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Museu da Marinha procura memórias e objetos da ação portuguesa na II Guerra Mundial

por Nuno Patrício - RTP
O Museu da Marinha dá a conhecer a atuação dos homens do mar portugueses, bem como as suas histórias, acompanhadas por alguns objetos da época. Foto: Museu da Marinha - DR

O Museu de Marinha está a preparar uma exposição com objetivo de dar a conhecer as ações realizadas por Portugal, no mar, durante a II Guerra Mundial. Apesar de o país não ter entrado na grande conflagração mundial, há relatos de algumas ações e salvamentos, realizados em condições difíceis, que perduraram até aos nossos dias.

Um espólio histórico - diários, cartas, fotografias, memória ou objetos relacionados com a história naval e marítima do país, sejam elas militares ou civis - que o museu acredita também existir entre os descendentes destes navegadores. E que gostaria de conhecer e poder partilhar com o público.

Com o objetivo de tornar a exposição mais enriquecedora, o Museu de Marinha vai estar aberto a todos os que queiram partilhar memórias ou objetos relacionados com estes episódios, entre os dias 18 e 20 de outubro, das 10h00 às 17h00.


Muitos dos objetos que o museu vai revelar ao público foram entregues a título individual ou coletivamente por parte dos intervenientes, como prova de gratidão pelas ações que decorreram durante o conflito bélico, entre 1939 e 1945. Sob o tema “Salvando vidas no mar” e dentro das comemorações dos 80 anos do fim da II Guerra mundial, o Museu da Marinha tem como principal objetivo divulgar a atuação dos homens do mar portugueses, e de dar a conhecer estas histórias, acompanhadas por alguns objetos da época, muitos deles diretamente ligados com os acontecimentos ocorridos, nomeadamente oferendas.

São exemplo disso duas salvas de prata oferecidas ao então comandante do contratorpedeiro Lima, Sarmento Rodrigues. Ou uma condecoração oferecida pela Alemanha nazi ao capitão do Porto da Horta pelo apoio a um tripulante do submarino U-XXX, que conseguiu evitar ser capturado pelos Britânicos, que chegou a nado à ilha do Pico.

Desta forma pretende-se enriquecer a historiografia portuguesa e conhecer a importância dos espólios que se encontram com particulares.

Caso tenha algum objecto ou material que conheça ter feito parte da história naval e marítima de Portugal vá até Museu de Marinha, no próximo fim de semana, ou envie um e-mail para: salvamentosww2@marinha.pt

Para saber mais pode também consultar o site do Museu da Marinha em: https://cultura.marinha.pt/.../Salvando-vidas-no-mar.aspx
Portugal no mar durante a II Guerra
Durante a II Guerra Mundial, foram vários os países europeus que conseguiram permanecer fora do conflito, mas nenhum ocupava a posição estratégica de Portugal no Atlântico.

A sua maior proximidade ao continente americano e as suas ilhas atlânticas – Açores, Cabo Verde e a Madeira – levaram Aliados e países do Eixo a criar planos para a sua possível conquista.

Efetivamente, após a queda da França e até ao verão de 1941, quando Hitler invade a Rússia, a Alemanha planeou a operação Fénix que previa a captura de Gibraltar e, também, o território de Portugal continental. O ditador alemão tinha igualmente planos para a captura de um ou mais dos arquipélagos atlânticos portugueses.


Já os aliados, em especial os ingleses, chegaram a ter forças navais e terrestres posicionadas para a ocupação de Cabo Verde e dos Açores. Como é comumente conhecido, só a partir de 1943 é que Salazar deu facilidades aos Aliados para utilizarem os Açores, num momento em que a importância estratégica do arquipélago estava mais ligada ao pós-guerra, do que na célebre Batalha do Atlântico.

Este evento, que é mais uma campanha do que uma batalha, era especialmente marcante para todos os que tinham a necessidade de utilizar os oceanos. 

Efetivamente, milhares de pessoas - homens, mulheres e crianças, para além dos militares – viam-se obrigados a navegarem em navios de países beligerantes. E faziam-no em alvos legítimos, apesar da ampliação dos horrores da guerra submarina efectuada pelos serviços de propaganda de ambos os lados, naturalmente com objetivos diferentes.

Contudo, a guerra também ameaçava os navios neutrais. E, mesmo que não fosse avistado nenhum submarino beligerante, o simples avistamento de destroços resultantes desses afundamentos, algo que era comum, era mais do que suficiente para relembrar os perigos a que estavam sujeitos.

Outras vezes, os navios neutrais eram parados em alto mar e inspecionados chegando, por vezes, a serem retiradas pessoas, apenas por serem das nações beligerantes. Outras vezes, os navios eram desviados para certos portos, nomeadamente Gibraltar, onde a carga era detalhadamente verificada, para verificar se não transportavam contrabando. Por exemplo, os britânicos tinham fortes suspeitas que os navios portugueses transportavam diamantes clandestinamente desde Angola, ou correspondência dos territórios em África sem ter passado pela habitual censura.

Apesar de todas estas dificuldades, a posição atlântica de Portugal foi importante para servir como ponto de passagem – marítima e aérea – entre uma Europa em guerra e o Novo Mundo. Ou seja, entre a guerra e a segurança. Curiosamente, durante a II Guerra Mundial e apesar da censura estabelecida em Portugal, são diversas as referências que encontramos nos jornais e revistas da época à presença dos meios navais da Armada, em vários oceanos. Mas, também, do salvamento de náufragos vítimas da guerra no mar.

Naturalmente que a maioria das referências surgiam nos meios portugueses, mas igualmente em publicações editadas pelos beligerantes, embora com fins distintos.

Nas publicações nacionais e anglófonas, as notícias habitualmente enalteciam os salvamentos, enquanto as germanófilas mencionavam o perigo que era navegar em tempo de guerra, com o objetivo de tentar evitar que os portugueses navegassem nos navios aliados.

E se para o período da guerra é profícua a bibliografia que aborda o papel de Portugal no trânsito de refugiados de toda ordem para a salvação do outro lado do Atlântico, o mesmo já não acontece no importante papel que o país teve no salvamento daqueles que tiveram o infortúnio de se verem atirados ao mar.

Uma missão realizada não apenas no Atlântico, mas, em especial, também no Índico e, em particular, na costa de Moçambique, por meios nacionais – militares e civis.

Entre 1943 e 1945, Portugal salvou, direta ou indiretamente, cerca de seis mil pessoas do mar, de 12 nacionalidades diferentes de náufragos da morte, independentemente da nacionalidade.

Outros houve menos conhecidos, realizados por navios da Marinha Mercante ou de pesca, mas que importa também dar a conhecer.

Créditos: Museu da Marinha - Direitos Reservados

Com o principal objetivo de divulgar a actuação dos homens do mar portugueses e de dar a conhecer estes episódios, o Museu de Marinha irá expor aos seus visitantes estas histórias, acompanhadas por alguns objetos da época. Preferencialmente aqueles que estejam diretamente ligados com os acontecimentos ocorridos, nomeadamente oferendas.

No decorrer desta iniciativa de portas abertas, o Museu de Marinha está a preparar uma exposição em 2025 com objetivo de dar a conhecer as atividades e ações realizadas por Portugal no mar durante este conflito mundial.

Assim o museu pede a todos aqueles que queiram partilhar memórias ou objetos relacionados com estes episódios que apareçam e façam também parte da memória presente e futura da intervenção portuguesa nos nossos mares, durante o conflito da II Guerra Mundial.
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