no caso da catedral de Notre Dame, em Paris", recordou, sobre o incêndio que deflagrou no monumento em 2019, durante obras de conservação, provocando graves destruições.
Embora o museu esteja encerrado ao público em geral há quase três anos, tem continuado a receber visitas organizadas de grupos de universidades e escolas, associações e organizações, com as quais quiseram manter o contacto.
"A montagem de uma obra, o desmantelamento de um museu e a sua transferência é tão fascinante que muita gente tem ficado encantada. Não é comum fazer isto a um museu nacional: desmontá-lo todo no seu interior e transferir esse conteúdo para outro espaço para ser remodelado", apontou.
Por ouro lado, foi mantida a cedência de peças para exposições em Portugal e no estrangeiro, com a co-produção de exposições, nomeadamente, "Energias. Perpétuo Movimento", no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, e "Idolos. Miradas Milenares", no Museu Arqueológico de Alicante, em Espanha.