Sara Barriga Brighenti não tem um percurso linear, o que constitui uma característica da sua vida: "procurar sempre aquilo que posso fazer de novo, e aquilo que posso fazer melhor".
A mãe de uma colega de escola, que trabalhava na Fundação Calouste Gulbenkian, oferecia-lhes bilhetes para assistir aos ensaios gerais da Companhia de Dança. Ver dança contemporânea formou o seu olhar, juntamente com as outras visões do mundo possíveis que os professores e colegas da António Arroio lhe deram.
Em 1997, uma bolsa Erasmus leva-a a Bruxelas – uma cidade cosmopolita efervescente, com uma enorme e variada oferta cultural – ali desdobra os estudos por duas escolas: a francófona La Cambre e outra flamenga, onde encontrou docentes que tinham um pensamento sobre a cultura muito perto daquilo que a própria Sara queria explorar.
O seu trabalho foi uma intervenção numa casa desocupada da cidade de Bruxelas, reflectindo sobre o que significa o “desinstalar famílias” de casas.
“Essas famílias tinham saído do bairro, porque aí ia ser construído o bairro europeu, todo o conjunto de edifícios para a Comunidade Europeia, mas finalmente não foram usadas e foram abandonadas. Então esta ideia da intimidade que foi desapropriada do seu lugar, este lugar de memórias em que nós sentimos a presença das pessoas, mas que, efectivamente, já lá não estão, era o que de facto me interessava explorar. E entre a escola La Cambre, em que eu tenho oficinas extraordinárias, em que eu trabalhava serigrafia porque me interessava muito trabalhar os têxteis por esta ideia presença/ ausência – e na escola flamenga em que tinha uns tutores que me deram a conhecer artistas e me ajudaram a formar este pensamento e a escrever este conceito do trabalho – eu consegui o melhor dos dois mundos.”
É convidada para pensar o serviço educativo do Museu Casa das Histórias Paula Rego com o objectivo de educar para a cidadania, para formar indivíduos criativos e com massa crítica.
Aproximar os públicos e a cultura, aproximar os públicos e os museus, leva a um inesperado e até misterioso convite…
O resultado foi um museu tecnológico, multimédia, com o projecto de museografia a cargo do designer Francisco Providência, longe do clássico museu de vitrines. Sara Barriga Brighenti foi directora do Museu do Dinheiro, sendo responsável pela instalação do museu, pelo plano de exposições, edições, e muito mais.
Na Conferência do Porto Santo, em 2021, foi elaborada a Carta do Porto Santo como um mapa orientador de princípios e de recomendações para aplicar e desenvolver um paradigma de democracia cultural na Europa. A Carta dirige-se a decisores políticos europeus; às organizações e instituições culturais e educativas; e aos cidadãos europeus, para que se responsabilizem pelo horizonte cultural comum.
Outra figura importante é, naturalmente, Paula Rego.
Enquanto professora, ou free lancer nunca se sentiu discriminada, mas mais tarde, quando assumiu lugares de liderança, e quando muda para o contexto do mundo da economia e finança, sente, pela primeira vez, de uma maneira mais óbvia, que existem diferenças de oportunidades entre mulheres e homens.
Mas acrescenta:
“Para ser justa, também, é qualquer coisa que as instituições estão a tentar procurar alterar, mas há um grande trabalho a fazer. E, não queria circunscrever a igualdade de oportunidades na diferença entre homens e mulheres, mas também de pessoas de origens muito diferentes, com deficiência ou sem deficiência. Numa perspectiva de igualdade há ainda um mundo a transformar.”
A voragem de um trabalho que não tem fins-de-semana – tudo isto é um entusiasmo, tudo isto se faz com imenso sentido de missão, de gosto – mas também tudo isto nos coloca a questão de sabermos se estamos a saber fazer bem esta divisão entre vida pessoal e profissional.
Eu vivo com um artista plástico, com um pintor, para um artista também não existe diferença entre o mundo pessoal e o mundo profissional. As minhas filhas já nasceram neste contexto, e eu acho que nós tentamos fazer de todos, momentos felizes - nem sempre conseguimos.
Mas, talvez, nestes mundos de missão, em que o trabalho é uma missão, essa diferença seja mais esbatida, e passa a ser uma forma de estar no mundo, e não uma diferença entre dois mundos.”
Numa vida impregnada de arte, não admira que o teatro, o cinema, a leitura, e o desenho façam parte dos seus tempos livres, bem como estar na natureza, e não fazer nada! Na leitura destaca o gosto por histórias de vida, biografias, seja ficções, ou não.
O seu mote de vida inscreve-se no optimismo que a move e lhe dá energia. Sendo uma pessoa optimista, entende os obstáculos que a vida lhe coloca como desafios.
“Eu tenho de ser capaz de amanhã fazer melhor, mesmo que seja mais difícil, mesmo que as circunstâncias não sejam favoráveis, mas é um mote de esperança de que eu vou ser capaz.”