Mulheres que Contam. Joana Peixoto Amil

por Silvia Alves - RTP

Joana Amil, veterinária e fotógrafa, percebeu cedo que queria trabalhar com animais selvagens na vertente da conservação, uma área que o seu curso não aborda muito.

Foi em busca das suas próprias oportunidades. Passou pelo Grupo Lobo, na Malveira, onde se situa o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, seguiu para o Algarve para o Centro de Reprodução do Lince Ibérico.
 
Pelo meio fez um estágio numa clínica de cães e gatos.

Joana Amil queria conhecer outros sítios e, claro, outros animais. Numa área em que um dos maiores obstáculos é a falta de oportunidades, é necessário investir poupanças para fazer currículo.

"De vez em quando olho para anúncios de emprego nessas áreas, 80% são voluntariados, e alguns até pedem dinheiro para os próprios projectos, o que eu acho ainda mais perverso. A nível internacional, sim, sobretudo em África, América Latina, e sudoeste asiático também."
Foi no Gabão com a Aspinall Foundation que encontrou oportunidade de fazer voluntariado e, depois, ser contratada.
 
Esta fundação recupera gorilas resgatados de tráfico, órfãos, crias nascidas em cativeiro – tem zoos em Inglaterra. Os animais são recuperados em plena floresta, com o mínimo contacto humano, até se habituarem às condições naturais. A recuperação/ renaturalização pode durar até 10 anos, não é muito diferente de criar um ser humano.

Esta aventura que Joana Amil viveu durante mais de um ano, foi apenas interrompida por um acontecimento insólito.
Um jovem gorila, o Rafa, queria acrescentá-la ao seu grupo de fêmeas e "raptou-a".

Se os chimpanzés comem carne, são mais violentos, caçam e se organizam para caçar, já os gorilas são mais pacíficos, são herbívoros. A única proteína animal que comem são formigas, e não nadam. O que acabou por salvar a veterinária de consequências mais graves.
Como sentido de posse e pertença, Rafa mordeu-lhe a cabeça.
 
Uma clavícula partida, várias costelas partidas e outras lacerações depois, Joana Amil percebeu que o Rafa não fez por mal, que não lhe queria fazer mal. Como gorila órfão não aprendera a lidar correctamente com as “damas” dos seus afectos. Era um jovem adolescente. E, por isso, a veterinária não ficou com um trauma por tudo o que aconteceu.

Quando finalmente foi resgatada, depois de horas passadas no meio de um lago, agarrada a um arbusto, Rafa permaneceu na margem chamando por ela.

A viagem até Libreville, depois Paris para, finalmente, embarcar para Lisboa foi uma aventura só por si. Joana Amil recuperou em pleno e regressou ao Gabão, para terminar uma estadia de mais de um ano, sem medo.

"Aquilo também foi um momento de viragem na minha vida que me fez crescer e aprender muita coisa e viver doutra forma. Arriscar mais, sem ter medo."
Com um curso de fotografia tirado na ArCo, África ofereceu-lhe o cenário ideal para fotografias mágicas.

Do isolamento da vida no Parc National des Plateaux Batéké, Joana Amil regressou para o confinamento durante a pandemia. Aproveitou o tempo para aprender e dedicar-se a costurar para si própria e para outros.
A veia artística também lhe vem, decerto, do pai, José Peixoto, um músico que a própria considera genial. O guitarrista dos Madredeus e Lisbon String Trio, entre muitos outros projectos, partilhou generosamente algumas composições suas que neste episódio acompanham Joana. Para nós não é um mero suporte musical.

Joana Amil não vive sem música e sem livros. Dos seus gostos pessoais destacamos:
- Renascer, Susan Sontag 
- Contos do Pacífico, Jack London 
- Orlando, Virginia Woolf 
- Livro do Desassossego, Fernando Pessoa 
- Crónica de uma Morte Anunciada, Gabriel García Márquez


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